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Mariana Baraj: percussão surgiu aos 19 anos, ao ver o irmão mais novo tocar bateria. Ano passado, argentina lançou Churita, seu último disco de estúdio | Viccky Aranda/Divulgação
Mariana Baraj: percussão surgiu aos 19 anos, ao ver o irmão mais novo tocar bateria. Ano passado, argentina lançou Churita, seu último disco de estúdio| Foto: Viccky Aranda/Divulgação

Opinião

Nos embalos de sábado à tarde

Cristiano Castilho, repórter do Caderno G

Toalhas desfilando seu xadrez de piquenique. Crianças no cangote dos pais, balançando os pés, ainda que em descompasso. Pais bebericando latinhas de cerveja. Barracas vendendo petiscos e três opções de vinho em taça. Um palco grandioso, um São Pedro de bom-humor e música de primeira. Tudo isso na rua e de graça.

A primeira edição do Nu Jazz Festival Curitiba ‘10 deu outros ares à capital paranaense no último fim de semana. Era tarde de sábado, e um palco montado à Rua Silveira Peixoto, na altura do Full Jazz Hotel, entranhas do Batel, recebeu Helinho Brandão & Banda, Robertinho Silva, Kátia Drumond & Ricardo Verocai M.U.V, Azymuth e Arthur Verocai.

Senhores desciam de seus apartamentos, com ar de surpresa, tentando entender o que acontecia ali, enquanto adolescentes conversavam ao som da música instrumental de primeira linha. A apresentação, que começou às 17 horas, reuniu público de todas as idades e provou existirem, sim, consumidores para boas ideias.

Helinho Brandão sobrou. Tocou seu vasto repertório em quase duas horas. Depois deu vez aos outros convidados, que destilaram uma espécie de soul jazz que calhou com a noite que chegava. Idealizado pelo empresário Fernando Macedo, o evento que se encerrou no domingo com apresentação no Jardim Botânico também comemorou os 20 anos da Fundação O Boticário de Proteção à Natureza.

Outra carta na manga, nesses moldes, foi o que fez Arlindo Magrão, proprietário D’O Torto Bar. O Quadra Cultural já "fechou" a Rua Paula Gomes por duas vezes, criando uma verdadeira festa ao ar livre.

Em tempos em que Curitiba fica à margem de grandes shows internacionais e peca na infra estrutura quando os realiza – haja vista o sem número de bandas que passam pelo Brasil neste segundo semestre, nenhuma delas por Curitiba, e os problemas relatados no show da banda alemã Scorpions, semana passada –, é uma solução criativa promover eventos na rua, para todos. Forma-se público, promovem-se músicos e espaços e cria-se um ambiente otimista.

A argentina Mariana Baraj conhece Curitiba muito bem. Em 2009, entre uma e outra aula que ministrava durante a Oficina de Música, se apresentou no Teatro Guaí­­ra com o grupo America Con­­temporânea. Meses depois, esteve no Teatro da Reitoria, para apresentação em duo com o pianista, compositor e arranjador Benjamin Taubkin. Foi muy hermoso, relembra a argentina. A cantora e percussionista volta à cidade hoje, às 20h30, quando se apresenta no Teatro da Caixa pela série Solo Música.

Reforçando a essência do projeto, a musicista será a dona do palco. Ao seu lado, apenas um set de percussão e um microfone. "Serão músicas de raiz, al­­gumas folclóricas. Outras sobre o amor. E o desamor, também", explica a portenha. A temática latino-americana surge então em diferentes canções, que compõe seus quatro discos lançados – o último é Churita, primeiro somente com composições próprias. A fusão de estilos andinos e latino-americanos com sua raiz "pampeira", inseparável, também define Ma­­ria­­na como uma boa representante da música popular argentina contemporânea.

Característica singular, no en­­tanto, é encontrar em Mariana uma cantora percussionista – ou vice-versa. Os batuques surgiram ao ver o irmão mais novo bater em pratos e caixas. Ele é baterista profissional. "Canto desde chica, e a percussão surgiu depois, lá pelos meus 19 anos. Fui incorporando primeiro a ba­­teria e, depois, outros instrumentos àquilo que eu cantava", diz Ma­­ria­­na, que estudou canto com Li­­lia­­na Vitale, Gabriela Torres, Iris Guiñazú, Nora Faiman e Mirta Braylan; e percussão com Pocho Porteño, Horacio Lopez, Andrea Alvarez, Norberto Mi­­ni­­chilo, Carlos Rivero e Facun­­do Guevara.

No concerto, não faltará espaço para experimentações. Mas, para se dar bem soltando a voz e mexendo braços e pernas, não há segredo: "basicamente tem a ver com a prática. Eu toco todo dia", conta a musicista.

Também estarão em cena hoje vários instrumentos de origem argentina, como o bombo legüero, muito utilizado pelos mú­­sicos que acompanham a cantora Mer­­cedes Sosa, por exemplo. O tamborzinho é produzido a partir de um tronco de árvore, revestido com pele de animais – geralmente cabras – e seu nome remete à distância em que pode ser ouvido: cerca duas léguas, ou quase cinco quilômetros.

Mas Mariana promete "tocar baixinho". Outros instrumentos de origem açoriana, tambores brasileiros e alguns de características melódicas completam o set. "Sou admiradora da música feita no Brasil e creio que aquilo que faço está absolutamente ligado a ela. A percussão também tem uma importância fundamental para a música brasileira", diz a argentina.

Discografia e prêmios

Mariana Baraj tem quatro discos solo: Lumbre (2002), Deslumbre (2005), Margarita y Azucena (2007) e Churita (2010). A artista tem, ainda, participações especiais em discos de Aristimuño Lisan­­dro, Horacio Gómez, Liliana Herrero, Pepi Taveira Cuarteto, Nuria Martinez, Cláudia Puyó e Bernardo Baraj Quinteto, entre outros argentinos. Fez turnês pela Argentina, Brasil, Espanha, Japão, Alemanha e Eslovênia e, de quebra, dirige em companhia de seu irmão, Marcelo Baraj, o Cantaloop, espaço em Buenos Aires de expressão musical para crianças e adultos.

A artista foi indicada por duas vezes ao Prêmio Gardel – o mais importante da música argentina. Em 2005, foi contemplada com o Prêmio Clarin, na categoria Revelação em Música Folclórica.

Serviço:

Série Solo Música – Mariana Baraj. Teatro da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280), (41) 2118-5111. Dia 28 às 20h30. R$10 e R$5. Na internet: www.myspace.com/marianabaraj – www.marianabaraj.com.ar

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