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O violonista e arranjador Mario Adnet: “Manter viva a música em que eu acredito é um resgate de mim mesmo” | Divulgação
O violonista e arranjador Mario Adnet: “Manter viva a música em que eu acredito é um resgate de mim mesmo”| Foto: Divulgação

"De pijama e com um violão na mão"

Mario Adnet conta que conheceu Tom Jobim em 1978. "Eu conhecia os filhos dele, o Paulo e a Beth, por amigos em comum, e um dia a Beth me levou na casa do pai dela pra eu conhecê-lo. Ele abriu a porta de pijama e com um violão na mão. Eu fiquei tremendo na base", conta rindo.

O contato que teve com o maestro não foi musical até 1984, quando a irmã de Adnet, Maucha,foi convidada a participar da Banda Nova e viajar em turnê com Jobim. "Nessa mesma época, gravei a minha primeira fita demo. Uma das músicas era um arranjo que fiz para ‘Maracangalha’, do Caymmi, e a Maucha, em uma noite em Nova York, levou a demo para Tom ouvir. Ele ficou encantado com o arranjo e passou a me escrever sempre, dizendo que queria gravar comigo."

Jobim, ao final, acabou gravando o arranjo de Adnet no disco Antonio Brasileiro, o último antes de sua morte, em 1994. "Ele sempre falava de mim quando ia tocar a música ao vivo. Foi muito generoso e me ajudou bastante quando eu estava começando, me indicando trabalhos. Quando estávamos engrenando em uma parceria boa, ele morreu", lembra Adnet.

Opinião

Em 1995, o saxofonista norte-americano Joe Henderson lançou o maravilhoso álbum Double Rainbow: The Music of Antonio Carlos Jobim, com versões jazz para algumas das principais músicas de Tom.

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Quatro anos após lançar o seu primeiro tributo ao compositor e maestro Tom Jobim em arranjos jazzísticos, o violonista e arranjador carioca Mario Adnet volta ao tema para fazer um segundo volume. Em + Jobim Jazz, lançado pela Biscoito Fino, Adnet explorou, assim como no disco anterior (intitulado apenas Jobim Jazz), as brechas – propositais – na música de Tom para o improviso. Desta vez, porém, arriscou em canções mais conhecidas, como "Boto", "Wave" e "Samba do Avião". O arranjador não se preocupou com uma possível saturação dos temas: "Quando você mexe com um compositor muito conhecido a gente corre o risco do desgaste. Muita gente não quer pegar canções eternizadas, temendo que isso possa afetar a memória da música. Mas isso é só aqui no Brasil que acontece. Em outros lugares, os clássicos são gravados e regravados à exaustão".Adnet conta que seu objetivo principal em + Jobim Jazz foi realçar as sonoridades na música de Tom: "Eu queria ouvir o Jobim com cores mais fortes. A gente está acostumado a ouvir o Jobim com muita flauta e muita corda, quase como uma aquarela. Eu quis colocar um pouco mais de África, de peso na cozinha, e cores mais fortes nas melodias e contrapontos". Para isso, o violonista utilizou timbres pouco usuais na bossa nova, como o saxofone e a trompa: o tipo de música na qual vinha trabalhando desde que passou a se dedicar a estudar a obra de Moacir Santos, segundo conta na apresentação do encarte.

No texto, Adnet lembra que baseou os arranjos do primeiro e do segundo disco na sonoridade de Santos quando este descobriu a formação de dez músicos usada pelo saxofonista Gerry Mulligan no disco Gerry Mulligan: Tentet e Quartet, de 1953. Inspirado por essa formação, de um baixo, uma bateria e oito sopros – entre palhetas e metais – Moacir Santos gravou o seu primeiro álbum, Coisas, em 1965. "Zé Nogueira e eu nos baseamos na formação do Coisas para gravar o Ouro Negro [disco de tributo ao compositor]", diz no texto. "Eu tenho a impressão de que Jobim fugia do saxofone por uma questão de timbre ácido. Mas no Moacir eu aprendi a ver uma doçura na escrita do instrumento. Aí usei a trompa, por exemplo, que dá uma boa liga entre o saxofone e os metais", comenta sobre o que escreveu.

Não foi, porém, uma escolha de repertório aleatória que deu corpo para + Jobim Jazz. Adnet, que também é pesquisador, debruçou-se sobre 40 anos da carreira de Jobim para achar as músicas que melhor combinassem com sua proposta: "Procurei coisas que seriam curiosas sim, mas que soassem bem com esse tipo de arranjo. Deparei-me com músicas lindíssimas que simplesmente não combinavam com o projeto".

Por fim, o arranjador conta a importância que esse tipo de trabalho e pesquisa tem para sua carreira: "A minha diferença pra um historiador é que eu posso experimentar a música. O que eu faço na minha carreira é manter viva e ao meu lado toda a música em que eu acredito. É um resgate de mim mesmo".

Serviço:

+ Jobim Jazz, de Mario Adnet. Biscoito fino. Preço Médio: R$34,90.

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