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Em 2010, Sérgio Rodrigues foi convidado para refazer o mobiliário do Teatro do Paiol. O resultado carrega seu estilo: simples, contemporâneo e muito brasileiro | André Rodrigues/Gazeta do Povo
Em 2010, Sérgio Rodrigues foi convidado para refazer o mobiliário do Teatro do Paiol. O resultado carrega seu estilo: simples, contemporâneo e muito brasileiro| Foto: André Rodrigues/Gazeta do Povo

Trajetória

Sérgio Rodrigues não perdia uma oportunidade de vir a Curitiba. Confira datas marcantes:

• 1927 – Nascia Sérgio Rodrigues, no Rio de Janeiro.

• 1951 – Ajudou a projetar o Centro Cívico de Curitiba.

• 1953 – Inauguração da Móveis Artesanal Paranaense.

• 1955 – Sérgio volta ao Rio de Janeiro e abre a OCA.

• 1961 – A poltrona Mole é premiada na 4ª Bienal Internacional do Móvel em Cantu, na Itália.

• 1999 – Gisele Schwartsburd abre a LinBrasil.

• 2002 – Lançou o livro Sérgio Rodrigues, de Maria Cecília Loschiavo, em uma palestra na UTFPR.

• 2010 – Foi palestrante na abertura da exposição Os Modernos Brasileiros + 1, no MON.

• 2010 – Inaugurou o mobiliário do Teatro do Paiol no Hora da Prosa, com Georgia Hauner.

• 2013 – Apresentou seus móveis na exposição Sérgio Rodrigues – Um Designer dos Trópicos, na Caixa Cultural de Curitiba.

• 2014 – Participou da exposição Tupi or Not Tupi, no MON.

  • Sérgio Rodrigues e a mini:Brasil: mobilário em tamanho seis vezes menor
  • A poltrona Sheriff foi uma das primeiras produzidas e está na sala do arquiteto e ex-governador Jaime Lerner

Reconhecido e premiado mundialmente, o arquiteto e designer Sérgio Rodrigues (1927-2014), morto no início deste mês, criou móveis marcantes, carregados de traços culturais, e foi um dos principais responsáveis por colocar o Brasil no cenário mundial do design. Sua história é conhecida por muitos, mas nem todos sabem da importância que Curitiba teve em sua trajetória.

Carioca, sua primeira passagem pela cidade foi em 1951, graças ao convite do arquiteto David Azambuja, seu professor, para fazer o projeto do Centro Cívico, no governo de Bento Munhoz da Rocha Neto (1905-1973). À época, ele cursava o quinto ano de Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes e acabou fazendo parte da equipe com Azambuja e os arquitetos Olavo Redig de Campos (1906-1984) e Flávio Régis do Nascimento. Sérgio ficou responsável pelo Palácio das Secretarias, um prédio com 30 pavimentos que, devido a problemas de mão-de-obra e dificuldades com o suprimento de materiais de construção, acabou com 11 andares e se tornou o Palácio da Justiça.

Foi graças a essa passagem pela capital paranaense que Sérgio conheceu Carlo Hauner (1927-1997), dono da Móveis Artesanal, em São Paulo, e passou a seguir sua real vocação, já que "o negócio dele, de verdade, era o mobiliário", como afirma Maria Cecília Loschiavo, professora da USP e biógrafa do designer. Sérgio tinha interesse em comercializar móveis modernos em Curitiba, e sugeriu que Hauner vendesse os produtos da empresa de São Paulo aqui. Em 1953, inaugurava a Móveis Artesanal Paranaense.

Cecília explica que ele sempre gostou de trabalhar com madeira, e considerava o patrimônio madeireiro do Paraná muito forte e representativo. Assim, em Curitiba ele tinha a matéria prima e a mão-de-obra necessárias, e grandes esperanças de lançar seu estilo. Mas a comercialização fracassou. "O Sérgio sempre esteve à frente de seu tempo. Na Móveis Artesanal Paranaense ele propôs um design moderno que ainda não estava muito difundido, não teve sucesso comercial, e acabou direcionando sua obra para o Rio de Janeiro", conta a biógrafa.

Lá, suas peças foram mais bem-aceitas e Sérgio Rodrigues começou a ganhar destaque nacional e depois mundial, em 1961, ao receber o primeiro prêmio da 4.ª Bienal Internacional do Móvel em Cantu, na Itália, com a poltrona Sheriff (conhecida como Mole). Mesmo tendo fixado residência no Rio, acabou retornando a Curitiba graças à empresária Gisele Schwartsburd. A curadora Consuelo Cornelsen conta que Gisele visitou uma exposição de cadeiras em 1999, se deslumbrou com o trabalho de Sérgio e quis colocá-lo no mundo: "já que ninguém faz, faço eu". Assim, surgiu a LinBrasil, empresa com sede em Curitiba que é detentora dos direitos de produção e comercialização dos móveis de Sérgio Rodrigues.

De perto

Gisele conta que, por causa da reedição, ele vinha a Curitiba pelo menos uma vez por ano, e participava de todo o processo de montagem e comercialização dos móveis. "Ele aprovava os protótipos e acompanhava tudo de perto, pois eram seus projetos." Nada era produzido sem sua supervisão. Além disso, junto com seu sobrinho Lucas Bond Schwartsburd, Gisele criou a linha Sérgio Rodrigues em miniatura, mercado inédito no Brasil, por meio da mini:Brasil. "Importamos as máquinas necessárias e hoje desenvolvemos verdadeiras joias de madeira que estão fazendo muito sucesso e são um modo incrível de valorizar o design brasileiro e o trabalho do Sérgio", conta Lucas.

Com essas parcerias, Sérgio Rodrigues passou a visitar Curitiba com frequência. A professora Mariuze Mendes, da UTFPR, conta que ele sempre foi acessível para palestras em instituições públicas. "Nas vezes em que veio à cidade para alguma exposição ou lançamento, Sérgio se ofereceu para falar com os alunos de Arquitetura e Design. Era sempre muito aberto, mostrava seu trabalho com humildade e se aproximava dos estudantes", lembra a professora.

Sua presença nos museus curitibanos se deve principalmente à curadora Consuelo Cornelsen, que trouxe seu trabalho para o Museu Oscar Niemeyer duas vezes: na exposição Os Modernos Brasileiros + 1, em 2010, e neste ano, na Tupi or Not Tupi. Sérgio Rodrigues só teve uma exposição individual em Curitiba, na Caixa Cultural, em 2013. Sérgio Rodrigues – Um Designer dos Trópicos traçou um panorama da obra do profissional, propondo ao público uma releitura dos seus móveis.

Uma importante herança do designer na cidade é o mobiliário do Teatro do Paiol, idealizado por ele e inaugurado em 2010. As cadeiras são feitas com madeira certificada e o assento é recoberto com couro natural, preservando seu estilo brasileiro. O arquiteto e ex-governador Jaime Lerner afirma que o resultado foi de uma singeleza e de uma qualidade excepcionais. Para Consuelo, o mobiliário valoriza o trabalho do designer. Ela defende que Curitiba está completamente associada a seu sucesso e que ele deixou uma forte marca na cidade e na vida dos curitibanos.

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