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Com ajuda da rabeca, feita pelas próprias mãos, Aorélio Domingues ensina o bater do fandango: alunos e convidados se apresentarão em baile hoje à noite | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Com ajuda da rabeca, feita pelas próprias mãos, Aorélio Domingues ensina o bater do fandango: alunos e convidados se apresentarão em baile hoje à noite| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Modismo ou (re)valorização?

Expansão da cultura popular, formação de grupos diversos que estudam, tocam e se dedicam a gêneros quase esquecidos por muitos. O fenômeno é recorrente entre jovens universitários brasileiros.

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Nos tempos de criança de Aorélio Domingues, o bater do fandango surgia como consequência de festas de aniversário ou como destino final de casais que acabaram de dizer "sim". Na Ilha dos Valadares, pequena porção de terra a meio quilômetro de Paranaguá, litoral do Paraná, Domingues aprendeu a diferenciar os vários estilos da música e a construir instrumentos com seu avô.

Hoje o músico está em Curitiba. No baile das 22 horas deste domingo, no Aoca Bar, estará ao lado de alguns de seus mestres – que vieram especialmente para o baile – e de seus alunos, que o acompanharam por cinco dias e tiveram dez horas de aula sobre uma das expressões culturais mais típicas do Paraná.

Pela quinta vez consecutiva na Oficina de Música de Curitiba, Domingues traz o fandango nas costas: a rabeca, a viola e o adufo (instrumento de percussão) sugerem olhares curiosos aos dez inscritos no curso. O interesse pelo ritmo e a divulgação da arte caiçara torna-se um alento, já que o fandango foi "empurrado" para áreas afastadas ao decorrer dos séculos.

"Em princípio, por causa da ‘lascividade’ causada aos olhos dos intelectuais. Depois, a manifestação começou a ser proibida pelo barulho, pela bagunça que causava. Aí veio a guerra, que tirou muita gente do seu lugar de origem; e, por último, a religião, que converteu muitos mestres tocadores, que hoje nem conhecem mais a palavra fandango", disse Domingues, de 30 anos.

Novo momento

Hoje são sete os grupos de fandango em Paranaguá e três deles ainda fazem os tradicionais bailes na Ilha de Valadares. Há o fandango para turistas, feito em grandes salões de Paranaguá. Mesmo que a viola artesanal tenha ganhado um amplificador moderno, e o couro de cachorro-do-mato do adufo tenha sido substituído por material sintético comprado em lojas de Curitiba, para Domigues o fandango ainda é o mesmo. "A necessidade de amplificação para um público maior é a única caraterística que foge do tradicional. Ele continua sendo o mesmo na estrutura e na forma de cantar", explicou.

E o que desperta o interesse pelo ritmo folclórico que data do século 17? Para Domingues, uma meta. "Noto a carência que o paranaense tem com a sua própria cultura. Há também professores que vêm conhecer o fandango para levá-lo à sala de aula, mas o que os alunos mais buscam é esse repasse da indentidade," disse o músico, que também participa da associação Mandicuera.

A entidade existe há quatro anos e divulga o fandango e outras vertentes da cultura paranaense. Atinge mais de cem habitantes de Valadares, quase todos descendentes dos antigos mestres fandangueiros.

Entre os alunos da oficina, não há ninguém nascido no litoral paranaense. O contato com o fandango pode funcionar como uma forma de diversão, como aprofundamento dos estudos musicais ou como real busca da tal identidade. "Às vezes, o fandango não tem nada a ver com aquela pessoa que o pratica. Mas ela está ali mesmo assim, para aprender algo que é do Paraná", explicou Domingues.

A partir da década de 1980, segundo o músico, a cultura folclórica atingiu níveis diferentes, que fugiram de sua raiz natural. E isso é algo positivo. "É como o manguebeat, do Chico Science. Quando esse folclore consegue se adaptar ao contexto em que se insere e tem outras linguagens, começa a ser valorizado".

Essa pode ser uma das explicações para que a produtora de tevê Tatyane Ravedutti se inscrevesse na oficina. "Acho que meu conhecimento sobre o assunto é raso. Essa aproximação, inclusive para quem nunca teve contato com o ritmo, é válida. Algumas podem ficar curtindo a dança e a festa, mas outras vão se aprofundar realmente", explicou.

Vander Soares, de 55 anos, escolheu se inscrever devido à paixão pela música. "Acho linda essa sonoridade, o instrumental. A oficina é uma oportunidade de entrar em contato com essa manifestação", disse o professor de História.

Seja algo efêmero ou uma real reinterpretação da cultura popular (leia matéria ao lado), o fandango, outrora quase extinto, respira. As filhas gêmeas do professor Domingues são a prova viva. Aos dois anos, já têm tamancos feitos pelo pai. E batem o pé a cada vez que ouvem uma rabeca.

Serviço:

Baile de Fandango com fandangueiros da Ilha de Valadares. Aoca Bar (R. Treze de Maio, 600), (41) 3324-6592. Dia 25, às 22h. Ingressos a R$ 8 (homens) e R$ 6 (mulheres).

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