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Pela lei, Roy Hargrove não tinha idade nem para tomar uma cerveja quando embarcou em uma turnê pela Europa na banda do trompetista Wynton Marsalis. Foi sua primeira vez. Ele tinha 17 anos. Marsalis o descobriu durante uma oficina na escola em que o então adolescente freqüentava. Hoje, com 37, Hargrove segue tocando o trompete – a exemplo de seu "padrinho" – e aparece em tudo que é lista dos músicos mais importantes do jazz atual, invariavelmente ao lado dos pianistas Brad Mehldau (EUA) e Esbjörn Svensson (Suécia).

Americano do Texas, Hargrove rezou pela bíblia de Marsalis, louvando os deuses jazzísticos de praxe – todos dos anos 60 para trás. Esse grupo de músicos ganhou o nome de "young lions" (leões jovens) e é culpado pela letargia do jazz nos EUA, dando espaço para instrumentistas europeus e asiáticos avançarem em áreas inexploradas. Distractions (Verve/Universal), o primeiro disco de Hargrove lançado no Brasil e o terceiro com sua banda The RH Factor, mostra que o trompetista está menos interessado no passado.

O disco tem 12 faixas que não chegam a 40 minutos. No jazz, existem solos que duram mais que isso. O que Hargrove faz é uma fusão de gêneros que lembra experiências do início dos anos 90 como Jazzmatazz (93), do Guru, e Stolen Moments: Red Hot + Cool (94), parte de uma série de álbuns beneficentes com renda voltada às vítimas da aids.

Distractions vai buscar no R&B as referências para criar um som dançante, quase hipnótico. O cantor D’Angelo (uma versão anterior e menos simpática do Usher) está entre os convidados especiais de Hargrove – sua participação na faixa "Bullshit" pode ser notada na produção, utilizando batidas eletrônicas e uma pequena introdução cantada.

A super-heroína do The RH Factor atende pelo nome de Renee Neufville. Quando sua voz aparece na faixa, "Crazy Race", não se quer outra coisa a não ser ouvir a moça. O mesmo vale para "One the One". Não bastasse a voz, ela também toca wurlitzer (tipo de piano elétrico) em várias faixas. Outro que dá as caras no disco é David "Fathead" Newman, ex-saxofonista de Ray Charles e uma das maiores influências musicais de Hargrove.

Há pegada funk e influências soul em algumas músicas – "Hold On" e já citada "Bullshit". Em outras, o trompetista faz referência ao jazz elétrico de Miles Davis – nas quatro peças intituladas "Distractions" que lembram ainda as trilhas sonoras de filmes estrelados por atores negros nos anos 70, na linha de Shaft (gênero batizado de blaxpoitation).

A primeira vez em que Hargrove fundiu o jazz ao R&B foi em 03, quando lançou Hard Groove. O disco é uma constelação, tem de Erykah Badu a Common, quase todos retribuindo favores musicais prestados pelo amigo trompetista. GGGG

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