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O caso da rapper australiana Iggy Azalea é apenas um dos milhares que se alastram pelo mundo virtual.

Preconceito é fato nas redes sociais. E os casos são tantos que viraram tema de um livro publicado recentemente pelo jornalista galês Jon Ronson, autor de “O Teste do Psicopata”. “So You’ve Been Publicly Shamed(“Então você foi difamado publicamente”), ainda sem tradução no Brasil, reúne histórias de preconceito disseminadas em perfis do Twitter e depoimentos dos autores dessas mensagens, que tiveram suas vidas praticamente arruinadas.

Entre as histórias está a da diretora de comunicação Justine Sacco, que antes de embarcar no aeroporto de Londres para visitar a família na África do Sul, em dezembro de 2013, tuítou: “Going to Africa. Hope I don’t get aids. Just kidding. I’m white!” (“Estou indo para África. Espero não pegar aids. Brincadeira. Sou branca!”)

Bastou o tempo do voo para que a mensagem infeliz desandasse com toda a vida e a carreira de Justine.

Qual é a força de um tuíte?

Cento e quarenta caracteres são capazes de alterar a vida de alguém, ou mesmo de várias pessoas. Como é incontrolável a abrangência do que é postado no Twitter, quando um assunto se torna um dos mais comentados na rede – quando vira um trending topic –, ele tem um poder assustador

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Compartilhado por milhares de pessoas em todo o mundo, o tuíte gerou uma onda de manifestações contra a mulher que, mesmo pedindo desculpas pela “brincadeira”, acabou perdendo o emprego e com a integridade física e moral ameaçada.

Com os depoimentos presentes no livro, a intenção de Ronson é mostrar como o poder nas redes sociais ainda passa despercebido. E isso vale tanto para quem não tem noção do impacto que pode causar como para quem assume as dores e parte para cima do transgressor.

“Acho que a gente já pode falar em cultura do preconceito nas redes sociais, simplesmente porque são as pessoas que usam e dão sentido a essas redes”, comenta a professora e pesquisadora em Tecnologias da Comunicação Daiani Ludmila Barth.

“A internet sempre vai ser uma consequência do que as pessoas pensam e, nas redes sociais, só vai ser uma maneira de aparecer”, diz Daiani.

Na opinião da pesquisadora Ana Brambilla, o “linchamento digital” adquire proporções descontroladas porque o fato preconceituoso atinge o que um usuário tem de mais valioso no ambiente virtual, que é a sua identidade.

“Quando seu nome fica associado a um episódio negativo, a pena pode ser eterna, pois a rede se encarrega de guardar esses registros para serem usados em qualquer situação: seja na avaliação dos recursos humanos de uma empresa onde esse usuário se candidatar para trabalhar, seja numa investigação policial, seja para novos vizinhos checarem sua reputação etc. É uma punição talvez mais duradoura e ampla do que a aplicada pela justiça tradicional”, diz.

Ignorância?

Acredite se quiser, mas o fato é que posts preconceituosos disparados nas redes sociais podem não ter intenção de ofender.

A psicóloga e consultora em desenvolvimento humano, Cleila Elvira Lyra, acredita que algumas pessoas não têm capacidade de presumir o desdobramento de determinadas mensagens.

“São tão alienadas em algum tipo de sistema social e cultural que se colocam numa posição de que aquilo é certo e não percebem que é preconceito”, explica.

Já os fatos intencionais – aqueles em que o internauta sabe em que campo está entrando – podem significar uma maneira de fortalecer o espírito exibicionista da própria pessoa.

“Na maioria dos casos, faz parte da estrutura psicológica da pessoa. É assim que ela se reconhece. Mas, a maior punição que você dá para esse tipo de pessoa, exibicionista por natureza, é ignorá-lo”, argumenta.

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