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 | Marcelo Andrade/Gazetado Povo
| Foto: Marcelo Andrade/Gazetado Povo

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Confira abaixo alguns trechos da última conversa que Jair Rodrigues teve com a Gazeta do Povo, em Curitiba:

O senhor começou a cantar em corais de igreja. Alguém lhe iniciou na música?

Foi minha mãe, dona Con­ceição. Eu gostava muito de futebol quando tinha uns oito anos e jogava no meio da rua, descalço. Minha mãe ficava doida, e um dia me disse: "Olha, meu filho. Para com esse negócio de bola. Você é um menino que tem que se dedicar àquilo que Deus te deu, que é o dom da música". Foi ela que me colocou para cantar no coral.

O sucesso veio na década de 1960, quando o senhor participou de festivais de música e apresentou O Fino da Bossa, na Record, com Elis Regina. Como era a relação com ela?

Todo mundo dizia: "A Pimentinha parece você de saia". Um era fã do outro, e ficamos grandes amigos. Depois gravamos juntos, apresentamos o programa e viajamos por esse mundo de Deus. Muita gente pensava que éramos namorados, mas nunca teve nada. Brinco com o público que ela está no palco, e que só eu posso ver. Depois digo: "Agora volta lá pra cima, o Senhor está chamando você. Está bom aí? Eu não quero ir pra aí tão cedo" [risos].

Jair Rodrigues sempre foi conhecido pelo seu jeito solto, despreocupado. Era aquele camarada que fazia piada com tudo e com todos. Por maior que seja a empatia, a pulga ficava atrás da orelha: toda a espontaneidade é apenas um papel assumido ou fazia parte da "vida real"?

Tive o privilégio de entrevistar o cantor em agosto de 2012 – foi a última vez que conversou pessoalmente com a reportagem da Gazeta do Povo – sua entrevista mais recente ao jornal, entretanto, foi em março desse ano, por telefone, para o repórter Rafael Costa, sobre o trabalho Samba Mesmo, produzido pelo filho, Jairzinho. E a dúvida foi sanada: Jair também adorava uma bagunça fora do palco.

Entre o almoço e o descanso para o show, que aconteceu num sábado, na Caixa Cultural, Jair conversou conosco e também com uma equipe de televisão local. Chegou na porta do hotel às gargalhadas, dizendo que os jornalistas não o deixaram "nem escovar os dentes." Na hora, pediu mais um minuto, sacou os apetrechos de uma bolsa e foi cuidar do sorriso, sempre aberto.

Durante a conversa, que durou pouco mais de uma hora, o cantor, que começou como crooner na noite paulistana, mostrou que estava em plena produção, e muito criativo. Na época, falou sobre o quanto gostava de trabalhar ao lado dos dois filhos, os também músicos Jairzinho e Luciana Mello. Citava, igualmente, a importância do papel de sua esposa e também empresária, Clodine, na sua carreira.

Em suas apresentações, queria ocupar o palco por inteiro. Plantava bananeira, dançava, divertia a plateia. Na apresentação da Caixa, se sentiu ainda mais à vontade para interagir. Tanto que, em uma das músicas, lá foi ele, se meter entre as poltronas. Vez ou outra, sentava no colo de alguma moça, sempre pedindo licença para o marido/namorado. O público ria.

Na entrevista, Jair lembrou de fatos de 50 anos antes com rapidez. Contava as situações com detalhes e adorava cantarolar. Falava sobre as composições e cantava alto, empolgado, chamando a atenção dos funcionários e hóspedes do hotel – mais de uma vez, ele foi interrompido para fazer fotos e dar autógrafos. Atendia sempre com simpatia.

Foram 55 anos de carreira. Perguntei: de onde tira tanta energia? Na ocasião, estava com 73 anos, 53 de música. Não pestanejou na resposta: "Estou preparado. Não perco o meu tempo, estou sempre fazendo meus exercícios físicos, cuidando da voz." Também não precisava dormir muito, ele disse. "Para mim, quatro horas de sono está de bom tamanho."

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