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Visão crítica sobre as ciências é uma das marcas de Self | Polly Borland/Divulgação
Visão crítica sobre as ciências é uma das marcas de Self| Foto: Polly Borland/Divulgação

Contos

O Self EssencialWill Self. Tradução de Cássio de Arantes Leite. Alfaguara, 296 págs., R$ 42,90.

O inglês Will Self é reconhecidamente um dos escritores mais talentosos de sua geração, mas também um dos mais polêmicos. Em 1997, foi pego usando heroína no avião do então primeiro-ministro John Major, enquanto cobria sua campanha para reeleição — e, por isso, perdeu o emprego no jornal The Observer. Mas Self se recuperou (ele diz estar livre das drogas) e seguiu adiante fazendo sucesso com as obras Como Vivem os Mortos (2000) e O Livro de Dave (2006), entre outras. Nelas, aparecem bem algumas facetas da literatura de Self, como a sátira, a invenção de universos próprios e a visão crítica sobre as ciências.

São aspectos também presentes em O Self Essencial, coletânea com cinco contos e uma novela que a editora Alfaguara lança no Brasil nesta semana. Em entrevista por e-mail, Self falou de sua literatura e também de polêmicas recentes, como suas críticas ao chef Jamie Oliver e a ocasião em que foi parado pela polícia por suspeita de pedofilia.

No livro O Self Essencial, a editora Alfaguara reuniu seis histórias de quatro outros livros seus, lançados em tempos diferentes. Você compararia o jovem escritor de The Quantity Theory of Insanity (1991) com o experiente e reconhecido autor de Liver: a Fictional Organ with Surface Anatomy of Four Lobes (2008)?

Acredito que todos mudamos. Mas algumas preocupações que tenho na minha escrita com certeza se mantiveram, como o impacto das doenças sobre a mente e o corpo e o uso das doenças como metáforas, sejam elas bem interpretadas ou não. Mantive ainda uma ideia de que vivemos num mundo tão cheio de intermitências quanto de perenidades. E há a morte — elemento que, em minha opinião, a ficção deveria abordar tanto quanto aborda a vida. Por último, uma ideia de que a realidade em alguns momentos parece... ficcional. Todos esses aspectos continuam na minha obra.

No conto "Leberknödel", incluído em O Self Essencial, um dos temas é a eutanásia. Você tem uma opinião sobre o assunto? Para você, a eutanásia seria mais eficiente que o conforto espiritual oferecido pelas religiões?

Eu não sei o quão bom o conforto espiritual das religiões pode ser para quem está morrendo, já que eu ainda não morri. Mas eu não acredito na eutanásia, acho que doentes terminais deveriam ter a força espiritual de se matarem antes de se tornarem incapazes. Toda a ideia de "morte assistida" é apenas outro exemplo da implacável medicalização de todos os aspectos de nossas vidas. O raciocínio falho é: se os médicos nos ajudam a viver, também deveriam nos ajudar a morrer?

No ano passado, você escreveu um artigo para a revista inglesa New Statement intitulado "Por Que Eu Odeio Jamie Oliver". Nele, você lembrou a decisão do chef de contratar, para sua cadeira de restaurantes Fifteen, jovens dependentes de drogas, desempregados ou sem-teto. No texto, você escreveu: "O que esta sociedade precisa é de uma cultura que valorize sua alma eterna". O que você quis dizer com a "alma eterna" da sociedade?

A transferência da cultura ao longo de muitas gerações, e uma reverência a essa cultura, e não para uma besteira efêmera ligada a cadeias de restaurantes e a seus chefs-celebridades.

Também em 2013, você escreveu para o jornal Daily Mail um relato sobre como foi abordado por policiais, sob suspeita de pedofilia, enquanto caminhava com seu filho. Quem devemos culpar pelo incidente: a paranoia da sociedade ou a falta de preparo da polícia inglesa?

A paranoia geral da sociedade. E, na Grã-Bretanha, que é um país muito densamente povoado, uma ignorância voluntária sobre a medida em que o carro domina a vida das pessoas, tanto física como psicologicamente. As crianças na Grã-Bretanha estão muito mais ameaçadas pelos carros do que pelos pedófilos. Eu fui parado pela polícia porque eu tinha pedido permissão para pegar um atalho através de uma propriedade privada, para que eu e meu filho de 11 anos pudéssemos evitar ter que andar em uma estrada movimentada. Como quase ninguém anda dessa forma e todo mundo dirige, meu pedido e minha caminhada foram tratados como suspeitos e incomuns.

Como você se sente quando alguém o chama de bad boy, de enfant terrible da literatura britânica? O título se aplica?

Eu tenho 52 anos de idade.

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