Depardieu, Miou Miou e Dewaere: três dos melhores e mais populares atores do cinema francês| Foto: Divulgação

O cinema do diretor francês Bertrand Blier é muito particular. Drama e comédia se entrelaçam, sensualmente, borrando os limites que separam os dois gêneros ao ponto de o espectador se confundir. Ri num momento para ficar intrigado ou se emocionar minutos mais tarde. E, ao fim da projeção, nunca sabe muito bem como classificar o que acabou de ver. É isso que se sente ao assistir a Meu Marido de Batom (1986) e a Bela Demais para Você (1989), dois dos longas mais conhecidos do cineasta. Mas já em 1974, no hoje clássico Corações Loucos, essa característica já se apresentava de forma bastante evidente.

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O pertinente relançamento em DVD pela Lume desse que é um dos pontos altos da filmografia de Blier deve ser festejado. E por várias razões. Porque traz Gérard Depardieu, ator-fetiche do cineasta, no auge da juventude e em desempenho memorável. Também por resgatar de um relativo esquecimento o ótimo Patrick Dewaere, astro do cinema francês que se suicidou aos 35 anos em 1981, deixando poucos mas grandes trabalhos, como Un Mauvais Fils, de Claude Sautet. Mas, sobretudo, por encapsular um momento muito particular da história do século 20: tempos de revolução sexual, rebeldia e desbunde.

Corações Loucos parte das aventuras (e desventuras) de uma dupla de malandros boas-praças (Depardieu e Dewaere, cuja química em cena é memorável), que vivem de pequenos golpes, no melhor estilo existencialista e Acossado de ser, em referência ao clássico de Jean-Luc Godard. A camaradagem entre os dois tem sua temperatura elevada quando entra em cena uma mulher (Miou Miou) em princípio indiferente a ambos, o vértice que falta para um triângulo amoroso algo anárquico em que vale tudo – as cenas de sexo e nudez são antológicas e até hoje míticas para os franceses.

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Blier, já exercitando seu estilo provocativo, faz de Corações Loucos talvez seu trabalho mais contundente, talvez porque traços que povoariam seus filmes seguintes surjam na tela em forma bruta, não exatamente lapidada em termos de estilo, mas embotada de originalidade e frescor. É um dos retratos mais autênticos da contracultura e um momento inesquecível de três dos melhores e mais populares atores do cinema francês. GGGG