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Orson Welles faz o papel do cônsul sueco, que tenta convencer os alemães a não destruírem Paris | Reprodução
Orson Welles faz o papel do cônsul sueco, que tenta convencer os alemães a não destruírem Paris| Foto: Reprodução

DVD

Paris Está em Chamas? (Paris Brûle-t-il? França, 1966). Direção de René Clément. Com Yves Montand, Orson Welles e Alain Delon. 170 min. Lume Filmes. Classificação indicativa: 14 anos. R$ 49,90. Drama.

Esse filme cult de René Clément ficou um pouco esquecido com o correr dos anos. No entanto, na época (1966), foi um acontecimento, talvez pela presença de um elenco estelar e internacional. Paris Está em Chamas? apresenta um cast formado por gente como Yves Montand, Simone Signoret, Orson Welles, Alain Delon, Robert Stack, Kirk Douglas e um longo etc. Além desses grandes atores, há outra surpresa nos créditos – o roteiro é assinado por um então muito jovem Francis Ford Coppola. A música é de Maurice Jarre.

Não são apenas os nomes que impressionam. É todo um trabalho cinematográfico digno de nota, mas que talvez tenha saído em época errada, e, por isso, foi um tanto esquecido pelos cinéfilos. Bom que a Lume tenha lançado o DVD, um épico de quase três horas de duração – 2h50 para ser preciso.

A época talvez "errada" diz respeito a um cinema francês tradicional do qual fazia parte Clément, então sob forte contestação da nouvelle vague. Essa outra guerra – a dos críticos e cineastas – já estava então perdida para os "jovens turcos" dos da revista Cahiers du Cinéma, que haviam imposto um gosto. Talvez não ao público, mas à própria intelligentsia francesa e decerto mundial.

A própria participação da Resistência Francesa na liberação de Paris, então contestada, é heroicizada sob os olhos de Clément. O que pode ter parecido pouco realista para o olhar crítico dos anos 1960, mais interessado em enxergar a fragilidade francesa diante do inimigo alemão durante a guerra que fazer o balanço dos heróis que de fato haviam resistido. Isso era coisa para um pouco depois, quando a lembrança do morticínio de 1939-1945 já pudesse ser visto à distância.

Jean Tulard, em seu Dicionário do Cinema, faz carga pesada tanto sobre realizador como sobre filme: "Obra de uma desavergonhada hagiografia, a ponto de cair no ridículo". Tacha Clément de cantor maior da 5.ª Resistência Francesa. Embora admita filmes como Jogos Proibidos e Os Malditos como testemunhos poéticos e lúcidos da guerra, diz que Clément se tornou o cineasta oficial da 5.ª República da mesma forma que no tempo da monarquia os reis tinham seus biógrafos autorizados. A crítica azeda pode até proceder. Mas não faz justiça a um épico bem trabalhado e com passagens empolgantes.

Seja qual for o grau de verossimilhança histórica ou seu viés ideológico e patriótico, a trama revela-se eletrizante. A história é baseada no livro de Lapierre e Collins, ambientado nos dias finais da Segunda Guerra. O ponto central é que o general alemão destacado para assumir a direção em Paris recebe ordem do próprio Hitler de destruir por completo a cidade caso os aliados estejam próximos de liberar a capital francesa. Em outros termos, se a guerra for perdida, que só reste cinzas após a passagem dos alemães.

Cenas de ação

Numa trama muito baseada em cenas de ação e fuzilaria, o tônus central emana dessa decisão individual do general alemão Dietrich von Choltitz (Gert Fröbe). Ele oscila, e quem tenta convencê-lo a poupar Paris é o cônsul sueco Raoul Nordling, interpretado por ninguém menos que Orson Welles. Essa é a questão central, que se irradia para tramas paralelas e, às vezes, francamente secundárias. Se falta ao filme poder de síntese, ele compensa com outras qualidades, além do já citado elenco estelar. Tais como a recriação de um clima empolgante às vésperas da liberação da grande cidade, além do registro documental impecável da Paris tomada pelos inimigos.

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