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Destaques do acervo

Os DVDs da região 1 disponíveis na videolocadora Nosferatu não têm legendas em português, mas quase todos trazem a opção em espanhol. Outros, em francês. Optou-se por colocar os títulos em inglês (como os filmes estão cadastrados no acervo da loja), acompanhados da versão em português (quando houver).

Criterion Collection

• Solaris, de Andrei Tarkovsky;

• Schizopolis, de Steven Soderbergh;

• Contempt (Desprezo) e A Woman Is A Woman (Uma Mulher É Uma Mulher), de Jean-Luc Godard;

• The Battle of Algiers (A Batalha de Argel), de Gillo Pontecorvo;

• The Element of Crime, de Lars von Trier;

• Oliver Twist e Great Expectations (Grandes Esperanças), de David Lean;

• The Leopard (O Leopardo), de Luchino Visconti;

• Naked Lunch (Almoço Nu), de David Cronenberg;

• Diary of a Chambermaid (Diário de Uma Camareira), de Luis Buñuel;

• Hiroshima Mon Amour, de Alain Resnais;

• Seven Samurai (Os Sete Samurais), de Akira Kurosawa;

• Shame (Vergonha), The Hour of the Wolf (A Hora do Lobo) e Persona, de Ingmar Bergman;

• Eyes Without a Face, de Georges Franju.

Outros achados

• Last Days, de Gus Van Sant (sobre os últimos dias de Kurt Cobain);

• Those Who Love Me Can Take the Train, de Patrice Chéreau (inédito no Brasil, do mesmo diretor de A Rainha Margot);

• Crumb e Ghost World (Mundo Cão), ambos de Terry Zwigoff;

• The Apartment (Se Meu Apartamento Falasse), The Private Life of Sherlock Holmes (A Vida Íntima de Sherlock Holmes) e Witness for the Prosecution (Testemunha de Acusação), todos clássicos de Billy Wilder.

• Pink Floyd – The Wall, de Alan Parker;

• Tommy, de Ken Russell;

• Stolen Kisses (Beijos Roubados) e Bed & Board (Domicílio Conjugal), de François Truffaut;

• The Collector (O Colecionador), de William Wyler.

Cinemaníacos de Curitiba podem começar a campanha para a canonização de Fellipe Melluso. O proprietário da videolocadora Nosferatu realizou o "milagre" de criar uma seção de DVDs importados com quase 300 títulos – uns nunca foram lançados no Brasil, outros não chegaram a passar sequer pelos cinemas do país.

A loja tem pouco mais de dois anos – foi aberta em 18 de dezembro de 2004 – e é formada por um acervo modesto, se comparado às gigantes Video 1 e Cartoon. A diferença principal entre ela e as videolocadoras tradicionais é talvez o espírito cinéfilo do dono, refletido em cada uma das estantes do lugar.

Melluso, 30 anos, largou o curso de Medicina para se dedicar à Filosofia. Passou por grupos de estudo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e hoje é acadêmico de Psicologia na Universidade Tuiuti do Paraná. No caminho, criou sociedade com a mãe, Iliane, para fundar a Nosferatu.

Ajudado pelo amigo Sandro Moser, também cinéfilo, montou um acervo de fazer brilhar os olhos de qualquer amante do cinema.

Funciona assim: são dois andares ocupados por DVDs. O térreo concentra os lançamentos, as animações e os importados. Não faltam filmes de apelo popular, afinal a loja tem de sobreviver, mas eles são exceção em meio a produções européias, latino-americanas e asiáticas. Entre os títulos "região 1" (codificação dos discos de vídeo digital para os EUA e o Canadá, sem legendas em português), estão duas dezenas de exemplares da Criterion Collection. Anote esse nome.

Inédita no Brasil, a Criterion tem mais de 400 títulos, é objeto de culto e referência de qualidade para cinéfilos do mundo todo. Além dos melhores imagem e som, resultado de processos complexos de remasterização (usado para recuperar produções antigas), a coleção tem os extras mais interessantes do mercado.

Para citar um exemplo, a edição de Almoço Nu (1991), de David Cronenberg, adaptação do romance homônimo de William S. Burroughs (Naked Lunch no original), traz os extras de praxe – bastidores, comentários do diretor, fotos –, mais o "toque Criterion" – trechos do romance lidos por Burroughs, mais algumas fotos da coleção pessoal do autor e um livreto de 32 páginas sobre o longa-metragem.

Sem mencionar a "nova transferência digital de alta definição, aprovada pelo diretor David Cronenberg". Porque, na Criterion, os DVDs costumam passar pelo crivo dos cineastas, que vistam a obra – algumas caixas chegam a reproduzir a assinatura deles, um exagero meio brega.

O Caderno G selecionou algumas das opções mais curiosas do acervo estrangeiro da Nosferatu (confira quadro).

Os clássicos

O segundo piso da videolocadora é o xodó de Melluso. É onde os títulos são organizados ora por diretor, ora por ator. Tem de tudo, muito. Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Pier Paolo Pasolini, Vittorio de Sica e Roberto Rossellini para citar só parte dos italianos.

"Para mim, o cinema é italiano, a filosofia é alemã e a televisão, americana", diz Melluso, fã de Antonioni que não perde a oportunidade de debater cinema a qualquer hora do dia. Na tarde em que recebeu a reportagem, ele e um cliente discutiam com entusiasmo o Oscar de melhor diretor vencido por Martin Scorsese na cerimônia deste ano.

Pesquisando no computador pelos títulos disponíveis de Scorsese, Melluso listava: "Quem Bate à Minha Porta, Alice Não Mora Mais Aqui, Touro Indomável..." O aposentado Vicente de Paula Rossi, o cliente em questão e um dos mais assíduos da locadora, exclamava: "Touro Indomável é um filmaço..." e assim eles continuaram por vários minutos, até esquadrinhar toda a filmografia do cineasta e concluir que o Oscar é cego, surdo e mudo – porque deveria ter dado o prêmio ao diretor de Os Infiltrados muito tempo antes.

Rossi, capaz de discutir desde os clássicos de Hollywood até o novo cinema latino-americano, assume que "sofre" de cinemania e não hesita em apontar o acervo de filmes antigos como a melhor qualidade da Nosferatu. Ele acabou levando Depois de Horas (1984), comédia que deu a Scorsese o prêmio de direção no Festival de Cannes.

Doutrina

De acordo com Melluso, pelo menos metade de sua clientela não tem interesse nenhum na história do cinema. Ao menos não ainda. "Para quê que eu vou ver filmes antigos?" é uma frase que se ouve com freqüência na loja.

Aliás, por que Nosferatu? "Porque trabalhamos com filmes eternos", explica, em referência ao vampiro imortal criado por Bram Stoker e adaptado ao cinema por F. W. Murnau em 1929 e por Werner Herzog em 1972. Murnau quis escapar dos direitos autorais, daí não chamar seu vampiro de Drácula. O símbolo da loja é inspirado no ator Klaus Kinski, protagonista da refilmagem.

Melluso criou uma espécie de doutrina de iniciação para pessoas que torcem o nariz diante de qualquer longa-metragem não-falado em inglês. Muitas vezes porque preferem, para usar um termo que Melluso atribui a Woody Allen, "filmes fast food".

"O segredo é começar por títulos mais light. Uma boa comédia italiana, como Pães e Tulipas, é irresistível. Depois, a pessoa assiste ao Último Beijo (também italiano) e, quando menos esperar, estará presa a esse tipo de filme", acredita.

Melluso fala do cinema como o "objeto perdido da filosofia", no sentido de que os filmes confrontam as pessoas com idéias essenciais à vida. É mais ou menos a idéia do filósofo Kenneth Burke, de que as ficções são "equipamentos para a vida". O que transforma as videolocadoras (as livrarias, os cinemas e os teatros) em oficinas da alma. Não?

Serviço: Nosferatu DVD Hall (R. Francisco Rocha, 18, loja 5 – Batel), (41) 3244-6080. Na internet: www.nosferatudvd.com.br.

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