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Camila Pitanga, premiada como melhor atriz no Festival do Rio, conta que sua preparação começou um mês antes das filmagens serem iniciadas no Pará | Priscila Prade / Divulgação
Camila Pitanga, premiada como melhor atriz no Festival do Rio, conta que sua preparação começou um mês antes das filmagens serem iniciadas no Pará| Foto: Priscila Prade / Divulgação

A arquitetura dos afetos em Construção

Carolina Sá encontrou uma forma original de levantar uma ponte entre o presente e o passado de sua família. Construção, filme de estreia que anuncia o surgimento de uma realizadora bastante sensível, fala da experiência de levar primeira vez a filha Branca, então com 3 anos, a Cuba, país do pai da criança, o músico René Ferrer. Lá, a menina conhece o meio-irmão, a avó e, sobretudo, as cores, os cheiros e os sons de sua terra ancestral. O documentário serve também – e principalmente – como uma espécie de busca pelo entendimento da figura do pai de Carolina, o arquiteto e cronista Marcos de Vasconcellos, que faleceu em 1989, aos 55 anos.

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Há filmes que, para darem certo, pedem um mergulho profundo de toda a equipe envolvida. Caso contrário, jamais decolam. É o caso de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, um dos destaques brasileiros da 35.ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Baseado no romance homônimo de Marçal Aquino, publicado pela Companhia das Letras, o longa-metragem de Beto Brant e Renato Ciesca pode ser descrito como a história de um louco amor nas profundezas da Amazônia. Mas vai bem além disso.

O personagem central, Cauby (Gustavo Machado), é um protagonista exemplar na obra de Aquino, autor de outras histórias filmadas por Brant, como Os Matadores e O Invasor: ele é um homem à deriva, cujo passado nebuloso o leva, sem maiores explicações, a uma pequena cidade no coração do Pará, onde parece se esconder de algo nunca revelado. Lá, ele ganha a vida como fotógrafo, trabalhando para um pequeno jornal local e fazendo outros bicos, inclusive para a polícia, sempre com sua câmera em punho.

A rotina sem muitos sobressaltos de Cauby dá uma reviravolta quando conhece e começa a fotografar Lavínia (Camila Pitanga), a jovem mulher de Ernani (Zé Carlos Machado). Dela, ele também pouco sabe, apenas o seu estado civil, mas isso não impede que mergulhem em uma avassaladora paixão.

Cercados por uma natureza selvagem, e ao mesmo tempo ameaçada, Cauby e Lavínia são personagens trágicos, talvez fadados ao infortúnio, porque carregam muita dor no passado do qual pouco falam. São ambos náufragos, assim como Ernani, que busca, em suas pregações à população local, em grande parte de origem indígena, instigá-la a reagir contra os desmandos constantes de que são vítimas há séculos.

No debate que se seguiu à sessão de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, Beto Brant disse que, para dar conta da complexidade tanto da trama quanto da geografia onde ela se desenrola, os preparativos para a rodagem na cidade de Santarém se iniciaram meses antes das primeiras tomadas. "Precisávamos ser impregnados por aquela realidade."

Gustavo Machado, para dar maior veracidade a Cauby, chegou a morar na casa onde vive seu personagem, e ajudou o diretor de arte Akira Goto na elaboração da cenografia, para que conseguissem o máximo de autenticidade. "Quando começamos a rodar, o Gustavo já estava até com a cor daquele lugar", conta Brant.

Salto

Nas palavras de Gustavo Machado, já dirigido por Brant na minissérie (depois transformada em longa) O Amor Segundo Benjamim Schianberg, o processo de filmagem de Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios, para ele e Camila Pitanga, foi "salto no abismo sem paraquedas", mas com a rede de proteção de uma equipe entrosada e em sintonia.

Muitos dos momentos mais significativos do longa-metragem foram rodados em longos planos-sequências, com a câmera sempre em movimento, buscando captar a tensão erótica e emocional que envolve os protagonistas. O envolvimento tortuoso é potencializado visualmente pela notável direção de fotografia de Lula Araújo, que faz uso continuo de steadycam para emprestar ao filme essa sensação de vertigem, de movimento.

Mas, possivelmente, Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios não seria tão visceral não fosse pelo extraordinário desempenho de Camila Pitanga, premiada neste mês como melhor atriz no Festival do Rio. "Esse filme mudou minha vida. Fez com que eu me sentisse uma artista de verdade."

Lavínia é uma daquelas personagens que pode mesmo alterar os rumos de uma carreira. Ex-prostituta, abusada sexualmente pelo padrasto e dependente química, ela encontra em Ernani, um ex-alcoólatra que buscou sua redenção na fé, um esteio, a salvação. E, com ele, embarca para a Amazônia.

Tudo parece estável até que Cauby entra em sua vida. Lavínia, ao se perceber dividida entre dois amores, vê ressurgirem os assustadores fantasmas de seu passado. Camila contou que, antes de partir para o Pará, fez o que ela chamou de "dever de casa". "Passei mais de um mês estudando, pesquisando, me preparando para esse desafio que, eu sabia, não seria pequeno", contou a atriz no debate, visivelmente emocionada com a repercussão do trabalho.

Erótico, com muitas cenas (tórridas) de sexo e nudez, o filme de Brant e Ciesca exigiu enorme entrega do elenco, que conta ainda com participações marcantes de Gero Camilo e de Antônio Pitanga, pai de Camila. "A minha entrega foi plena, total, porque tinha total confiança na equipe. Foi uma viagem inesquecível."

O repórter viajou a convite da 35ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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