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Marlon Siqueira já tocou em várias bandas locais de reggae | Gel Muzzillo/Divulgação
Marlon Siqueira já tocou em várias bandas locais de reggae| Foto: Gel Muzzillo/Divulgação

O filme britânico Notas sobre um Escândalo, que estréia hoje em Curitiba, é uma daquelas produções controversas que merecem uma visão mais atenta. As leituras possíveis da trama podem ser um excelente pretexto para uma acalorada discussão sobre sexualidade, moral e até mesmo educação, dependendo do viés escolhido pelo freguês.

Não há como negar que o grande chamariz do longa-metragem é o elenco, de primeiríssima categoria. A inglesa Judi Dench e a australiana Cate Blanchett, excelentes, foram indicadas ao Oscar, a primeira como atriz principal e a segunda, como coadjuvante. E o inglês Bill Nighy também tem espaço para brilhar entre os dois dínamos com os quais contracena.

Mas Notas sobre um Escândalo não deve ser encarado apenas como um veículo para estrelas de primeira grandeza.

A solidão e a incomunicabilidade, temas que permeiam o enredo de Notas sobre um Escândalo, se sobrepõem à trama propriamente dita – e, por isso, o filme merece ser visto. Essas temáticas se fazem representadas, sobretudo, na figura da personagem de Judi Dench, veterana professora de História de uma escola secundária num bairro operário. Barbara Covett tem uma vida solitária e repleta de frustrações amorosas.

O coração da velha mestra se enche de uma esperança secreta com a chegada de uma jovem e bela colega, a professora de Artes Sheba Hart (Cate Blanchett) – que é casada com um homem mais velho (Bill Nighy), mãe de dois filhos e, em princípio, não percebe os reais sentimentos de Barbara.

O que uma espera da outra claramente não é a mesma coisa. Inexperiente, Sheba acolhe o que pensa ser a amizade da colega mais velha. Mas a outra quer muito mais do que amizade. Barbara se apaixona por Sheba e esse sentimento ganha proporções de obsessão, especialmente quando Barbara descobre ter um trunfo precioso nas mãos: ela é a única pessoa a saber que Sheba mantém um caso extraconjugal com um aluno adolescente.

A chantagem mostra-se eficiente até certo ponto, com Sheba sempre intimidada pela possibilidade de a outra levar suas ameaças às últimas conseqüências, o que poderia lhe custar o emprego e o casamento.

É nesse momento que Barbara se revela uma psicopata tão sedutora quanto Tom Ripley, personagem criado pela escritora Patricia Highsmith. E é também nesse ponto da história que se torna inevitável questionar por que lésbicas costumam ser tão marginalizadas e estereotipadas no cinema – vide filmes como Monstro, com Charlize Theron, e Meninos Não Choram, que deu o primeiro Oscar a Hillary Swank. Há uma escassez absoluta de histórias sobre mulheres homossexuais que sejam felizes e saudáveis.

O roteiro de Notas sobre um Escândalo, assinado pelo dramaturgo britânico Patrick Marber (o mesmo de Closer - Perto Demais), ainda assim, é interessante e bem escrito, com bons diálogos, permitindo que as atrizes principais tenham grandes momentos de interpretação. E o resto merece ser debatido. Longamente. GGG1/2

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