Criolo e Emicida (no centro) fazem um apanhado de suas carreiras e home­nageiam clás­sicos do rap nacional| Foto: Caroline Bittencourt/Divulgação

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Veja a programação deste e outros eventos no Guia Gazeta do Povo.

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DVD -Criolo & Emicida – Ao Vivo- Criolo e Emicida. Independente/Universal Music (distribuição). R$ 23,90. Hip-hop.
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Os rappers paulistanos Criolo e Emicida se apresentam juntos nesta sexta-feira, à meia-noite, no Curitiba Master Hall (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). O show marca o lançamento do DVD independente Criolo & Emicida – Ao Vivo, que reúne músicas de ambos com arranjos e direção musical de Daniel Ganjaman – produtor do festejado Nó na Orelha (2011), de Criolo.

Acompanhado por instrumentistas, como Guilherme Held (guitarras) e Marcelo Cabral (baixo), além do próprio Ganjaman, Emicida leva ao palco músicas como "Zica, Vai Lá" e "Viva (Melô dos Vileiros)", de Doozicabraba e a Revolução Silenciosa (2011), e "Triunfo", da mixtape Pra Quem Já Mordeu um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe... (2009). Criolo canta boa parte de Nó na Orelha, incluindo o hit "Não Existe Amor em SP" – cantada à flor da pele no show do DVD, gravado em setembro de 2012 com a ajuda de 40 microcâmeras espalhadas pelo palco (por vezes, presas nos próprios músicos).

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"Foi tudo muito tranquilo [na escolha do repertório]. Pensamos, basicamente, no que não poderia ficar de fora", conta Criolo, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo.

Emicida lembra que já tinha participado de vários projetos de Ganjaman. "O Ganja tinha vários arranjos na pontinha do bigode para tocar", explica o rapper, também por telefone. "Tinha arranjos que eu queria registrar porque não são os arranjos que eu uso no meu show", afirma.

Os rappers também aproveitam para incluir trechos de clássicos do rap nacional no show, em "homenagem a quem veio antes e abriu as portas", de acordo com Criolo. No DVD, o clima de celebração do rap tem sua expressão máxima na participação do líder do Racionais MC’s, Mano Brown.

Para Emicida, há pontos comuns entre suas músicas e as de Criolo, que conheceu na Rinha dos MCs, em São Paulo. "Nem são coisas que costumamos conversar, não é tão explícito. Mas, sim, acho que a identificação é mútua", explica Emicida. "Acho que a gente faz um apanhado bom do que produzimos nos últimos anos e, consequentemente, também conseguimos trazer uma visibilidade grande para a cultura do hip-hop mostrando parte dessa diversidade." Confira na íntegra a entrevista que os rappers concederam para a Gazeta do Povo.

Criolo, desde o começo de 2012 você e o Emicida, eventualmente, se apresentaram juntos. Como é dividir o palco com ele?

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Criolo: É uma celebração. Juntamos eu, ele e esses músicos todos maravilhosos e fazemos uma celebração musical. Já há sete anos nos conhecemos, acho. Eu o conheci quando ele foi participar da Rinha dos MCs, no aniversário da Casa do Hip-Hop de Diadema, que é a primeira casa de hip-hop do Brasil. Ele começou a frequentar a Rinha dos MCs, que acontecia na Zona Sul de São Paulo, perto do Grajaú. E todos foram acompanhando crescimento dele, não só na batalha, mas nos discos dele.

Como surgiu o DVD?

Emicida: É um show que estamos realizando há muito tempo. Eu e o Criolo passeamos pelos mesmos palcos faz um bom tempo. Desde que a gente se conheceu pessoalmente na Rinha temos uma história próxima. Dentro desse contexto, fizemos temporada no Sesc Pompeia, com os ingressos todos esgotados. Participei de algumas coisas nos shows do Criolo, ele nos meus, e vimos necessidade de repetir, mas num lugar maior, no Espaço das Américas, em São Paulo. E, alguns dias antes do show, a gente teve a ideia de registrar, e virou o DVD pelas mãos de Paula Lavigne, Andrucha Waddington e Ricardo Della.

Como foi a escolha do repertório gravado para o DVD?

Criolo: Foi tudo muito tranquilo. Pensamos, basicamente, no que não poderia ficar de fora. E, dentro disso, fizemos uma lista. Tem lugares em que temos duas horas e meia para cantar. Em outros, o limite é uma hora e quinze. Então, tudo depende do que está posto. No dia em que gravamos [em setembro de 2012], acredito que foram duas horas e meia de show.

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Emicida: Eu, particularmente, já tinha participado de várias coisas do Ganjaman, que toca com o Criolo nos shows. Já tinha participado da Seleta Coletiva [festa realizada por Ganjaman em São Paulo que reunia principalmente artistas de rap], de shows do Instituto, do Criolo, várias outras ocasiões. Então o Ganja tinha vários arranjos na pontinha do bigode para tocar. A seleção das músicas, pelo menos de minha parte, ocorreu da seguinte maneira: tinha arranjos que eu queria registrar porque não são os arranjos que uso no meu show. São arranjos que só utilizo quando toco junto com o pessoal do Ganja. Então, tendo a oportunidade do DVD, selecionei coisas comuns por onde meu repertório naturalmente passeia mais as outras coisas. Músicas como "Sorrisos e Lágrimas" e "Quero Ver Quarta-Feira" (que no fim das contas não entraram no DVD) têm um arranjo particular com essa formação e eu queria registrar pra sempre.

Veem ideias em comum no repertório um do outro?

Emicida: Acho que sim. Encontramos pontos comuns – nem são coisas que costumamos conversar, não é tão explícito. Mas sim, acho que a identificação é mutua. Tanto que resolvemos subir no palco juntos. Acho que a gente faz um apanhado bom do que a gente produziu nos últimos anos. E, consequentemente, a gente também consegue trazer uma visibilidade grande para a cultura hip-hop mostrando parte dessa diversidade.

Como surgiu a ideia de usar as câmeras GoPro para gravar o DVD?

Emicida: A gente tinha pouco tempo para programar um DVD no método padrão. Acho que o próprio orçamento que a gente tinha não comportaria a locação de todo o equipamento para executar isso. Então a grande sacada foi registrar com 40 micro câmeras espalhadas pelo palco, que iam, de certa forma, dar até uma perspectiva mais intimista para o espetáculo, porque as pessoas assistem de lugares que não são tão comuns, que não são planos usuais de um DVD tradicional.

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E como foi a gravação? Foi muito sofrido cantar com a câmera acoplada ao microfone? No vídeo do making of, você parece preocupado com isso antes do show...

(Risos). É verdade. O que acontece é que a GoPro atribui um peso maior ao microfone. O microfone tem um peso a que estamos naturalmente acostumados. A GoPro pendurada atribui um peso maior. Isso faz com que o microfone pese por outro eixo. Você tem que fazer um esforço maior pra deixar cápsula do microfone próxima da boca, no sentido que a gente se acostumou a usar. Mas isso, graças a Deus, tiramos de letra. O prendedor da minha câmera estava pouco frouxo no começo, mas foi consertado e tudo correu na normalidade.

Acompanharam a edição das imagens nestes 10 meses?

Criolo: Visitei algumas vezes a ilha de edição. Mas, no final das contas, nunca se sabe como vai ficar. Estou muito grato, porque, para quem não ia ter nem um registro, só o fato de rolar isso já foi extremamente especial.

Emicida: Eu sou naturalmente curioso. Então, já tinha trabalhado com a GoPro, já tinha tido várias experiências com ela. Mas foi uma coisa especial poder acompanhar a parte da edição, porque, a partir disso, pude opinar em algumas coisas, dar meus pitacos, estar junto com a equipe. Acredito muito nesse tipo de energia, de poder me aproximar dos caras enquanto eles estão fazendo o trabalho deles, da mesma maneira que eles se aproximaram quando estávamos fazendo música. No final, de alguma maneira, por mais sutil que seja, influencia o resultado.

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Como será o repertório em Curitiba?

Criolo: Basicamente o dessa apresentação, mais uma coisa ou outra que possa surgir, como uma declamação de poema. De novidade, estamos cantando na apresentação uma música do Rael, "Caminho". E tem um momento da apresentação que é uma homenagem a quem veio antes e abriu as portas. Criamos uma situação para homenagear os MCs que serviram de espelho para a gente. Cantamos vários clássicos do rap nacional. Isso é uma coisa que não está no DVD.

A presença de Mano Brown no DVD representa bem essa ideia? Como foi a participação dele?

Criolo: Acho que ele é um dos grandes do nosso período. É uma honra poder dividir o palco com ele.

Emicida: Foi histórico. Na verdade, aos olhos de quem está de fora, é um choque muito maior. Para nós, é especial, histórico, intenso. Mas, para quem tem um certo convívio com Mano Brown e sabe da mente dele, do pensamento dele, consegue ler o gênio da música que ele é, não foi nenhum bicho de sete cabeças.

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Ele ainda é a maior referência para todo rapper?

Emicida: Isso é coisa que não está nem pra ser discutido. Racionais [MC’s] é unanimidade. O peso que o Racionais atribuiu ao rap... Vou além: Racionais é o livro de história negra que alcançou a periferia com maior intensidade nos últimos 30 anos. Claro que a gente teve várias ações afirmativas, diversas outras frentes foram abertas, mas ninguém alcançou a favela da maneira como fez o discurso do Mano Brown. Isso é unânime.

Curitiba é uma das poucas cidades que estão recebendo este show agora. É um lugar que recebe bem os shows de vocês?

Emicida: Na verdade, faz bom tempo que não vou a Curitiba. Nesses últimos dois anos, diminuí bastante a quantidade de shows, porque estava fazendo um disco. Então, agora, a gente selecionou algumas praças mais tradicionais, por onde os shows costumam passar, e Curitiba está entre elas. Mas faz bastante tempo que não toco aí. Estou bem ansioso pra ver como vai ser a receptividade do DVD. Acho que uma das últimas vezes que toquei foi no Lupaluna. Que foi legal pra caramba também.

O que vem à mente quando pensa em Curitiba? Pensa na cena do rap daqui?

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A cena do rap de Curitiba participa de uma maneira bem intensa do resto do país porque boa parte dos beatmakers – os produtores musicais do rap – saem de Curitiba, e alguns da maior qualidade. MV Bill, por exemplo, acabou de lançar uma música com o Laudz, um menino aí de Curitiba. Boa parte das coisas do Marcelo D2 foram feitas com o Nave. A Karol Conka, que é um nome que está despontando, vem de Curitiba. Então, acho que cada vez menos a gente vai ter que discutir sobre a participação de Curitiba dentro do cenário atual, do rap, da importância de Curitiba nisso tudo. Acho que há mais de dez anos vemos Curitiba participar de uma maneira intensa. E acho que isso tende a aumentar.

Qual a principal lembrança da gravação do DVD?

Criolo: A entrega dos músicos. Se faltasse qualquer um, não teria sido a energia que foi, e que é hoje. Tenho uma felicidade muito grande de ter pessoas tão especiais dividindo o palco. Podermos dividir uma energia ali. Os caras são espetaculares. Dedico a eles este espaço. Marcelo Cabral é um iluminado. O Gui Held, é pupilo direto de Lanny Gordin. Aí você tem o Maurício Badé (percussão), um dos fundadores do Mestre Ambrósio. Na bateria, Sérgio Machado. E ter Thiago França (sax e flauta), Rodrigo Campos (cavaquinho), a Juçara Marçal (voz), ali com a gente, é uma coisa... O Daniel Ganjaman, sem palavras. O DJ Dan Dan está comigo há 17 anos. O Emicida, o Rael, também participando. Vi esse menino crescendo, nem cantava rap, nem cantava nada. Vez ou outra eu ia cantar na Zona Sul, ele estava no lado de fora com uns amigos, andando de skate, colava nas festas. Então, foi um recorte muito bonito. Tem muita coisa ao redor. São históricos de vida que se cruzam e se complementam em algum momento.