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Seria interessante saber se as recentes adaptações dos quadrinhos nos cinemas estão despertando o interesse do público pelos trabalhos originais. Possivelmente não muito, já que até bem pouco tempo a arte de contar história em desenhos seqüenciados era considerada algo apenas para crianças – normais ou crescidas (nerds, para alguns) –, preconceito que vem sendo vencido lentamente.

Mas, daqui a alguns anos, talvez não seja preciso o espectador comprar uma graphic novel para saber como é originalmente a história que viu na tela. Sin City – A Cidade do Pecado, filme de Robert Rodriguez e Frank Miller, que finalmente estréia hoje no Brasil (com dois meses de atraso em relação à primeira data prevista), é a transposição perfeita dos quadrinhos para o cinema.

Ainda é cedo para saber se a produção será realmente um marco da sétima arte, influenciando uma grande leva de filmes, como aconteceu há poucos anos com Matrix, dos irmãos Wachowski (atualmente, a dupla produz V de Vingança, outra trama adaptada de uma graphic novel, que deverá ser lançada nos cinemas em novembro). Mas o trabalho de Rodriguez e Miller certamente representa um novo patamar em termos de cinema digital.

Para quem não conhece, Sin City é uma série desenhada pelo próprio Miller, um cultuado quadrinista que, nos anos 80, foi responsável pelo resgate de Batman nas graphic novels O Cavaleiro das Trevas e Batman: Ano Um. As tramas acontecem em uma cidade marcada por personagens fortes – homens durões e valentes, tiras e políticos corruptos, perigosas prostitutas –, que se envolvem em violentas tramas de vingança e matança.

O autor publicou várias histórias curtas e cinco completas. Três delas servem de base para o filme: A Cidade do Pecado, protagonizada pelo grandalhão Marv, que procura vingar a prostituta Goldie, a única pessoa que lhe deu carinho; A Grande Matança, envolvendo o detetive Dwight e um grupo de prostitutas lideradas por Gail, que se envolvem com o violento policial Jack Boy; e O Assassino Amarelo, centrada no policial Hartigan, que, um dia antes de se aposentar, tenta salvar uma menina de uma maníaco sexual.

Rodriguez realizou praticamente todo o filme no formato digital – a Sin City que aparece na tela é completamente virtual. Ou seja, na maior parte das filmagens, os atores contracenaram com os já conhecidos fundos verdes, nos quais as imagens da cidade seriam posteriormente inseridas na ilha de edição. O diretor texano preservou ao máximo o traço em preto e branco de Miller – que, assim como nos quadrinhos, recebe algumas cores em momentos especiais da produção. A semelhança do que se vê na tela com os desenhos do quadrinista é impressionante.

Mas há alguns problemas na adaptação. Rodriguez (de El Mariachi, A Balada do Pistoleiro e da série Pequenos Espiões) nunca primou por grandes roteiros e sempre investiu na parte visual de seus trabalhos, principalmente os realizados com câmera digital. Com Sin City não foi diferente. Os diálogos do roteiro são os mesmos das graphic novels, o que faz com que o filme tenha alguns problemas de ritmo e fique engessado em vários momentos – sabe-se que o está vendo na tela não é real, mas algumas frases soam tão pouco naturais que ficam parecendo teatro mal-feito por atores de segunda. Por este motivo, e pela dificuldade de atuar sem ter nada em volta como referência, alguns deslizes de atuação devem ser levados em consideração.

Mas são erros perdoáveis em um trabalho pioneiro. Aliás, um ótimo filme de ação, violento às vezes (mas de forma estilizada), e com muito senso de humor. Além do excelente visual, o espectador poderá conferir na tela um elenco de respeito – Bruce Willis (Hartigan), Mickey Rourke (Marv), Clive Owen (Dwigth), Elijah Wood (Kevin), Benicio del Toro (Jack Boy), Jessica Alba (Nancy), Rosario Dawson (Gail) e Nick Stahl (Assassino Amarelo) são os principais – e a participação especial do cultuado Quentin Tarantino como diretor (na seqüencia automobilística de Dwight e Jack Boy). Nas mãos de grandes roteiristas e diretores, a nova tecnologia apresentada por Rodriguez ainda poderá render outras grandes produções.

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