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 | Adriano V. Carneiro/ Gazeta do Povo
| Foto: Adriano V. Carneiro/ Gazeta do Povo

Possibilidades

O Real Gabinete Português de Leitura digitalizou o seu acervo e tem outras funções além de ser uma biblioteca:

Digital

Todos os 300 mil títulos que estão armazenados no Real Gabinete Português de Leitura foram digitalizados e estão disponíveis para acesso por meio do seguinte endereço: www.realgabinete.com.br. De raridades, como as Cartas Régias assinadas por Marquês do Pombal, no século 18, a obras literárias do tempo presente.

Mediador de relações

O Real Gabinete também atua como uma espécie de curador das relações culturais e sociais luso-brasileiras, desenvolvendo atividades por meio do Centro Cultural, do Centro de Estudos, do Pólo de Pesquisa sobre as Relações Luso-brasileiras (PPRLB), e a partir do Acervo Artístico que preserva a fachada, obras de arte e as mobílias que compõem o espaço.

A instituição é administrada desde 1992 por Antonio Gomes da Costa, economista, português da cidade de Póvoa do Varzim, também presidente da Associação Portuguesa e Luso-Brasileira.

Rio de Janeiro - A primeira impressão é a de que se está entrando em um santuário. O edifício, inaugurado em 1887, tem a altura equivalente à de um prédio de seis andares. O som do trottoir dos transeuntes na rua praticamente não se faz soar dentro do recinto que tem 300 mil títulos.

O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Ja­­neiro tem a maior coleção de livros em nosso idioma fora de Portugal. Obras de prosadores con­­temporâneos, co­­mo Ondjaki, Miguel Sousa Ta­­vares e Mia Couto, figuram no acervo. O acesso a essas, e a outras publicações, está disponível a qualquer pessoa pa­­ra consulta em uma das 20 me­­­­sas situadas no térreo. Em­­préstimo, de levar para ca­­sa, apenas pa­­ra os 240 associados, e somente livros pu­­bli­­cados depois de 1950.

Esse espaço que preserva a memória e a cultura lusitana foi fundado no dia 14 de maio de 1837, quase três décadas depois da chegada de d. João VI ao Rio de Janeiro, em 1808. O primeiro presidente foi Jo­­sé Marcelino da Rocha Cabral, um sujeito de reconhecida ati­­vidade intelectual, que ti­­nha por objetivo criar um es­­paço de leitura aos intelectuais da colônia portuguesa no Brasil.

Inicialmente, o Real Gabinete funcionou na antiga Rua Direita, atual 1.º de Março, e desde aquele período os diretores adotaram uma política que se mantém até hoje: ad­­qui­­rir obras raras. Antes de ter como sede esse edifício da Rua Camões, a instituição tam­­bém esteve localizada nas ruas S. Pedro, Quitanda e Be­­ne­­­ditinos e, ao longo do tempo, algumas raridades foram acumuladas.

O item mais antigo é um livro de História, de 1502, chamado De Bello Civili, de Marco Aneu Lucano. Entre as preciosidades, há um exemplar de Os Lusíadas, de Luis de Camões, de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus. O manuscrito original do ro­­mance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e o original de O Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias, são outras joias do Gabinete.

Há cuidados e não pouca cautela para preservar os conteúdos. O público não tem acesso direto nem mesmo a obras recentes. Para vir a consultar qualquer título, é ne­­cessário se identificar na re­­cepção e, apenas com papel e caneta, manusear a obra, que é tirada das estantes por um dos 15 funcionários.

Os dados de outubro revelam que, naquele mês, 551 livros foram consultados e outros 111, emprestados. O número de pessoas que passou pelas dependência do es­­paço atingiu os 1.734.

Diante da população do Rio de Janeiro, que beira os 6 mi­­lhões, há uma evidência: o es­­paço é pouco visitado. A reportagem da Gazeta do Povo esteve no Gabinete Real no dia 18 de novembro e, no entorno, pouca gente disse conhecer a instituição. Na­­quele dia, Carlos Couto, funcionário público, e Licia Fernandes, médica, am­­bos de 28 anos, cariocas e descendentes de portugueses, entravam pela primeira vez no espaço que preserva a memória lusitana.

Casados, eles estavam em férias com a finalidade de co­­nhecer espaços culturais da cidade que, para eles, devido aos compromissos do cotidiano, acabam ficando fora de suas rotas. "Viajamos pela Eu­­ropa e temos a impressão de que o Gabinete Real não deve nada a qualquer outro prédio histórico do mundo. É imponente e impressionante", diz Couto.

No espaço de consulta, apenas três pesquisadores. A bibliotecária Vera Lúcia de Almeida comenta que não é recomendável entrevistar quem está ali, "focado na pesquisa". O silêncio rompe apenas quando o fotógrafo Adriano V. Carneiro aperta o botão de disparo de sua máquina fotográfica para registar, en­­tre outros cliques, a imagem que ilustra esta página.

As lombadas coloridas dos livros distribuídos em três an­dares de estantes provocam um efeito capaz de arrebatar a todos, de quem trabalha no local, como o gerente administrativo Orlando José Dias Inácio ao casal Licia e Carlos Couto, que descobria, pela primeira vez, os encantos do Gabinete. "Até parece que estou em um espaço sa­­grado, com tanta cultura ar­­mazenada, o Gabinete é mesmo um santuário", finaliza Couto.

Serviço:

Real Gabinete Português de Leitura (R. Luís de Camões, 30 – Centro – Rio de Janeiro), (21) 2221-3138. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas. Entrada franca.

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