Possibilidades
O Real Gabinete Português de Leitura digitalizou o seu acervo e tem outras funções além de ser uma biblioteca:
Digital
Todos os 300 mil títulos que estão armazenados no Real Gabinete Português de Leitura foram digitalizados e estão disponíveis para acesso por meio do seguinte endereço: www.realgabinete.com.br. De raridades, como as Cartas Régias assinadas por Marquês do Pombal, no século 18, a obras literárias do tempo presente.
Mediador de relações
O Real Gabinete também atua como uma espécie de curador das relações culturais e sociais luso-brasileiras, desenvolvendo atividades por meio do Centro Cultural, do Centro de Estudos, do Pólo de Pesquisa sobre as Relações Luso-brasileiras (PPRLB), e a partir do Acervo Artístico que preserva a fachada, obras de arte e as mobílias que compõem o espaço.
A instituição é administrada desde 1992 por Antonio Gomes da Costa, economista, português da cidade de Póvoa do Varzim, também presidente da Associação Portuguesa e Luso-Brasileira.
Rio de Janeiro - A primeira impressão é a de que se está entrando em um santuário. O edifício, inaugurado em 1887, tem a altura equivalente à de um prédio de seis andares. O som do trottoir dos transeuntes na rua praticamente não se faz soar dentro do recinto que tem 300 mil títulos.
O Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro tem a maior coleção de livros em nosso idioma fora de Portugal. Obras de prosadores contemporâneos, como Ondjaki, Miguel Sousa Tavares e Mia Couto, figuram no acervo. O acesso a essas, e a outras publicações, está disponível a qualquer pessoa para consulta em uma das 20 mesas situadas no térreo. Empréstimo, de levar para casa, apenas para os 240 associados, e somente livros publicados depois de 1950.
Esse espaço que preserva a memória e a cultura lusitana foi fundado no dia 14 de maio de 1837, quase três décadas depois da chegada de d. João VI ao Rio de Janeiro, em 1808. O primeiro presidente foi José Marcelino da Rocha Cabral, um sujeito de reconhecida atividade intelectual, que tinha por objetivo criar um espaço de leitura aos intelectuais da colônia portuguesa no Brasil.
Inicialmente, o Real Gabinete funcionou na antiga Rua Direita, atual 1.º de Março, e desde aquele período os diretores adotaram uma política que se mantém até hoje: adquirir obras raras. Antes de ter como sede esse edifício da Rua Camões, a instituição também esteve localizada nas ruas S. Pedro, Quitanda e Beneditinos e, ao longo do tempo, algumas raridades foram acumuladas.
O item mais antigo é um livro de História, de 1502, chamado De Bello Civili, de Marco Aneu Lucano. Entre as preciosidades, há um exemplar de Os Lusíadas, de Luis de Camões, de 1572, que pertenceu à Companhia de Jesus. O manuscrito original do romance Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, e o original de O Dicionário da Língua Tupy, de Gonçalves Dias, são outras joias do Gabinete.
Há cuidados e não pouca cautela para preservar os conteúdos. O público não tem acesso direto nem mesmo a obras recentes. Para vir a consultar qualquer título, é necessário se identificar na recepção e, apenas com papel e caneta, manusear a obra, que é tirada das estantes por um dos 15 funcionários.
Os dados de outubro revelam que, naquele mês, 551 livros foram consultados e outros 111, emprestados. O número de pessoas que passou pelas dependência do espaço atingiu os 1.734.
Diante da população do Rio de Janeiro, que beira os 6 milhões, há uma evidência: o espaço é pouco visitado. A reportagem da Gazeta do Povo esteve no Gabinete Real no dia 18 de novembro e, no entorno, pouca gente disse conhecer a instituição. Naquele dia, Carlos Couto, funcionário público, e Licia Fernandes, médica, ambos de 28 anos, cariocas e descendentes de portugueses, entravam pela primeira vez no espaço que preserva a memória lusitana.
Casados, eles estavam em férias com a finalidade de conhecer espaços culturais da cidade que, para eles, devido aos compromissos do cotidiano, acabam ficando fora de suas rotas. "Viajamos pela Europa e temos a impressão de que o Gabinete Real não deve nada a qualquer outro prédio histórico do mundo. É imponente e impressionante", diz Couto.
No espaço de consulta, apenas três pesquisadores. A bibliotecária Vera Lúcia de Almeida comenta que não é recomendável entrevistar quem está ali, "focado na pesquisa". O silêncio rompe apenas quando o fotógrafo Adriano V. Carneiro aperta o botão de disparo de sua máquina fotográfica para registar, entre outros cliques, a imagem que ilustra esta página.
As lombadas coloridas dos livros distribuídos em três andares de estantes provocam um efeito capaz de arrebatar a todos, de quem trabalha no local, como o gerente administrativo Orlando José Dias Inácio ao casal Licia e Carlos Couto, que descobria, pela primeira vez, os encantos do Gabinete. "Até parece que estou em um espaço sagrado, com tanta cultura armazenada, o Gabinete é mesmo um santuário", finaliza Couto.
Serviço:
Real Gabinete Português de Leitura (R. Luís de Camões, 30 Centro Rio de Janeiro), (21) 2221-3138. De segunda a sexta-feira, das 9 às 18 horas. Entrada franca.
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