Uma mesma cantora em dois tempos. Essa é a idéia por trás da iniciativa da gravadora Biscoito Fino de lançar um DVD duplo que inclui dois documentários sobre Maria Bethânia, Pedrinha de Aruanda (2007), de Andrucha Waddington, e Bethânia Bem de Perto (1966), de Julio Bressane e Eduardo Escorel. Duas facetas de uma mesma artista separadas por mais de 40 anos, mas unidas pela tecnologia do século 21.

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Dirigido pelo cineasta carioca Andrucha Waddington (de Casa de Areia), o documentário Maria Bethânia – Pedrinha de Aruanda é um registro original e intimista da intérprete baiana. O ponto de partida é a comemoração do aniversário de 60 anos de Bethânia, celebrados durante uma apresentação em Salvador e uma missa em Santo Amaro da Purificação, sua cidade natal, em 2006.

Com pouco mais de um hora de duração, o filme é um registro singelo da vida da cantora, a partir de um mergulho em suas raízes, mostrando sua proximidade com a família e com a terra natal. Segundo Waddington, a decisão de não fazer perguntas deu muito certo. Permitiu que a cantora ficasse à vontade, ao natural, distante do mito.

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Em Santo Amaro, Bethânia guia o diretor pelos lugares que marcaram sua vida. E é na casa onde a artista passou sua infância e adolescência que o filme chega ao seu ponto alto: a seresta familiar na varanda, com a participação de sua mãe, Dona Canô, do irmão, o cantor e compositor Caetano Veloso, e do violonista e maestro Jaime Alem, seu companheiro de trabalhos musicais de longa data.

Maria Bethânia também revela sua história a partir de músicas que a acompanharam ao longo de sua vida, como os clássicos populares "Gente Humilde" (Garoto/Chico Buarque/Vinicius de Moraes), "Felicidade" (Lupicínio Rodrigues) e "A Tristeza do Jeca" (Angelino de Oliveira). Por meio da simplicidade e lucidez de Dona Canô, o documentário vai ao encontro das raízes da cantora para fazer o retrato de uma família genuinamente brasileira.

Início de carreira

O documentário de Júlio Bressane e Eduardo Escorel, Bethânia Bem de Perto, flagra, em preto-e-branco, uma Maria Bethânia quase menina (na época, com apenas 20 anos). Ela acabara de chegar ao Rio de Janeiro, onde fora substituir Nara Leão no lendário show Opinião. A cantora, que se tornou nacionalmente conhecida entoando "Carcará", revela todo seu potencial. Canta Baden Powell e Vinicius de Moraes ("Deixa" e "Apelo"), passa por Paulinho Viola ("Coração Vulgar") e ataca até de Luiz Gonzaga e José Fernandes ("Olha pro Céu"), entre outras. Aparecem no filme o irmão Caetano, que a acompanhou à então capital da Guanabara, os amigos Rosinha de Valença, Susana de Moraes (filha de Vinicius) e Jards Macalé – vale lembrar que a casa onde Bethânia se hospeda e o fusca que aparece na filmagem são da mãe dele. Bressane e Escorel conseguem perceber a estrela na qual Bethânia se transformaria. GGGG