• Carregando...
Ben Affleck, esnobado como diretor, mas consagrado como produtor e homem de cinema | Mario Anzuoni e Mike Blake/Reuters
Ben Affleck, esnobado como diretor, mas consagrado como produtor e homem de cinema| Foto: Mario Anzuoni e Mike Blake/Reuters
  • Ang Lee: segundo Oscar de melhor direção
  • Jennifer Lawrence representa a vitória da juventude sobre a experiência
  • Daniel Day-Lewis tornou-se recordista entre

O fato de a primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama, ter anunciado, na madrugada de domingo para segunda (horário de Brasília), Argo como o vencedor do Oscar de melhor filme teve um inegável valor simbólico. O longa de Ben Affleck, que ficou de fora da disputa de melhor diretor, resgata um grande êxito da CIA, na virada da década de 80, durante a administração do presidente democrata Jimmy Carter.

A ação, orquestrada pela agência de inteligência norte-americana em parceria com o Ministério das Relações Exteriores do Canadá, conseguiu tirar do Irã, graças a um plano mirabolante que envolveu, inclusive, a indústria do cinema em Hollywood, um grupo de diplomatas que havia escapado da invasão, por radicais, da embaixada dos EUA em Teerã, durante a Revolução Islâmica de 1979.

Embora tenha sido o ator veterano Jack Nicholson o responsável por entregar as estatuetas aos produtores de Argo, Affleck, George Clooney e Grant Heslov, o anúncio foi feito por Michelle, da Casa Branca, ao vivo. Isso quer dizer muita coisa. Ela até reforçou a ideia de que os nove concorrentes eram todos filmes muito bons, mas a escolha de Argo pareceu mais do que pertinente em um momento no qual a confiança dos norte-americanos em seu governo está algo chamuscada, devido à crise econômica que o país atravessa e à sua errática política externa.

Portanto, faz mais sentido que um caso de sucesso desenterrado do passado tenha sido a opção, em vez de reconhecer A Hora Mais Escura, de Kathryn Bigelow, também indicado na categoria principal. Afinal, trata-se de um filme que, apesar de retratar o processo que culminou com a morte do líder terrorista Osama Bin Laden, teoricamente um triunfo da pátria, também mexe em um vespeiro polêmico, insinuando que, para que a missão fosse cumprida, foi necessário, ao longo dos anos, recorrer a métodos pouco defensáveis para a obtenção de informações, como a tortura. Em Argo, pelo menos segundo o roteiro de Chris Terrio, a vitória foi da criatividade, e não da força bruta e da truculência.

O filme de Affleck, enquanto thriller político, é muito eficiente e, se não ousa, reafirma o talento de um cineasta aplicado na missão de perpeturar fórmulas testadas e aprovadas do cinema norte-americano. Mas o fato de ser um ator que virou diretor talvez tenha pesado contra ele frente à concorrência. Vale lembrar, contudo, que no passado a Academia já premiou Kevin Costner (por Dança com Lobos) e Mel Gibson (Coração Valente), até menos experientes por trás das câmeras do que Affleck.

Direção

Na categoria de melhor direção, a Academia, que poderia ter ousado muito dando a estatueta ao alemão radicado na Áustria Michael Haneke, por Amor, preferiu Ang Lee. As Aventuras de Pi nem fez tanto sucesso assim nos Estados Unidos, mas já rendeu quase US$ 600 milhões nas bilheterias de todo o mundo, e reafirma o talento e a sensibilidade de um diretor inventivo, que já havia vencido na categoria com o controverso O Segredo de Brokeback Mountain – ele tem um terceiro Oscar, de melhor filme estrangeiro, por O Tigre e o Dragão.

As Aventuras de Pi ganhou outras três estatuetas: melhor fotografia, efeitos visuais e trilha sonora. Todas muito merecidas. Haneke acabou ficando com o prêmio de melhor longa-metragem estrangeiro. Mas Amor merecia mais.

Sua estrela, a veterana Emmanuelle Riva, que fez no domingo 86 anos, teria sido uma escolha mais justa da Academia para o Oscar de melhor atriz. Mas Jennifer Lawrence acabou confirmando seu favoritismo por O Lado Bom da Vida. A jovem estrela de Jogos Vorazes, que já havia sido indicada uma vez por Inverno da Alma (2010), é, de fato, um talento. Mas tem apenas 22 anos e sua escolha pode se revelar prematura – Gwyneth Paltrow, por Shakespeare Apaixonado (1998), tinha 26, e o Oscar não exatamente impulsionou sua carreira.

Na categoria de melhor atriz coadjuvante, a Academia, que tem a tradição de premiar jovens estrelas em ascensão, seguiu a mesma tendência e deu o prêmio a Anne Hathaway, que de fato está muito bem como a operária/prostituta/mendiga Fantine do musical Os Miseráveis, que venceu em duas outras categorias: melhor maquiagem e mixagem de som.

Atores

Por Lincoln, Daniel Day-Lewis, cuja vitória era dada como certa, tornou-se o único ator a vencer três vezes na categoria principal – já havia ganho antes por Meu Pé Esquerdo (1989) e Sangue Negro (2007).

Ele recebeu a estatueta de Meryl Streep, que ganhou ano passado por A Dama de Ferro, e, em seu discurso, brincou que a ideia inicial era que ele tivesse feito o papel da primeira-ministra britânica Margaret Thatcher e Meryl, o do presidente americano.

Entre os coadjuvantes, Christoph Waltz, por Django Livre, venceu pela segunda vez – ele já tinha sido premiado antes por Bastardos Inglórios (2009), também dirigido por Quentin Tarantino, que levou neste ano seu Oscar número 2, pelo roteiro original de Django. O primeiro foi por Pulp Fiction – Tempo de Violência (1994).

Em tempo: a apresentação do mestre-de-cerimônias Seth McFarlane deixou muito a desejar, com falta de desenvoltura do comediante e diretor, que se perdeu em piadas sem graça.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]