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Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho | Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo
Elton John participou do Viajazz Music Festival, em Madri, no início de julho| Foto: Sergio Perez-Reuters/Gazeta do Povo

Coincidência interessante. Na mesma semana em que as tropas britânicas finalmente deixaram a Irlanda do Norte, depois de 38 anos de ocupação contínua, estréia hoje, no Cine Novo Batel, Ventos da Liberdade, do cineasta inglês Ken Loach (Terra e Liberdade), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2006. O filme tem como foco a resistência do povo irlandês e sua luta pela independência do país.

A trama do longa-metragem se divide em duas partes. Na primeira, iniciada em 1916, o estudante de Medicina Damien (Cillian Murphy, de Sunshine e Extermínio) une-se ao irmão Teddy (Padraic Delaney) na causa guerrilheira do IRA (Exército Republicano Irlandês) pela independência do país, ocupado por tropas paramilitares da Inglaterra. Já aqui, o filme começa a apresentar os primeiros sinais de sua principal deficiência: a ausência de ambigüidade. Loach, um cineasta de esquerda e autor de uma obra sempre engajada e poucas vezes sutil, se rende a um maniqueísmo até certo ponto simplista: enquanto os ingleses são retratados como vilões, os irlandeses surgem na tela como heróis abnegados.

A produção cresce um pouco na segunda parte, depois que a Inglaterra oferece um acordo de paz. É interessante observar o que ocorre com a Irlanda. O país se fratura entre os que aceitam a proposta e aqueles que desejam a autonomia total, buscando a criação de uma república socialista. Loach distancia-se um pouco da discussão meramente política, para se concentrar em um drama que poderia ser bem mais instigante: Teddy e Damien, em meio à guerra civil que se instaura na ilha, combatem em lados opostos. Enquanto o primeiro ajuda a organizar o Estado irlandês, o outro opta pela causa radical do IRA. Essa escolha, entretanto, não afasta Ventos da Liberdade de uma polaridade perigosa e até certo ponto ingênua.

Embora, pelo menos teoricamente, a luta de irmão contra irmão pudesse servir de base para uma discussão mais complexa sobre o conflito, Loach tropeça nas próprias convicções, deixando clara e inquestionável sua preferência pelo IRA. E Ventos da Liberdade assume um tom panfletário e algo artificial. Pena. É um bom filme do ponto de vista técnico e artístico, mas peca por subestimar a capacidade do espectador de tirar suas próprias conclusões. GG1/2

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