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Os dedos que tiram o som do violão já tocaram na banda de Carmen Miranda, a Pequena Notável. As mãos que tocam o pandeiro já fizeram parte do grupo de Nhô Belarmino e Nhá Gabriela. Edson Jorge e seu parceiro Odamir Bartolomeu, que juntos tocaram décadas atrás e se reencontraram recentemente, poderiam muito bem viver de lembrar o passado. Até porque o violonista está com 84 anos. E o pandeirista, com 72. Mas não é de lembranças que eles querem viver. Por isso decidiram entrar no novo projeto. Trata-se de uma banda quase inacreditável. Um grupo de sete homens, todos moradores de um lar para idosos de Curitiba. Dizendo assim, todo mundo diria que tem tudo para não dar certo. Mas deu. Os Velhos Guris – nome adotado por iniciativa dos próprios músicos – já está rodando a cidade em shows para instituições beneficentes e acaba de gravar seu primeiro CD, que será lançado hoje à noite, na PUC.

A idéia de montar a banda surgiu de uma aula de musicoterapia, organizada pela Socorro aos Necessitados, organização não-governamental que mantém o Recanto do Tarumã. Dos 87 internos, alguns demonstraram vontade de ir além das aulas de musicalização. Até porque já tinham formação e haviam tocado na noite. "Montamos um grupo menor, que passou a ter intenções estéticas", afirma a musicoterapeuta Claudimara Zanchetta, responsável pelo grupo. Edson Jorge e Odamir tomaram a frente e orientaram os outros integrantes. Vários dos membros da banda estavam aprendendo um instrumento pela primeira vez.

Além de Edson e Odamir, os únicos dois que tinham algum passado musical eram Antônio Luiz de Oliveira, de 63 anos, que toca tamborim; e Honório Santos, de 64. "Seu Honório disse que sabia tocar algumas coisas na gaita. Compramos uma gaita para ele e fiquei surpresa. Ainda mais ao saber que ele aprendeu tudo de ouvido", conta Claudimara, que toca violão junto com a banda. Os novatos, que nunca haviam feito música antes são José Ferreira da Costa, de 63 anos, Hilário Júlio de Freitas, 61 anos, César Massa, 61 anos, e Valdemar Garcia Estrela, 64 anos.

O repertório é variado. Há uma única exigência: ninguém quer saber de muitas novidades. Todas as músicas que entraram no CD, por exemplo, são velhas conhecidas. "De Asa Branca" a "Mocinhas da Cidade", passando por "A Voz do Morro". Uma única composição própria de Edson Jorge emplacou no CD, que passa a ser vendido a partir de hoje, por R$ 1o0. Cantando músicas antigas, que todos conhecem, eles se sentem mais à vontade para cantar junto.

Ninguém na banda quer pensar em algo mais ambicioso do que eles já vêm fazendo. "A parte boa é que ninguém aqui mais tem ambição. É uma brincadeira nossa", diz Odamir. Mesmo assim, o grupo já tocou no Shopping Estação, no lançamento da Boutique Solidária, fez uma apresentação em parceria com o cantor Jair Rodrigues, participou de um fórum de musicoterapia da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) e tocou em jantares beneficentes. O único que fala em levar o projeto muito mais longe, com um sorriso no rosto, é Edson Jorge. "Não quero dinheiro, mas quero ficar famoso", comenta ele, sempre sorrindo.

Para breve, os planos são de gravar o segundo CD. Por isso, os músicos continuam ensaiando sempre. Até porque, como bons profissionais das artes, eles sabem que o show não pode parar. Nem mesmo depois dos 80.

Serviço: Lançamento do CD Os Velhos Guris. Auditório Gregor Mendel, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da PUC (R. Imaculada Conceição, 1.155). Hoje, às 20 horas. Entrada: um quilo de alimento não-perecível. Quem quiser conhecer melhor o grupo e a ong Socorro aos Necessitados, pode visitar www.socorroaosnecessitados.org.br ou ligar para (41) 3266-3813.

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