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Sting: sem dom para as rimas | Arquivo Gazeta do Povo
Sting: sem dom para as rimas| Foto: Arquivo Gazeta do Povo

São Paulo (SP) – Paul Higgis faz filmes-sermões. Esse é seu maior pecado como homem de cinema. Talentoso roteirista, sobretudo no que diz respeito à construção da narrativa – os premiados Menina de Ouro e Crash – No Limite estão aí para provar –, o diretor tropeça na pretensão de catequizar o público, de tirá-lo da suposta alienação em que vivem. Embute mensagens políticas e comentários sociológicos de maneira óbvia e doutrinária demais, o que acaba, de certa forma, drenando a força das boas histórias que tem para contar. O cineasta deveria ter feito um curso de sutileza com Clint Eastwood, com quem trabalhou em Menina de Ouro.

Em No Vale das Sombras, seu primeiro longa-metragem depois de ter conquistado o Oscar de melhor filme por Crash, Higgis discute a participação dos Estados Unidos na Guerra do Iraque. Ou melhor, questiona o efeito do conflito sobre os jovens enviados ao front no Oriente Médio. A história é interessantíssima.

Baseado em fatos reais, o filme gira em torno do misterioso desaparecimento de Mike Deerfield, um jovem soldado que acaba de retornar da guerra. Como o exército parece não saber – ou mesmo demonstrar interesse em descobrir – o paradeiro do soldado, o pai do rapaz, um militar reformado chamado Hank (Tommy Lee Jones), resolve viajar até a base militar para tentar encontrá-lo.

A viagem de Deerfield em busca do filho aos poucos se revela uma jornada às profundezas do inferno, onde o personagem se depara com fantasmas do passado e com os efeitos devastadores que a Guerra exerceu sobre Mike. Hank também se digladia com entraves burocráticos, segredos e mentiras. Ao seu lado, conta apenas com uma idealista investigadora da polícia local, vivida por Chalize Theron, mais uma vez enfeiada para convencer no papel de "mulher comum".

Em um desempenho magistral de Lee Jones, merecedor de uma indicação ao Oscar (senão da própria estatueta), Hank ganha complexidade, angústia, bravura e crueza. O ator é, sem dúvida, um dos melhores nomes de sua geração, superando, em sua fase madura, ícones como Robert de Niro e Al Pacino. Lee Jones empresta ao filme dignidade suficiente para compensar as falhas do roteiro, que insiste em esfregar na cara do espectador o inegável absurdo que é a intervenção americana no Iraque.

Graças ao ótimo elenco, que conta, ainda, com uma pequena, porém marcante participação de Susan Sarandon no papel da mulher de Hank, e ao roteiro bem armado, No Vale das Sombras se salva do tom excessivamente panfletário que assume em algumas seqüências.

O editor viajou a convite da Mostra.

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