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Não faltam pontos altos na carreira de Norton Morozowicz. Só para citar alguns, o músico foi parceiro do grande flautista francês Jean-Pierre Rampal; fundou a Orquestra de Blumenau, um dos grupos de câmara mais importantes do país em anos recentes; gravou dezenas de discos; foi citado por alguns dos principais jornais do mundo, entre eles o temido e respeitado The New York Times. Mas, quando conseguiu todas essas honrarias, ele estava longe de seu local de nascimento,.

Curiosamente, quando saiu de Curitiba, em 1968, Morozowicz não era conhecido como flautista, muito menos como o maestro que se tornaria anos mais tarde. Ele era um contrabaixista, célebre por suas apresentações com o SamJazz Quintet, grupo da capital especializado em jazz e bossa-nova. Ao lado de Hilton Alice, Célio Malgueiro, João Chiminazo Neto e Wilson Balso, ele fazia dançar os casais de clubes como o Santa Mônica.

Hoje, não há nada de contrabaixo nem de jazz na vida de Norton – embora ele continue sendo um ardoroso fã de nomes como Bill Evans, Oscar Peterson e Ray Brown. A carreira como flautista, que decolou com o convite para tocar na Orquestra Sinfônica Brasileira, aos 20 anos, levou-o a se dedicar em tempo integral à música clássica. "Foi uma grande chance ir para lá, com a orquestra sendo assumida por Isaac Karabitchevsky", conta ele, que só tinha tido experiência de orquestra com a Sinfônica da UFPR – à época, a Orquestra Sinfônica do Paraná não existia.

O jovem flautista começou a chamar a atenção, mas não antes de passar anos dedicando dias e noites a se aperfeiçoar, com aulas na Escola Nacional de Música e treinos incessantes. Os resultados vieram aos poucos. Um dos mais inesperados surgiu em 1981, quando o francês Jean-Pierre Rampal veio se apresentar no Brasil. Depois de ouvir o flautista da orquestra fazer um breve solo, Rampal se apresentou a ele. Durante vários anos, a partir daí, Morozowicz se apresentaria em parceria com o instrumentista, inclusive regendo concertos com o francês, um dos mitos da música clássica no século 20.

Também em 1981 começou a carreira que hoje é a principal na vida de Norton, a de maestro. Embora continuasse morando no Rio de Janeiro, ele passou a ser o regente de uma orquestra de cordas fundada em Blumenau, que referência em música de câmara para o Brasil. Em 12 anos de existência, a orquestra gravou 12 discos e viajou para vários países, além das apresentações no Brasil. Só terminou no começo dos anos 1990, vitimada pelo infame plano econômico do presidente Fernando Collor de Melo. "Chegamos a ter patrocinadores em fila de espera", conta o maestro, com saudades do tempo da orquestra. Depois dos tempos de bonança, no entanto, ele diz que manter uma orquestra do mesmo gênero tornou-se mais difícil.

"As leis de incentivo substituíram o antigo sistema de patrocínio", afirma o regente. "Mas isso tem um lado perverso", comenta ele. Para Norton, era mais fácil ir às empresas com a idéia de fazer uma série de concertos antes, pedindo apoio. "As leis de incentivo não têm critério de mérito, o que é um erro. E, se você não estiver na lei, nem adianta oferecer porque ninguém vai bancar mesmo", diz ele.

Apesar das dificuldades, um dos principais sonhos do maestro é reeditar em Curitiba o projeto da Orquestra de Blumenau – agora com a experiência adquirida com mais duas décadas de profissão. "Acho que Curitiba tem espaço para um grupo desse gênero e merece ganhar mais uma alternativa", afirma o músico, que diz já estar fazendo alguns contatos na intenção de reativar seu projeto. Mas, logicamente, ainda não há data para botar o bloco na rua. Para uma idéia como essa, é preciso de tempo e maturação. E o maestro, como poucos, sabe disso.

Durante o tempo de permanência no Rio de Janeiro, Morozowicz sempre manteve alguns laços com o Paraná. Um deles se deveu à Escola de Música e Belas Artes do Paraná, onde a partir dos anos 1970, sob a direção de Henriqueta Garcez, ele formou classes de flautistas em Curitiba. Depois, veio também o Festival de Música de Londrina, do qual Norton Morozowicz foi fundador e diretor durante vários anos.

Mas, desde o SamJazz o maestro nunca mais havia tido a chance de morar na cidade. Agora, com 58 anos, quis voltar às origens. "Me sinto um pouco como um peixe fora d’água", comenta ele, andando pela Praça Carlos Gomes, no Centro da cidade. "Muitas pessoas que eram meus amigos, meus contatos, não estão mais por aqui", afirma ele. E, mesmo depois de seus primeiros meses já por aqui, a maior parte das atividades continuou sendo em outras cidades, como Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

Quem acabou sendo o responsável pela primeira grande responsabilidade do maestro na cidade foi o Teatro HSBC, administrado pela Calvin Entretenimento, a mesma empresa que realiza anualmente o Festival de Teatro de Curitiba. "Eles decidiram fazer um ciclo de música clássica e me convidarem para fazer a programação", afirma ele, que nunca tinha feito nada do gênero em seus mais de 40 anos de carreira.

"A primeira idéia que tive foi de fazer um ciclo inteiramente dedicado aos cem anos de Radamés", afirma ele, em referência ao compositor e arranjador Radamés Gnatalli, um dos grandes nomes da música clássica brasileira. "Mas acabei achando por bem misturar outros tipos de concerto também e acredito que vai ser muito agradável", diz ele, que estreou a programação nessa semana justamente com obras de Gnatalli e de Mozart, homenageado em todo o mundo por seus 250 anos de nascimento.

Para o futuro breve, o que o maestro quer é reforçar novamente seus vínculos com a cidade. Avisa que está disposto a reger mais, a tocar como solista e a participar de qualquer maneira da vida musical de Curitiba. "Acho que posso usar minha experiência para ajudar a tornar melhor o cenário musical daqui", diz.

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