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Fotos: Ciete Silvério e Ricardo Stuckert/Divulgação
Fotos: Ciete Silvério e Ricardo Stuckert/Divulgação| Foto:

Durante esta campanha sobraram análises que apontavam para um novo duelo entre tucanos e petistas. Entretanto, há alguns anos o eleitorado fornece sinais de que está cansado desta polarização. Esta ruptura poderia ter acontecido no último pleito presidencial não fosse o ataque sistemático de Dilma Rousseff para cima de Marina Silva.

O Brasil, como já frisei aqui, passa por ciclos políticos de 30 anos, quando sempre faz a opção pela ruptura com o sistema. Neste ano estamos diante do fechamento do período da Nova República, que se iniciou com a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral. Depois de um período de praticamente três décadas de polarização, caminhamos aos poucos para um novo ciclo.

Desde as eleições de 1994 o Brasil faz a opção entre dois modelos de esquerda. Aquele de viés social-democrata, menos radical, porém intelectual, e outro de vertente sindical, sem o verniz dos tucanos, mas com estrutura política espalhada nos mais diversos tecidos da sociedade. O petismo, nascido no sindicalismo, espalhou-se por diversos campos, fincando bandeiras em movimentos sociais e inclusive na classe artística, sua aliada histórica.

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Tucanos e petistas são duas faces de uma mesma moeda, uma esquerda intelectual e outra sindical. Na Europa, por exemplo, geralmente estão no mesmo partido. É o caso dos trabalhistas ingleses, do SPD alemão ou do PSOE na Espanha. No Brasil dividiram-se em duas partes em função do contexto político e acabaram duelando durante um longo período nas urnas.

O fato é que durante muito tempo o Brasil não possuiu uma força autenticamente de direita. Os antigos Arena, PDS, PFL PPR, PPB, PP, hoje Progressistas, eram agremiações de certo cunho conservador, mas patrimonialistas, dirigidas por grupos que, no poder, jamais aplicaram políticas liberalizantes profundas que mudassem a face do Brasil. Na economia, seguiram a política da intervenção econômica adotada pelos últimos presidentes militares.

A ascendência de Jair Bolsonaro surge como uma resposta de grande parte da sociedade que se tornou represada desde a implementação do duelo tucano-petista. O avanço da agenda vermelha nos últimos anos fez com que estes grupos se organizassem e buscassem voz. Ao encontrar no capitão-deputado alguém que enfrentava o modelo em curso, optaram por essa alternativa.

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Bolsonaro passa pelas duas esquerdas e reorganiza o quadro político, especialmente quando ocupa o quadrante da direita, fazendo com que os tucanos tenham que assumir sua postura real. Não surpreende que em um segundo turno entre direita e petistas, o PSDB apoie Haddad. É um realinhamento natural que faz bem para democracia brasileira.

Este rearranjo ocorre no momento histórico previsto, ou seja, 30 anos após a eleição de Fernando Collor, assim como este surgiu 30 anos depois de Jânio Quadros, que veio 30 anos depois de Getúlio Vargas. A mudança representada por Bolsonaro é mais profunda do que podemos imaginar. Um realinhamento político está em curso e o resultado das urnas servirá de ponto basilar para esta avaliação dos novos rumos do país.

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