O transtorno afetivo bipolar gera desequilíbrios no cérebro e faz com que o portador tenha
O transtorno afetivo bipolar gera desequilíbrios no cérebro e faz com que o portador tenha| Foto:
  • Por Dra. Ivete Contieri Ferraz
  • 15/04/2021 12:54

Ao que tudo indica, o pintor holandês Vincent Van Gogh (1853-1890), um dos maiores artistas da história, sofria de uma doença que atualmente atinge cerca de 140 milhões de pessoas em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) – o transtorno afetivo bipolar.

Em homenagem ao pintor, definiu-se o seu dia de nascimento, 30 de março, como o Dia Mundial do Transtorno Bipolar. A data destaca a importância do tratamento desse tipo de doença e também contribui para sensibilizar a população e evitar o estigma social dos pacientes.

O transtorno afetivo bipolar, ou transtorno de humor bipolar, está relacionado a modificações em determinadas áreas do cérebro, que refletem em desequilíbrios e fazem com que o portador tenha alterações de humor.

“Temos várias funções mentais, e o transtorno afetivo bipolar mexe com a função mental humor, também chamada função afetiva de nossa mente. Esse transtorno causa uma falha para a pessoa se manter estável. Então, é muito comum os pacientes com essa doença passarem por uma fase com tempos longos de quadros depressivos ou de euforia”, destaca a Dra. Ivete Contieri Ferraz, que realiza tratamentos para pacientes com esse tipo de transtorno.

Tratamentos

Qualquer que seja o quadro, – leve, moderado ou grave –, é importante ressaltar que existem tratamentos para esse tipo de transtorno. Os métodos ainda não resultam em uma cura completa, mas os efeitos da doença podem ser controlados.

“O tratamento é basicamente voltado aos estabilizadores de humor, que são medicações anticonvulsivantes, usadas em dose adequada para estabilizar o humor. Hoje, também há neuromodulação ou estimulação magnética transcraniana, terapia que também traz a estabilidade de humor”, indica a Dra. Ivete.

A estimulação magnética transcraniana é um tratamento recente – regulamentado no Brasil pela Anvisa em 2006. Ele é realizado em consultórios e de modo não invasivo. Inicialmente, é realizado um mapeamento da área motora do cérebro. Após conversas com o paciente, são definidos a intensidade e o local que receberá o estímulo. No procedimento, uma bobina é colocada sobre a cabeça da paciente, envolta por uma touca especial, com os pontos da estimulação.

O tratamento para o transtorno afetivo bipolar pode incluir ainda psicoterapia e mudanças no estilo de vida: alimentação mais saudável, redução dos níveis de estresse, melhora da qualidade do sono e eliminação de ingestão de substâncias como cafeína, álcool, anfetaminas e outras drogas psicoativas. Além disso, o apoio e a presença da família são muito importantes durante o tratamento.

Tipos de transtorno bipolar

O transtorno bipolar do tipo 1 é caracterizado pela alternância da fase eufórica (relacionada à mania e que dura, no mínimo, sete dias) com a fase de humor depressivo (que pode durar de semanas a meses). Nos períodos disfóricos, a pessoa tem muita energia e alterna momentos de alegria e de irritação. O quadro ainda pode incluir diminuição da concentração, impulsividade, grande sensação de poder e diminuição da necessidade de sono, entre outras alterações extremas. Dependendo do grau de comprometimento, pode ocorrer manifestação de agressividade física ou verbal.

Tanto na mania quanto na depressão, os sintomas são intensos e provocam grandes mudanças comportamentais e de conduta. É importante salientar que o quadro pode exigir internação hospitalar por conta do risco aumentado de suicídios e da incidência de complicações psiquiátricas. Por isso, o diagnóstico feito por profissionais da área da saúde mental é fundamental.

Já no transtorno tipo 2, o paciente demonstra um quadro depressivo, ou hipotímico, em alternância com episódios de hipomania, um estado mais leve de euforia, otimismo, excitação e possível agressividade. Geralmente, esse tipo de transtorno bipolar apresenta menor prejuízo ao portador. No entanto, a falta de vontade de realizar tarefas e o sentimento de tristeza pode durar até anos – mas também é possível ter depressão sem passar por momentos de tristeza.

A pessoa ainda pode ter alterações de apetite, que causam ganho ou perda de peso, cansaço mental, irritabilidade, ansiedade, além de pensamentos suicidas ou de morte.

Outros dois tipos de transtorno são discutidos. Um deles é o transtorno bipolar não especificado ou misto, no qual os sintomas não são suficientes no tempo de duração para classificar a doença em um dos dois tipos anteriores. E o outro é o transtorno ciclotímico, no qual o paciente alterna sintomas de hipomania e de depressão leve num único dia. Essas oscilações crônicas podem até mesmo ser confundidas com temperamento instável.

Segundo a Dra. Ivete, os tipos de transtorno de humor bipolar podem surgir ao longo da vida de uma pessoa, em fases diferentes. “O paciente pode passar por ciclos, ficar anos em uma fase depressiva, depois ter anos de maior energia, ou pode ter manias, um quadro muito disfuncional. Com isso, a pessoa tem muitos problemas interpessoais e no trabalho, muitas questões vinculadas à família, que sofre muito quando a pessoa apresenta esse tipo de sintoma”, explica a psiquiatra.

A estimulação magnética transcraniana não é invasiva e pode ser realizada em consultórios.
A estimulação magnética transcraniana não é invasiva e pode ser realizada em consultórios.| Divulgação

O transtorno bipolar não tem causas exatas definidas, mas a psiquiatra Dra. Ivete Ferraz chama a atenção para alguns casos que trazem herança genética. “Para quem tem o transtorno, a geração seguinte da família pode ter também o problema de forma mais leve, o que é chamado de espectro bipolar. Mais tarde, isso pode desencadear o transtorno de humor bipolar. Esse espectro bipolar também deve ser tratado de maneira bem cuidadosa”, ressalta.

Sempre que uma pessoa demonstrar sintomas ligados à euforia ou à depressão, é importante buscar ajuda médica. O psiquiatra é o profissional indicado para fazer o diagnóstico da situação do paciente, orientar o tratamento e fazer seu acompanhamento.