O casal Filipa Pato e William Wouters, responsáveis pelo projeto “Vinhos Autênticos, Sem Maquilhagem”, como dizem os portugueses.
O casal Filipa Pato e William Wouters, responsáveis pelo projeto “Vinhos Autênticos, Sem Maquilhagem”, como dizem os portugueses.| Foto: Divulgação
  • Por Porto a Porto
  • 25/04/2022 11:28

Filipa Pato é uma das enólogas mais renomadas da atualidade e elabora vinhos com refinamento e elegância que conquistaram o consumidor internacional. De um ano para cá, seus rótulos foram citados pelo crítico Eric Asimov, no New York Times; pelo diário espanhol La Vanguardia; pela Forbes internacional; e pelo The Irish Times, só para citar alguns exemplos.

Foi eleita a enóloga do ano 2020 pela Revista de Vinhos, apareceu diversas vezes na publicação do principal crítico de vinhos do mundo, a Wine Advocate, de Robert Parker, e teve um vinho entre os 100 melhores do ano de 2021, na prestigiada Wine Spectator. Por sinal, a primeira vez que um vinho da Bairrada recebeu 96 pontos de Robert Parker foi para um rótulo da Filipa, o Nossa Calcário tinto safra 2015.

Seu mais recente prêmio foi o “Vinho do Ano” para o “Nossa Solera Desde 2001 Extra Bruto”, pela Revista de Vinhos. Mas nada aconteceu por acaso, por sinal, são mais de duas décadas de trabalho árduo e incansável.

Este mês, a importadora Porto a Porto lançou mais dois vinhos da enóloga no Brasil, Post Quer...s Bical e Território Vivo Baga.

O Post Quer...s Bical traz a principal uva branca da Bairrada, a Bical, que expressa delicados aromas que lembram peras. Vinho complexo, é a demonstração de um rótulo mineral – o conceito de mineralidade remete a elementos do subsolo que lembram pedras e giz, entre outros que possam ser extraídos da terra. Entre os aspectos de vinificação, todos os cuidados impecáveis que caracterizam o trabalho de Filipa: as videiras têm mais de 40 anos, a colheita é feita à mão e a fermentação acontece em ânforas de barro, o que permite uma micro-oxigenação suave que ajuda muito a uva a expressar plenamente a sua mineralidade. Assim como os demais vinhos da produtora, é orgânico e biodinâmico.

| Divulgação

O outro rótulo é o tinto Território Vivo Baga 2020, elaborado com esta uva que é o símbolo da região, a Baga. O nome do vinho traz na essência toda a preocupação com a sustentabilidade do trabalho da enóloga e reflete o termo “Living Terroir”. A colheita 2020 certamente será inesquecível para os produtores da Bairrada. Houve um ataque de coelhos em todas as vinhas velhas de Baga – as que originaram este rótulo têm mais de 80 anos. Os coelhos comeram todas as uvas até 30 centímetros do solo. Isto resultou em uvas de alta qualidade, mas uma safra muito pequena. Filipa diz que fazer vinho perto da natureza sem usar pesticidas ou herbicidas pode ser um grande desafio, mas é certamente quando o terroir está muito vivo.

Na degustação o Território Vivo Baga é um tinto de cor cereja profunda e intensa com esplêndida fruta no nariz. Em boca, destacam-se cerejas e ameixas pretas, com notas de tabaco e cacau. É elegante, estruturado e com excelente acidez. O amadurecimento foi de 9 meses em pipas de 500-600 litros e 6 meses de adega.

Autênticos e Sem Maquiagem

Filipa Pato, juntamente com o marido, o renomado sommelier William Wouters, lidera o projeto Vinhos Autênticos, Sem Maquiagem, na região da Bairrada, em Portugal. A enóloga elabora vinhos que demonstram a forte identidade com o local onde são produzidas as uvas. “Minha dedicação primordial é ao vinhedo, onde passo 70% do meu tempo, pois acredito que com uvas saudáveis tudo se torna mais fácil na adega e não é preciso maquiar as uvas”, diz Filipa.

Desde 2014 os vinhedos estão em processo de conversão à biodinâmica e ela não usa herbicida desde 2009. O resultado tem sido excelente. “Usamos animais nas vinhas, como é o caso das ovelhas, que pomos lá entre novembro e fevereiro, quando ainda não há folhas nas videiras”, conta. “Elas comem a erva toda. E também servem para fertilizar naturalmente o solo. E, na primavera, na altura em que temos o ataque dos caracóis, levamos para lá as galinhas. Sou química de formação, mas evito usar os produtos químicos. Nas minhas vinhas e nos meus vinhos não há produto químico”, completa. Até as rolhas que vedam todos os vinhos da vinícola são de cortiça natural de floresta biológica.

Apesar de ter crescido em meio aos vinhedos portugueses, pois é filha do conceituado Luis Pato, a enóloga foi buscar experiências além de suas origens para construir a identidade de seus rótulos. Depois de se formar em Engenharia Química, trabalhou em vinícolas na França, na Austrália e na Argentina até retornar a Portugal para dar início a sua produção própria. O reconhecimento internacional foi impulsionado pelo fato de, em 2011, ter sido eleita, ao lado de outros enólogos, “Revelação do Ano” pela prestigiada revista alemã gourmet Feinschmecker.

Sempre com ideias vanguardistas e adepta a experimentações, Filipa Pato é também responsável pela evolução primorosa dos vinhos portugueses que aconteceu nas últimas décadas. Mas mirar o futuro não a impede de cuidar e preservar as tradições locais e as uvas nativas.