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“Eu sou Robbie Williams. Esta é a minha história. Mas não vou contar de uma forma normal, porque não me vejo como os outros me veem. Sinceramente, sempre me considerei um pouco menos evoluído.” Com esta declaração de princípios começa o trailer deste original filme biográfico, produzido pelo famoso cantor inglês – um dos grandes nomes do pop rock das últimas décadas, mas que não obteve o mesmo sucesso estrondoso longe do Reino Unido.
Better Man – A História de Robbie Williams, que estreou na última quinta-feira (13) nos cinemas brasileiros, é dirigido pelo australiano Michael Gracey, veterano técnico de efeitos visuais e diretor de videoclipes que surpreendeu em 2017 com o vibrante musical O Rei do Show e confirmou seu potencial em P!nk: Tudo que Aprendi até Agora (2021), documentário hagiográfico sobre a cantora americana P!nk. Agora, Gracey tirou a poeira de seu antigo trabalho como mago de efeitos e apostou ao apresentar Robbie Williams sempre como ele se vê: com corpo e rosto de chimpanzé. Não sem razão, o filme concorreu ao Oscar de Melhores Efeitos Visuais no começo do mês, perdendo para Duna: Parte Dois).
Dito assim, essa opção narrativa parece demasiado grotesca, mas cativa o espectador assim que ele vê Robbie Williams como um frágil bebé chimpanzé ou como um menino macaco sofredor, sempre encorajado pela sua avó amorosa e apaixonado pela música como o seu pai, um cantor modesto de quem sente muita falta porque está sempre em turnê fazendo shows. A aposta temerária se confirma vencedora com Robbie Williams já adulto, pois o personagem passa a ser interpretado pelo próprio cantor – com sua voz readequada, afinal ele agora está com 50 anos –, exceto em algumas cenas em que é substituído pelo ator Jonno Davies.
Sua autenticidade inimitável se impõe quando ele aparece angustiado pela possibilidade de ser um artista qualquer, ou obcecado em provar que pode ter sucesso sem a ajuda de ninguém, ou exultante no palco diante de milhares de pessoas, ou paralisado pelo medo do palco, pelo peso da fama, pelos altos e baixos sentimentais, pela solidão, pelos vícios em álcool e drogas... Como se vê, embora não guarde muitas surpresas e, às vezes, ceda a uma crueza verbal e sexual convencional, o roteiro oferece perspectivas dramáticas sugestivas para que o filme fique sempre bem acima da média.
Por sua vez, além da esplêndida integração de live action e animação no protagonista, Michael Gracey mantém um ritmo fresco e oferece um saboroso resumo da carreira musical de Robbie Williams, com recriações generosas de concertos lendários e coreografias brilhantes, algumas muito modernas e outras que prestam uma homenagem nostálgica ao formato clássico de musical. Sempre sem que o filme perca o estatuto de exame de consciência sincero e oxigenador de um artista consciente das suas qualidades, limitações e erros, e que quer ser uma pessoa melhor, como indica uma das suas canções mais famosas, a que dá nome ao longa-metragem: Better Man.
© 2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.
- Better Man – A História de Robbie Williams
- 2024
- 131 minutos
- Indicado para maiores de 16 anos
- Em cartaz nos cinemas