Com “Esqueceram de Mim”, o mundo conheceu as caras e bocas de Macaulay Culkin

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Família reunida, casa cheia, árvore montada rodeada por caixas de presentes, crianças correndo pela casa, a mesa repleta de comida, muita música e, claro, a expectativa pela chegada do Papai Noel. Se não há nada disso, não é filme de Natal. Bom, a menos que o filme em questão seja assinado pelo roteirista e produtor John Hughes e pelo diretor Chris Columbus. Dois ícones do cinema americano nos anos de 1990, Hughes e Columbus construíram uma obra natalina completamente diferente. Fugindo da mesmice muitas vezes piegas e, com uma história repleta de ação, aventura e humor, conseguiram divertir, tocar e emocionar as plateias mundiais.

Esqueceram de Mim, disponível no streaming pelo Disney+, pode ser categorizado como um filme familiar; mas é, antes de tudo, um conto de Natal bastante incomum. O roteirista John Hughes, então um nome já consagrado em Hollywood por conta do adorável Curtindo a Vida Adoidado (1986), escreveu uma história que, mesmo sem incluir elementos ou personagens comuns à época do Natal, possui toda a simbologia clássica natalina.

Tudo começa quando a família McCallister se prepara para a viagem dos sonhos: comemorar as festas de final de ano em Paris, na França. Na noite anterior, todos na casa estão na maior excitação. Filhos gritam de um lado e do outro, numa enorme balbúrdia, mas quem paga o pato é o menor deles, Kevin, que como forma de castigo deverá dormir sozinho no sótão da casa. Contando as horas para o embarque, é justamente o relógio que vai disparar o maior drama na vida dos McCallister, mas também a mais inesquecível aventura para Kevin.

Um problema na energia no meio da madrugada faz com que o relógio atrase. Ao despertar pela manhã, a casa vira um verdadeiro pandemônio. Todos correm alvoroçados a fim de juntar as coisas. Os pais vão enfiando malas e filhos na van com o objetivo de chegar ao aeroporto a tempo. Passada a afobação e já voando a muitos metros do chão, vem a trágica descoberta da mãe, Kate McCallister (Catherine O'Hara, excelente): eles embarcaram no avião deixando para trás o pequeno Kevin sozinho em casa.

Um prodígio em ação

Macaulay Culkin, que interpreta Kevin, tornou-se com esse trabalho o ator-mirim mais importante e mais bem pago daquela geração. Uma graça de criança, carismático e cheio de caras e bocas, Culkin é literalmente o dono do filme. O diretor Chris Columbus, que inicialmente nem o cogitou para o elenco, nitidamente não tem qualquer dificuldade para dirigir o menino – que em mais da metade das sequências aparece sem coadjuvante em cena.

É interessante observar como Hughes, com seu roteiro cômico-dramático, desenvolve de forma brilhante a ideia de wishful thinking (“pensamento positivo”, numa tradução mais comum), mesmo em se tratando de um personagem ainda criança que, para todos os efeitos, ainda se encontra muito longe da maturidade suficiente para tomadas de decisões complexas. Mas, primeiramente, estamos falando de cinema, de fantasia; e, para completar, temos Kevin, um menino que se prova prodígio e hábil para enfrentar um episódio inédito em sua vida.

Sozinho, Kevin tem agora tudo o que sempre desejou ao seu dispor: uma casa inteira só para ele, a cama gigante dos pais, a geladeira recheada de todas aquelas guloseimas à disposição a qualquer hora, a televisão ligada o dia todo, sem qualquer tipo de restrição e, melhor ainda, sem os irmãos chatos para atrapalhar ou rivalizar. Ocorre que o tal wishful thinking também pode ser traiçoeiro, uma vez que, diante de tantas possiblidades favoráveis, acaba-se negligenciando qualquer alternativa perigosa que acaba com toda a festa.

É assim que entram em cena os atores Joe Pesci e Daniel Stern, que formam a dupla conhecida como Ladrões Molhados. Eles não passam de bandidos mequetrefes, completamente atrapalhados, mas que tentam a qualquer custo emplacar o plano maléfico de assaltar a casa dos McCallister na noite do Natal, achando que o local estará vazio. Kevin é somente uma criança e, como qualquer outra, ficará aterrorizada. Só que ele é esperto – muito mais do que os ladrões – e também tem um plano.

Perdido em Nova York

Não é exagero dizer que as sequências que virão a seguir são algumas das mais engenhosas e engraçadas do cinema. Inspirado sobretudo em clássicos dos desenhos animados como Tom & Jerry, Hughes e Columbus criam momentos do mais puro exagero visual. E não há quem não acredite que tudo aquilo seja possível e capaz de sair da cabeça de um menino. Então, para se livrar dos bandidos, Kevin inventa as armadilhas mais improváveis, cartunescas e, por isso mesmo, divertidas.

Há personagens colaterais que servem como escada para o amadurecimento de Kevin, e principalmente, para criar a atmosfera natalina que envolve bondade e generosidade, como no caso de um velho assustador que mora na casa da frente. Trata-se de uma figura ameaçadora, num primeiro momento, mas que logo à diante ganha contornos de afetuoso. É a mesma característica da personagem interpretada por Brenda Fricker, a de uma sem-teto que vaga pelo Central Park, presente em Esqueceram de Mim 2: Perdido em Nova York, também no streaming do Disney+.

Lançado dois anos depois do gigantesco sucesso comercial de Esqueceram de Mim, nessa sequência Kevin se vê sozinho em Nova York e com o cartão de crédito do pai. Hospedado no luxuoso Plaza Hotel, o garoto terá um embate não apenas com o gerente malvadão do hotel (Tim Curry), mas enfrentará novamente com os Ladrões Molhados Joe Pesci e Daniel Stern, que escaparam da prisão após os eventos do primeiro filme. Fato: estamos falando aqui de obras que o tempo transformou em clássicos. E, por abordarem de forma tão criativa a época do Natal, são clássicos absolutamente imperdíveis.