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A cantora Rita Lee, que morreu aos 75 anos, após longa batalha contra o câncer
A cantora Rita Lee, que morreu aos 75 anos, após longa batalha contra o câncer| Foto: Reprodução YouTube

“Quando eu morrer, posso imaginar as palavras de carinho de quem me detesta. Algumas rádios tocarão minhas músicas sem cobrar jabá, colegas dirão que farei falta no mundo da música, quem sabe até deem meu nome para uma rua sem saída. Os fãs, esses sinceros, empunharão capas de meus discos e entoarão Ovelha Negra, as TVs já devem ter na manga um resumo da minha trajetória para exibir no telejornal do dia e uma notinha no obituário das revistas há de sair. Nas redes virtuais, alguns dirão: ‘Ué, pensei que a véia já tivesse morrido, KKK’. Nenhum político se atreverá a comparecer ao meu velório, uma vez que nunca compareci ao palanque de nenhum deles e me levantaria do caixão para vaiá-los. Enquanto isso, estarei eu de alma presente no céu tocando minha autoharp e cantando para Deus: ‘Thank You Lord, finally sedated’ (Obrigada, Deus, finalmente sedada). Epitáfio: Ela nunca foi um bom exemplo, mas era gente boa.”

Com essa profecia, Rita Lee conseguiu ser sagaz até na hora da própria morte, que foi noticiada na manhã desta terça-feira (9), com velório marcado para amanhã (10), no Planetário do Parque do Ibirapuera, em São Paulo.

Em momentos como esse, quando uma grande artista parte, é inevitável recorrer à sua discografia para buscar conforto ou redescobrir pérolas de diversas fases. No caso da paulistana da Vila Mariana, o baú de genialidades é bastante farto, visto que ela iniciou sua trajetória nos anos 60 já chamando muita atenção como cantora e peça fundamental do trio criativo dos Mutantes. A projeção internacional foi imediata, o que esse especial para a TV francesa de 1969 comprova, mas ficou ainda maior ao longo dos anos, com artistas como David Byrne e Kurt Cobain enchendo a banda de Rita de elogios.

Após dois discos solo quando ainda estava envolvida com Os Mutantes, Rita foi obrigada a deixar o grupo e recomeçou sua jornada com mais potência, expressa em músicas como Ando Jururu, Mamãe Natureza e Menino Bonito. O grande clássico dessa fase hard rock é o disco Fruto Proibido (1975), que ela gravou ladeada pela banda Tutti-Frutti e rendeu hits memoráveis. Em Esse Tal de Roque Enrow, ela divide a autoria com o mago Paulo Coelho, então parceiro de Raul Seixas.

Consagrada como a maior roqueira do Brasil, Rita se aproximou dos anos 80 escrevendo seus maiores hits numa linguagem mais pop, tendo como fiel escudeiro o guitarrista e esposo Roberto de Carvalho. Miss Brasil 2000, Chega Mais, Doce Vampiro, Lança-Perfume, Baila Comigo, Caso Sério, Saúde e Flagra marcam essa transição. Também desse período entre décadas é Jardins da Babilônia, que ganhou esse proto-videoclipe num especial de Elis Regina (com participação de Adoniran Barbosa).

Sua língua ferina nunca descansou. Entre centenas de versos memoráveis que Rita legou para a história da música popular brasileira, vale destacar o “Eu tô ficando velho, cada vez mais louco varrido. Roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”, de Ôrra Meu!. Era como se ela estivesse fechando um ciclo do rock nacional, bastante underground, e antecipando o que viria na sequência, com o estilo virando o som do momento nas canções de Blitz, Os Paralamas do Sucesso, Titãs e tantos outros com “cara de mocinho”.

A carreira de Rita seguiu em paralelo ao que acontecia no rock nacional oitentista, que definitivamente se tornou a bola da vez. Suas músicas eram sempre requisitadas para telenovelas e nunca mais houve um encontro de amigos em karaokê em que um sucesso de Rita não foi entoado.

No início dos anos 90, Rita se apresentou no prestigioso Festival de Jazz Montreux, na Suíça. Nessa performance de Mania de Você, ela toca a introdução na flauta, um dos instrumentos fundamentais para sua formação musical.

E vamos ficando por aqui porque depois veio “Amor e Sexo”...

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