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Tente imaginar uma edição do Globo Repórter comandada por uma jornalista muito sem noção, capaz de fazer as perguntas mais cretinas para especialistas de alto nível e ainda tirar conclusões de uma estupidez assombrosa. OK, alguns leitores neste momento estão se perguntando “como assim ‘tente imaginar?’”. Mas isso é só porque vocês não conhecem Philomena Cunk, a repórter que dá nome à série feita em parceria entre a BBC britânica e a Netflix, que chegou à plataforma há poucos dias.
O Mundo por Philomena Cunk é o que chamamos de um mockumentary, expressão que designa uma obra supostamente documental, mas com premissas falsas, para causar risos. Philomena não existe. É uma personagem interpretada pela atriz e comediante inglesa Diane Morgan. Em cinco episódios de 29 minutos, ela pretende desvendar as histórias mais fascinantes do planeta com sua total falta de cultura e de vergonha na cara, especialmente quando confronta estudiosos com os questionamentos mais descabidos.
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Ao entrevistar um expert em história egípcia, ela indaga se as pirâmides foram erguidas naquele formato para evitar que sem-tetos se abrigassem em torno delas. Não contente, ainda quer saber se os egípcios começavam a construir as pirâmides pela base ou pelo topo. Os entrevistados, incrédulos, procuram contestar Philomena da maneira mais polida possível, em embates que remontam a muito do que já vimos em filmes de Sacha Baron Cohen (Borat, Bruno) ou até nos primórdios do CQC brasileiro, quando Danilo Gentili encarnava o “repórter inexperiente”.
Influência de Monty Python
Algumas interações fazem o espectador acreditar que é só questão de tempo até que algo semelhante aconteça na vida real, como quando Philomena quer saber de uma catedrática em Renascentismo se a música Single Ladies, de Beyoncé, não é mais relevante do que todo o movimento europeu. Em outra cena, a jornalista convence uma entrevistada a dizer que Jesus Cristo foi a primeira vítima da cultura do cancelamento.
Muito do humor nonsense da série remete à obra da lendária trupe Monty Python, baluarte do refinado humor britânico, que se sustenta muito bem sem gargalhadas pré-gravadas. A própria Philomena nunca esboça um sorriso, o que impede que suas presas partam para a galhofa logo no início das entrevistas. Mas muitos não conseguem se segurar e passam a jogar o jogo da repórter, aliviando as situações de constrangimento.



