Projeto foi liderado por instituto criado pela atriz Geena Davis| Foto: Divulgação/

Os engenheiros do Google e da University of South Carolina criaram um novo software que analisa cada cena, fala e quadro de um filme para determinar quanto tempo exatamente cada personagem feminino tem em cena e de fala, para comparar com suas contrapartes masculinas. Suas descobertas: Como em muitas outras profissões, as mulheres saem prejudicadas.

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Mas a tecnologia pode fazer mais ainda do que só fornecer novas provas do machismo de Hollywood, que há muito tempo é motivo de lamento para suas atrizes, bem como também para todos que vêm observando e denunciando essa desigualdade. Ela poderia ainda ajudar a expor os vieses inconscientes que levam à disparidade de gênero no cinema, muito antes de ser finalizado um roteiro ou serem aprovados os cortes de um editor.

Os criadores do software afirmam que os estúdios de cinema poderiam se valer dele para analisar o texto de um roteiro e ver quantas falas são reservadas para personagens masculinos em contraste com os femininos, ou avaliar se é igualitária a proporção de tempo em cena dos homens e das mulheres. Eles afirmaram que os estúdios de cinema estiveram envolvidos em todo o processo de desenvolvimento do software, mas não está claro se eles planejam utilizá-lo para analisar material ainda inédito.

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É claro que alguns filmes terão um viés natural. Um filme histórico ou biográfico não tem a liberdade de inserir ou retirar personagens do enredo com base em seu gênero. Em outros casos, porém, um diretor pode escolher mostrar um homem em cena enquanto uma mulher fala, ou um roteirista pode colocar na boca de um homem uma fala que poderia igualmente ser dita por uma mulher.

“Não é para ser uma coisa que limite a criatividade. Pelo contrário, é para ser uma ferramenta para ajudar no processo criativo”, disse Hartwig Adam, engenheiro sênior da equipe do Google.

No futuro, o software poderá ser usado também para fazer essa mesma análise para personagens de diferentes etnias, capacidades físicas e outros atributos observáveis.

“Essa é a nossa primeira aplicação da nossa ferramenta e sua análise”, disse o professor de engenharia da USC, Shri Narayanan. “Nosso mapa geral maior, com o qual sonhamos, será quando pudermos conferir diferentes graus de representatividade na mídia”.

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Homens falam mais

Um estudo dos filmes de maior bilheteria de 2015, excluindo as animações, descobriu que os homens recebem uma média de 28,5% do tempo em cena, contra os 16% das mulheres. Mesmo em filmes nos quais as mulheres têm papel principal, o tempo em cena é dividido de forma igualitária entre personagens femininos (24%) e masculinos (22,6%). O mesmo não vale para filmes com protagonistas masculinos.

Os dados mostram que as mulheres são ainda menos ouvidas do que são vistas. Nos filmes de 2015 estudados, as mulheres falaram, em média, 15,4% do tempo, contra os 28,4% dos homens. Nos filmes nos quais homens e mulheres dividem o protagonismo, os homens ainda assim receberam mais falas em média do que suas colegas mulheres.

Quociente Geena Davis

O projeto foi liderado pelo Instituto de Mídia Geena Davis, um instituto de pesquisa fundado pela atriz do filme “Thelma & Louise” na Mount Saint Mary’s University em Los Angeles. Para desenvolver o software, a organização reuniu uma equipe de engenheiros do Signal Analysis and Interpretation Laboratory da University of Southern California, junto com a orientação técnica e apoio financeiro do Google.org, o braço filantrópico do gigante da tecnologia.

O software, batizado de GD-IQ [sigla em inglês para Quociente Geena Davis de Inclusão], demorou dois anos para ser desenvolvido. Até hoje, a maioria das análises de gênero no entretenimento exige que os pesquisadores humanos assistam a horas de filmes ou televisão, registrando à mão a frequência e o contexto das representações de cada gênero, segundo Narayanan.

O software GD-IQ acelera rapidamente esse processo, analisando um filme de 90 minutos em apenas 15. Ele também reúne um número maior de pontos de dados sobre cada personagem: qual é visto, qual é ouvido e o que cada um está dizendo. O resultado, segundo pesquisadores, é uma compreensão mais repleta de nuances do modo como o gênero é representado na mídia e no entretenimento.”

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* Steven Overly é âncora e editor do blog de Inovações do The Washington Post, onde explora tecnologias emergentes e ideias inovadoras. Desde que entrou no jornal em 2010, também fez a cobertura das matérias sobre políticas tecnológicas e negócios locais. Steven foi bolsista da Knight-Bagehot Fellowship em Economia e Jornalismo de Negócios pela Columbia University em 2016.
Tradução: Adriano Scandolara