Museu da Língua Portuguesa: atingido por um incêndio em 2015, não tinha aval do Corpo dos Bombeiros para funcionar| Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

A destruição do Museu Nacional abre brecha para relembrar outros espaços culturais em situação análoga, com problemas de natureza política, como falta de dinheiro ou de funcionários aptos, interdições que resultam em implicâncias das mais comezinhas, como fiação elétrica solta, alagamentos ou infestações de cupins. Em nota oficial, Michel Temer, que nunca foi ao espaço na condição de presidente, disse: ''Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional”. 

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Segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), os museus brasileiros vinculados ao Instituto receberam, em 2017, um total de 1.223.113 visitantes. Mesmo pequeno, o número representou um aumento de 16% comparado ao ano anterior. Entre as unidades mais visitadas estiveram o Museu Imperial, em Petrópolis (RJ), com 400.839 visitantes, e o Museu da Inconfidência, em Ouro Preto (MG), com 174.382 visitantes. O Museu Nacional vinha logo em seguida, com 137.479 pessoas; e o Museu da República, também no Rio de Janeiro, com 112.361 visitantes. 

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Sem alvará

Com pouca verba, pouco público e cortes de gastos ainda mais na carne, é difícil imaginar quais espaços realmente reúnem condições ideais para visitação. São 370 museus federais abertos e outros quase 4 mil museus espalhados pelo Brasil. São muitos prédios históricos tombados que demandam investimentos contínuos. Em 2016, reportagem de O Globo percorreu os dez maiores museus cariocas. O resultado: sete estavam sem alvará de funcionamento. 

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No Paraná, um curto-circuito provocou um incêndio que colocou abaixo o Teatro Ouro Verde, em Londrina. Prédio tombado pelo Patrimônio Histórico Estadual, o edifício foi inaugurado em 1952 e foi desenhado pelo arquiteto Vilanova Artigas. Em São Paulo, o Memorial da América Latina teve parte do seu auditório consumido pelo fogo, deixando 12 pessoas feridas — 11 bombeiros e um brigadista. 

Reforma de nove anos

O Museu do Ipiranga, em São Paulo, está fechado desde 2013. O acervo de mais de 30 mil objetos, que conta a história da Independência do Brasil, foi transferido para vários locais. Orçada em R$ 100 milhões, a reforma tem apenas 3,2% da verba de execução. A reinauguração está prevista para apenas 2022, bicentenário da Independência.

Sem aval do Corpo de Bombeiros

Também foi dramático o incêndio do Museu da Língua Portuguesa, no Centro de São Paulo, em 2015. Dois anos após o incidente, algumas obras de recuperação até foram realizadas. As próximas fases serão a reconstrução da cobertura e o restauro interno do edifício. Depois, será feita a museografia. O Museu da Língua Portuguesa não tinha aval do Corpo dos Bombeiros para funcionar e tudo começou a partir de uma falha em um hidrante. A previsão é que o espaço volte a funcionar no segundo semestre de 2019. 

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Biblioteca sem livros

Em Brasília, elevadores quebrados, falta de água e banheiros indisponíveis marcam o cotidiano da Biblioteca Nacional de Brasília nos últimos anos, espaço projetado por Oscar Niemeyer. Exemplo de espaço que parece nunca ter sido usado para a sua premissa, a Biblioteca passa por problemas como falta de iluminação adequada, piso que se descola e… a falta de livros. São inúmeras prateleiras vazias e livros indisponíveis para consulta. 

Goteiras

O Museu de Arte Contemporânea (MAC), vinculado à USP, também é carente de reformas. O risco maior ao acervo atende pelo nome de inundação. Para evitar a tragédia final, os objetos da reserva técnica do museu são distribuídos de modo disperso pelo espaço, driblando goteiras

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Em tese, os museus são responsáveis pela produção e manutenção do conhecimento e a convergência de saberes científicos. No Brasil, museu é sinônimo de esquecimento. E não se trata de apenas guardar adequadamente um objeto ou contar quantas preciosidades foram perdidas após um incêndio, como se o espaço fosse um mero gabinete de curiosidades. Cada museu em chamas transforma em cinzas o percurso intelectual de um país.

Um museu que queima por uma conjunção de fatores (descuido, falta de segurança, falta de investimento, falta de fiscalização) revela mais sobre o seu entorno do que sobre o que foi perdido. Nunca morrer assim, nunca morrer num dia, assim, de um sol assim, como dizia Olavo Bilac.

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Tampa do caixão de Harsiese, XXVI dinastia, cerca de 650 a 600 a.C.
Hori era alto funcionário da hierarquia egípcia, durante a XXI dinastia (cerca de 1000 a.C.). Seu corpo mumificado estava em exposição
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Detalhe de afresco de Pompeia, séc. I d.C.
Detalhe de afresco de Pompeia, séc. I d.C.
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No Brasil, os Mesosauridae foram registrados na Bacia do Paraná em sedimentos datados de 299 a 331 milhões de anos, sendo esse exemplar proveniente de rochas do Estado de São Paulo.
A peça estava no acervo do museu desde 1818