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A atriz Halle Bailey, que enfrentou opiniões negativas ao ser escolhida para o papel de sereia
A atriz Halle Bailey, que enfrentou opiniões negativas ao ser escolhida para o papel de sereia| Foto: Divulgação Disney

Admito que, para mim, a nova versão de A Pequena Sereia ameaçava ser um desastre. Em primeiro lugar, a tendência da Disney em converter em personagens reais seus clássicos animados nem sempre deu em coisa boa. Melhor dizendo, quase sempre ficou pior, com honrosas exceções como A Bela e a Fera (2017). Em segundo lugar, A Pequena Sereia original, de 1989, foi um marco na história da Disney: de certo modo, foi o primeiro filme de uma nova era de animações da companhia. Dessa forma, as comparações, além de inevitáveis, provavelmente seriam odiosas. Para completar as baixas expectativas, ao revelarem o elenco, explodiu uma polêmica bastante absurda por conta de a sereia ser negra. Em resumo, tudo indicava um naufrágio absoluto.

Exatamente por esses receios é que se faz necessário reconhecer que a versão live action de A Pequena Sereia livra sua cara. Por sorte, a história que acaba de chegar aos cinemas se manteve fiel ao conto original de Andersen, sem mudanças ou atualizações excessivas. Outro ponto positivo é a boa mão de Rob Marshall (ChicagoO Retorno de Mary Poppins) no gênero musical, em parceria com Lin-Manuel Miranda. É notável o brilho que eles dão à parte musical do filme. Na versão original, os destaques eram as canções, a trilha original e as coreografias. Aqui ocorre algo parecido: as cenas musicais são, com folga, as mais notáveis do longa.

A interpretação de Halle Bailey faz como que não tenhamos tanta saudade da encantadora Ariel original. O problema é que nem a vilã Úrsula nem o rei Tritão acabam convencendo e, aí sim, sentimos falta dos personagens animados. Talvez não seja tanto um problema de interpretação, mas do processo digital que tem vantagens (as possibilidades das coreografias ou algumas cenas visualmente muito potentes) e também muitos inconvenientes. Entre eles, o excesso de um artifício pouco crível: uma coisa é uma vilã animada com tentáculos e ventosas, outra é Melissa McCarthy transformada em polvo. Ou Javier Bardem com rabo de peixe. Apesar de tudo isso, e de ser inferior ao desenho original, o filme é correto e diverte.

Para terminar, em relação à polêmica sobre a raça da sereia. Reconheço que, no dia que surgiu, como já disse, esse debate me pareceu absurdo, pois estamos diante de um personagem de ficção e animado. Em outras palavras, polemizar sobre a raça de uma sereia é ridículo. Assistindo ao filme e reparando nas diferentes raças das irmãs de Ariel (uma oriental, outra indiana, outra eslava) e nos vizinhos que habitam o oceano, concluí que o único sentido que isso poderia ter é o de produzir um merchandising mais variado, com cada criança podendo adquirir uma sereia ou “sereio” ou tritão de sua raça... Porque não posso acreditar que se pretenda acrescentar um discurso contemporâneo de diversidade e aceitação das diferenças a uma história que, há quase dois séculos, surgiu tratando da relação amorosa entre um ser humano e uma sereia.

© 2023 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol.

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