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Jon Batiste e Samara Joy
Jon Batiste e Samara Joy se apresentam no Rio e em São Paulo dentro da programação do C6 Fest| Foto: Reprodução YouTube

Uma cantora brasileira une dois artistas americanos que se apresentam no Brasil neste mês e que vivem momentos de grande destaque internacional. Em uma recente entrevista para a Folha de São Paulo, o cantor e pianista Jon Batiste se derreteu pela música de Hermeto Pascoal e lamentou profundamente a morte de Jô Soares, para depois indagar à repórter: “Me pediram para tocar com uma moça chamada Anitta, você conhece esse nome? O que eu queria mesmo era tocar com Lia de Itamaracá”, arrematou, citando a lenda pernambucana de 79 anos.

Já Samara Joy viveu a noite de sua vida no início deste ano, ao ser contemplada com o prestigioso Grammy de Artista Revelação. O que ela não sabia era que Anitta também estava indicada na categoria e que seus fãs tinham certeza de que a brasileira seria a agraciada com o troféu. Resultado: após a premiação, as redes sociais da cantora de jazz foram infestadas por uma multidão que agredia a vencedora do prêmio, como se ela fosse a responsável pela frustração da ocasião. Fina, Samara perdoou a malta, jogando a culpa no amor que esses seres nutrem por Anitta.

Artisticamente, os dois não poderiam estar mais distantes dos sons lançados pela carioca. Jon Batiste e Samara Joy são sopros de esperança para quem enxerga a música pop como um terreno para reverenciar o passado e experimentar com diversos gêneros, o que redunda em trabalhos ao mesmo tempo sofisticados e acessíveis. Não por acaso, a dupla está escalada para se apresentar no C6 Fest, evento que toma o Vivo Rio (dias 18, 19 e 20) e o Parque do Ibirapuera (19, 20 e 21) seguindo o mesmo norte curatorial que guiou os saudosos Free Jazz e Tim Festival. Mdou Moctar, DOMi & JD BECK, The War on Drugs, Weyes Blood e os decanos da música eletrônica Kraftwerk são outras atrações de peso reunidas pelo festival estreante.

Música gospel na veia

Oriundo de uma família católica de Nova Orleans, Jon Batiste tem 36 anos e frequentou os lares americanos durante boa parte da década passada como líder da banda do talk show de Stephen Colbert. Sua carreira galgou novos parâmetros em 2020 graças à animação Soul, da Pixar. O personagem Joe foi inspirado no próprio Batiste, que assina a trilha sonora do filme. Trilha essa que foi condecorada com um Oscar – a estatueta divide espaço na estante do músico com os cinco (!) Grammy amealhados na última cerimônia, entre outras nobres honrarias. Quando não está compondo e gravando (We Are é seu último disco), Batiste dá expediente como diretor criativo do National Jazz Museum, no Harlem, em Nova York.

Samara Joy é mais jovem, ainda não completou 24 anos. A religião também teve muita importância em seu desabrochar para a música, visto que seus avós paternos são os fundadores do grupo gospel The Savettes. O pai também acompanhou artistas do universo gospel como contrabaixista, o que acabou sendo a ponte para que Samara se aproximasse da soul music e do jazz. Apaixonada por Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan, ela tem apenas dois álbuns gravados; o mais recente, Linger Awhile, motivou o reconhecimento pelo Grammy. Foi apenas a segunda vez que uma cantora de jazz faturou a categoria Revelação da premiação – a primeira havia sido Esperanza Spalding, que em 2011 derrotou Justin Bieber e Drake (e as fanzocas dos canadenses deixaram a vencedora da vez em paz).

Ainda que o leitor não esteja cogitando investir nos ingressos do C6 Fest para conferir essas novidades musicais ao vivo, é salutar tomar conhecimento de que a seara pop ainda prestigia quem canta bem, toca muito, reverencia o que presta e inova sem vulgarizar. No outro lado está uma artista brasileira, que está longe da mística de um país que começou a espalhar seu soft power musical ainda no final de década de 50, com nomes como João Gilberto, João Donato, Marcos Valle, Sergio Mendes, Nara Leão, Tom Jobim, Astrud Gilberto e Eumir Deodato, os três últimos indicados ao Grammy na categoria Revelação (Jobim e Astrud perderam para um tal de Beatles; Deodato, para a cantora e atriz Bette Midler).

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