Poderia ter sido fatal o acidente do menino Pedro, com 4 anos, que levou 13 pontos depois de cortar a perna em uma escada rolante do Shopping Ventura, no bairro Portão, em Curitiba.
O acidente foi no último sábado (9), por volta das 17h30, quando a ele, a mãe e a avó se dirigiam ao cinema do estabelecimento. Ainda sem explicação, ao descer a escada, um corte enorme apareceu na lateral direita da panturrilha do menino, que teve que ser socorrido com urgência e encaminhado ao Hospital Pequeno Príncipe, onde passou por cirurgia.
De acordo com o médico do hospital, pela profundidade do machucado, graves danos ao membro poderiam ter ocorrido se a perna fosse menos grossa. A mãe, a pedagoga Kelen Priscila Machado Buzato, 33 anos, solicitou imagens das câmeras de segurança do shopping para tentar entender o que houve, mas os vídeos foram negados pela administração, no fim da tarde da última terça-feira. O advogado da família deve entrar com um pedido judicial para conseguir os arquivos. Também diante da negativa do shopping, um relato dos fatos já foi encaminhado ao Ministério Público, para a área de Defesa do Consumidor.
Segundo o especialista em ortopedia pediátrica do Pequeno Príncipe que atendeu o Pedro, doutor Victor Hugo Ramos, o machucado na escada poderia ter inúmeras consequências, até mesmo a morte. “Seria um caso extremo. Poderia ter havido um sangramento que ocasionasse uma situação do gênero. Mas o que chamou a nossa atenção foi a forma do acidente.Os acidentes em escada rolante ocorrem porque a criança, geralmente, prende o pé nos degraus. O caso do Pedro foi atípico. Foi um corte profundo, que chegou a atingir três camadas de tecido de proteção do corpo, quase chegando no músculo”, apontou Ramos.
Nessa quinta-feira (14), Pedro terá uma consulta de retorno. “Em geral, realizo consulta de retorno às sextas-feiras. Por ser feriado, e por ser um caso de corte, vou atender ele na quinta (hoje). Ferimentos desse tipo devem ter acompanhamento semanal, até pelo risco de infecção. Por isso, não vamos deixar passar de quinta-feira”, disse o médico.
O acidente do Pedro levanta um alerta sobre as escadas rolantes. Em relação à segurança nesse tipo de equipamento, segundo o tenente Gustavo Zanella, do Corpo de Bombeiros, um ponto importante a ser levado em consideração é que a escada rolante não é considerada saída de emergência, como são, por exemplo, as escadas protegidas. Por isso, não há uma regulamentação específica dos Bombeiros sobre como se comportar em cima delas. Zanella diz que a responsabilidade para tais indicações (e para o funcionamento seguro das escadas) seria dos fabricantes e dos proprietários dos locais onde as escadas estão instaladas. “Há regras nacionais e internacionais que precisam ser respeitadas. Se esse meio de locomoção estiver sendo utilizado de forma inadequada, oferece risco”, apontou o tenente.
Orientações dos bombeiros
- Idosos, pessoas com mobilidade reduzida, em carrinho de bebê ou cadeirantes não devem usar. O indicado é o uso de elevadores.
- Prestar atenção aos avisos nas bordas dos degraus.
- Atentar-se para o posicionamento dos dois pés, que devem estar no centro do degrau, evitando as extremidades da escada. Geralmente, há uma faixa amarela indicando isso, já que os pés podem enroscar nesses locais.
- Sempre utilizar o corrimão da escada. Se a pessoa estiver apoiada, a chance de acidente reduz, caso haja uma parada brusca, por exemplo.
- Evitar se encostar nas laterais fixas da escada.
- Não sentar nos degraus.
- Cuidar com as vestimentas. Calças compridas ou sapatos com cadarço grande podem enroscar nos vãos.
- Nunca usar no fluxo oposto da escada, pois ela não é brinquedo.
- Os fabricantes indicam que não se deve andar na escada, para evitar desequilíbrio.
- Crianças não podem usar as escadas sem supervisão de um adulto, que deve estar de frente para a criança, no degrau imediatamente acima ou abaixo.
Mãe abalada
Além dos cuidados com o filho, a mãe ainda deve lutar na Justiça para poder descobrir o que de fato ocorreu naquele sábado. Sem as imagens das câmeras de segurança para revelar como foi o acidente, Kelen Buzato diz seguir com o coração aflito. “Infelizmente, não tem conversa com eles. Negaram tudo, me responsabilizaram pelo acidente, mas eu tenho a consciência tranquila. Se o shopping não quer liberar as imagens, alguma coisa deve ter ali. Têm muitas pessoas me culpando, dizendo que eu não me cuidei. Vou esperar a Justiça. Estou abalada, procuro não chorar na frente do Pedro, brinco com ele… Eu queria assistir ao vídeo. Estava eu na frente, minha mãe atrás dele. A gente achou que ele tivesse enroscado o pé, mas não. Preciso entender o que houve para evitar que outra criança se machuque”, disse.
Pedro e a mãe estão com atestado médico de sete dias, para que toda a atenção possa ser dada à recuperação do menino. Enquanto isso, o advogado da família, João Carlos Farracha de Castro, diz que já relatou o caso ao Ministério Público e, após a negativa do shopping com relação à entrega das imagens, fará o pedido na Justiça para ter acesso ao conteúdo. “No domingo, entramos em contato com a administração pedindo as imagens e o laudo técnico de regularidade da escada. Estava tudo certo para eles nos encaminharem. Na tarde de terça, houve a negativa. Vamos ao Ministério Público do Consumidor por se tratar de um acidente de consumo. Poderia ser com qualquer pessoa, de qualquer idade, considerando o local onde ocorreu”, informou Farracha.
O advogado também disse que a mesma escada estava funcionando normalmente no domingo, sem qualquer alteração ou conserto. Segundo Farracha, um vídeo feito pela família aponta uma emenda no aço inox da lateral da escada. “Não há como apontar que esse possa ter sido o problema, que essa emenda possa ter agido como uma navalha. Mas essa escada, diferente de outros shoppings, não tem proteção lateral de borracha. O metal é visível”, considerou.
Nota do shopping
“O shopping lamenta o incidente do último sábado e esclarece que prestou todo atendimento necessário à família. Informa ainda que a escada rolante permaneceu em funcionamento na data do ocorrido e que o equipamento está em perfeitas condições de uso, com as vistorias e laudos em dia.
O empreendimento reforça a importância de os responsáveis por crianças pequenas redobrarem a atenção durante o uso de escadas rolantes, respeitando as orientações de uso do equipamento”.
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