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Foto: Arquivo da família
Foto: Arquivo da família| Foto:

Em março, o silêncio caiu sobre o edifício Uirapuru. As manhãs dos moradores do prédio no Água Verde, em Curitiba, eram sempre musicais, embaladas pelas melodias clássicas e leves saídas dos dedos da professora, maestrina e cantora Beatriz Catarina Randon Scotti, falecida em março, aos 76 anos, vítima de câncer. Apesar de fazer a diferença no cotidiano de quem saía apressado para o trabalho ou de quem tomava um café sonolento no andar de cima, ela e seu piano estavam, nessas manhãs, em uma relação que só envolvia os dois. “Nesses momentos ela tocava para ela mesma”, explica o marido, Ivo José Scotti.

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Beatriz vivia em Curitiba com a família desde 1995. Antes disso, completou uma carreira como professora de português, francês e música em colégios do Rio Grande do Sul. Lecionava para alunos do segundo grau e para alunas do magistério, ou seja, também ensinava a ensinar. Querida pelas alunas e alunos, foi convidada inúmeras vezes para ser paraninfa em formaturas das turmas. A música fazia parte de seu trabalho com o ensino, mas nunca era apenas isso. No início dos anos 1970, ajudou a fundar o coral da Universidade de Caxias do Sul (UCS). Na mesma instituição, especializou-se em português e francês, após a graduação em Letras.

A filha de imigrantes italianos “tinha rodinhas nos pés”, como diz Ivo, pois sempre estava recheando a rotina com atividades diversas. Já aposentada, logo que chegou a Curitiba procurou participar ou mesmo criar oportunidades que envolvessem o canto e a música. Ingressou no Coral Paraná, mantido pela Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), pelo qual cantou em importantes eventos da entidade. Também era integrante do coral Art Encanto e com o grupo viajou para países como Polônia, Rússia e França, mostrando a qualidade do repertório e das vozes brasileiras ao mundo.

As viagens eram frequentemente estendidas para que os coralistas pudessem passear e conhecer a cultura dos locais onde soltavam a voz. Nesses momentos Bea – ou Bia, como também era chamada em Curitiba – espalhava uma cultura geral que lhe era natural, fruto, em grande parte, do seu hábito de leitura.

Em 2004, fundou e passou a reger o coral de crianças da catequese do Lar dos Meninos de São Luiz, ligado à Escola São Luiz e ao Santuário Sagrado Coração de Jesus. Com atenção especial a cada criança, promovia a valorização delas e o envolvimento de toda a família. "Ela ligava família por família para avisar dos ensaios e apresentações, conhecia todos pelo nome", conta a filha, Alexandra Scotti, que herdou da mãe o amor pela música e hoje é cantora. A conexão com os filhos foi transferida para os netos na forma do ensino. Ela mesma preparava aulas e conteúdos e ensinava as crianças com dedicação e exigindo o mesmo.

Muito ligada à comunidade do bairro e ao Santuário, todo ano organizava o presépio da igreja. Também fazia parte do grupo de exéquias, levando palavras de conforto para famílias que tinham acabado de perder um ente querido.

No velório de Bea, uma apresentação de 40 minutos em sua homenagem uniu os integrantes dos corais dos quais ela participava ou regia. A música voltou a reverberar pela vizinhança que sente a falta de sua cantora. Beatriz deixa marido, três filhos e cinco netos.

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