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Sem ventilação, vidros do caminho arqueológico da Praça Tiradentes ficam embaçados. | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Sem ventilação, vidros do caminho arqueológico da Praça Tiradentes ficam embaçados.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Além de estar embaçado e com partes quebradas, o caminho de vidro que cobre o sítio arqueológico da Praça Tiradentes, no Centro de Curitiba, tem até moradores de quatro patas. Na última quarta-feira (19), um gato foi flagrado passeando embaixo dos vidros. Ou seja, em cima dos vestígios do piso original da praça, possivelmente construído durante o período imperial, na segunda metade do século 19. Ratos também já foram vistos no local.

Para o técnico administrativo Luis Carlos Evangelista, de 60 anos, a situação evidencia o descaso com a praça. “O local está abandonado e não dá para ver o piso original que existe embaixo dos vidros. Sem contar que até animais estão andando ali. Agora tem um gato, mas também já vi ratazanas”, afirma ele, que trabalha nos arredores da praça.

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“Como não dá para ver, não dá para compreender o que tem ali e isso faz com que muitas pessoas nem parem para observar. Eu, por exemplo, só descobri agora o que é isso porque nunca consegui ver nada ali”, disse o pedreiro Amilton José de Lima, 50 anos, que também costuma circular pela Tiradentes.

O que embaixo dos vidros?

Os vestígios que deveriam aparecer com facilidade pelos vidros translúcidos foram encontrados por uma equipe de arqueólogos da Universidade Federal do Paraná (UFPR) liderados pelo professor Igor Chmyz, em 2008. Segundo ele, entre as descobertas das escavações estão parte do calçamento da primeira urbanização do espaço.

“Havia um sistema de caminhos com oito acessos ao centro da praça e os vestígios encontrados mostravam o revestimento desse caminho e as drenagens laterais”, relata o professor, recentemente aposentado da UFPR.

De acordo com ele, a descoberta foi tão impactante que até mudou o projeto original de revitalização da praça. “Quando as máquinas que tiravam os sedimentos bateram ali, pedimos para que parassem na hora porque esses vestígios não poderiam ser danificados”, relata.

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Segundo o professor Chmyz, o trabalho custou caro para a cidade e, por isso, deveria receber a manutenção adequada realizada por especialistas. “Eu até guardei certa quantidade de terra do local para realizar esse trabalho de restauração”, afirma.

Mas, segundo ele, nenhuma secretaria do município o procurou depois que a obra foi concluída. “Houve tremendo descaso da prefeitura em relação a algo público preparado para que a população tivesse acesso à informação histórica da cidade. A situação em que o espaço se encontra hoje é absurda, já que até animais estão tendo acesso ao espaço e defecando no local enquanto caçam ratos ali”, lamenta.

O que diz a prefeitura?

A prefeitura informa que diversos serviços de manutenção foram feitos na Praça Tiradentes recentemente, inclusive limpeza e reforço da segurança, com um módulo da Guarda Municipal. Porém, o vidro do caminho histórico segue com a visão prejudicada porque o sistema de ventilação foi danificado por moradores de rua há cerca de um ano e meio.

Para evitar novos prejuízos, o superintendente de obras e serviços da secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), Reinaldo Pilotto , afirma que a implantação de uma ventilação natural está sendo estudada. “Pedimos um prazo de dois meses para a população para avaliarmos se vamos conseguir resolver isso com aberturas de mais frestas para que entre ar”, aponta. “Se isso não resolver, vamos instalar novos ventiladores para manter a circulação de ar e impedir que os vidros embacem”, enfatiza.

Caso opte pela ventilação natural, explica Pilotto, a SMMA terá de estudar uma forma para que os moradores de rua não usem essas novas frestas de ar para guardar seus pertences ou que outros animais entrem no caminho. “Estamos vendo o que pode ser feito”, diz o superintendente.

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