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 | Arquivo da família/
| Foto: Arquivo da família/

Ao tocar a tela em branco com o pincel e imprimir nela as vivas cores com que gostava de trabalhar, a artista plástica Corina Ferraz cantava. Cantava e dançava não apenas pintando, mas em muitas atividades do dia a dia. Não por coincidência, a música está presente em sua obra a todo momento, seja na estética que lembra uma partitura ou no desenho de um dos personagens ali representados como músicos.

Além das artes visuais, para as quais contribuiu também com trabalhos de ilustração, gravura e cartum, Corina, que morreu em março deste ano, aos 69 anos, compunha poesias e canções populares. Natural de Leme (SP), cursou a Faculdade de Artes de Ribeirão Preto (SP) e em 1971 mudou-se para Curitiba, onde graduou-se em Pintura na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap). Apesar do envolvimento com a arte e de seu estilo estarem com ela desde muito cedo, apenas “se descobriu” como pintora naif durante essa graduação.

Inspirada por elementos da cultura popular, da música e da religiosidade cristã, desenvolvia uma série de desenhos com temática lírica em papel, e em seguida transferia para uma tela preparada a fim de pintar com tinta acrílica. Antes de utilizar a técnica na carreira, assim como o óleo sobre tela, atuou como ilustradora em agências de publicidade, estúdios de arte e editoras, aperfeiçoando-se em áreas como a xilogravura, litografia, desenho animado e aerografia.

Como pintora, foi selecionada para mostras internacionais como a 7ª Bienal de Arte Sacra da Argentina, em 1998, e “Jesus 2000”, realizada em 2000 nos Estados Unidos e que reuniu artistas de 19 países. A influência da religiosidade em sua obra tem a ver com a infância no interior de São Paulo, as missas rezadas em latim e os períodos em que passou estudando em internatos católicos. Como a arte naif vem do natural, da interpretação do artista sobre o mundo, Corina criou um retrato próprio e único de partes da bíblia. O apocalipse e a representação dos anjos e santos são alguns desses retratos.

Bastante envolvida com educação, especialmente a infantil, realizava atividades de arte-educação que estimulassem a criatividade dos pequenos no Museu Oscar Niemeyer. Também realizava palestras para estudantes universitários todos os anos. Além da influência positiva sobre esses alunos, é a responsável pela paixão do filho, o crítico e historiador de arte Artur Freitas. “Além de uma mãe espetacular, tinha opiniões certeiras sobre os assuntos da fé e da arte. Não se deixou influenciar por modismos e sempre se mostrou muito crítica em relação à cultura institucionalizada”, comenta.

Mesmo seus hobbies envolviam a atividade criativa. Gostava de tocar violão e brincar com jogos de palavras. Criou uma espécie de dicionário com palavras e aliterações divertidas com mais de 300 verbetes. Acreditava que a arte é um modo de salvar o mundo. Contribuiu com isso fazendo com que as pessoas olhassem para o céu e pensassem nas cores do arco-íris.

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