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César Condrati  agora irá participar de outra prova , a de 100 milhas, na Carolina do Norte . Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
César Condrati agora irá participar de outra prova , a de 100 milhas, na Carolina do Norte . Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo| Foto: Gazeta do Povo

No primeiro minuto de 23 de fevereiro, o sino tocou, destoando da calmaria habitual que caracteriza as madrugadas na Chácara Flor Alada, situada na zona rural de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba. Na estrada que passa em frente ao local, uma movimentação atípica para aquele horário: duas pessoas correndo, outras duas de bicicleta e mais uma conduzindo um carro. Sob o céu estrelado e a luz da lua cheia, César Condrati iniciava aquele que seria o percurso mais desafiador desde que começou a praticar corrida, 12 anos atrás. Quinze horas e 137 quilômetros depois, no mesmo local, o sino voltou a tocar. Dessa vez, para celebrar que César havia atingido seu feito: percorrer a pé todo o entorno de Curitiba.

Coisa de maluco? Nada disso. Na verdade, é apenas a primeira parte de um projeto ambicioso e muito bem planejado por um corretor de seguros que, desde 2007, tem na corrida uma segunda profissão. Após completar 15 maratonas e outras 15 ultramaratonas nesse período, César Condrati estabeleceu um objetivo para 2018: correr uma prova de 100 milhas (o equivalente a 160 km). A primeira tentativa, naquele mesmo ano, foi interrompida por fortes dores no joelho. “Foi a primeira e única prova em que não ultrapassei a linha de chegada. Mas isso, ao invés de me derrubar, me deu ainda mais energia para buscar um novo desafio à altura”, conta.

Foi aí que, conversando com amigos, ele decidiu retomar um sonho antigo, o de percorrer todo o perímetro de Curitiba, que soma algo próximo de 100 milhas. Isso não seria possível porque boa parte do trajeto é formado por rios, mas uma outra alternativa era viável: contornar todo o município, passando por nove cidades da região metropolitana. Quando César se inscreveu para a Umstead 100, corrida de 100 milhas que acontece em abril em Raleigh, nos Estados Unidos, veio o impulso que faltava para tirar a ideia do papel.

Assim, em novembro do ano passado nascia o Projeto #Condrati100Milhas. A primeira parte foi a volta ao redor de Curitiba, concluída com sucesso no dia 23 de fevereiro. A segunda é a Umstead 100, que acontece no dia 6 de abril e para a qual César abriu um financiamento coletivo, a fim de conseguir ajuda para custear a viagem aos EUA. A terceira é tornar a volta ao redor da capital uma prova oficial em 2020, instituindo assim as 100 Milhas de Curitiba.

Planejamento e apoio

Até completar os 137 quilômetros que contornam a capital paranaense, foram três meses de preparação física e planejamento. Primeiramente, para definir o trajeto. César pesquisou via Google Maps e Strava (aplicativo com mapas de trajetos de corrida), mas também verificou alguns locais in loco. “Quando encontrava alguns trechos mais problemáticos, aproveitava para treinar na região e definir o melhor percurso, evitando ruas esburacadas, subidas ou que oferecessem algum risco à segurança”, relata. O trajeto incluiu Campo Largo, Araucária, Fazenda Rio Grande, São José dos Pinhais, Piraquara, Pinhais, Colombo, Almirante Tamandaré e Campo Magro.

Para conseguir completar todo o percurso, César alternou corrida, caminhada e trote, com 20 paradas programadas. “Estabeleci um ritmo tranquilo, que foi fundamental para completar a prova”, diz. Entre ruas desertas, pessoas a quem cumprimentava, animais e sem pisar em território curitibano em nenhum momento, o corredor citou como único imprevisto o clima. “A previsão era de tempo mais fechado, mas o céu esteve aberto o tempo todo e teve sol desde as 6 da manhã. Isso fez com que, na segunda metade do percurso, minassem um pouco as forças, mas nada que desanimasse.”

Ao longo das 15 horas, 34 minutos e 41 segundos que duraram o trajeto, César contou com a participação direta de mais 18 pessoas. O treinador Marco Piazza acompanhou todo o trajeto de carro, além de outras seis pessoas que também deram suporte de automóvel. Nove corredores o acompanharam a pé ao longo do percurso – o que fez o maior trajeto percorreu 26 quilômetros – e dois ciclistas (que percorreram 80 quilômetros). Os últimos metros foram com o filho Eduardo, de oito anos. “Teve até faixa de chegada e coroa de louros. Me segurei para não chorar, mas devem ter escorrido algumas lágrimas”, admite.

Rumo aos EUA

O esporte esteve presente na vida de César desde a infância, seja pedalando, jogando bola ou “correndo descalço na areia da praia com os tios e primos”. A corrida entrou de vez em 2007, depois que alguns colegas se lesionaram e inviabilizaram o futsal da firma, que ele organizava semanalmente. Assistindo à famosa Corrida de São Silvestre pela televisão, resolveu que iria participar da prova, no final do ano. Completou os 15 quilômetros da competição e não parou mais.

Os 137 quilômetros ao redor de Curitiba foram sua maior marca desde então, superando uma prova de 127 quilômetros, completada em 2017. Para alcançar essas marcas, ele não economiza nos treinos, realizados praticamente todos os dias, conciliando com as oito horas de trabalho como corretor de seguros. “Depois do expediente, aproveito e volto correndo para casa”, acrescenta. Aos fins de semana e feriados, aproveita para realizar treinos mais puxados. Na última terça-feira de carnaval, por exemplo, ele conversou com a reportagem após retornar de um treino na montanha.

O próximo desafio é completar os 160 quilômetros da Umstead 100 e também correr a Maratona de Boston, uma das mais tradicionais do mundo. Lá, vai contar com o apoio da esposa Eliana e dos dois filhos, Eduardo e Enzo. “É nossa primeira viagem aos Estados Unidos e quero compartilhar esse momento ao lado de pessoas especiais, que estão ao meu lado diariamente.”

Prova oficial

Depois que retornar dos Estados Unidos, César já tem uma missão pela frente: trabalhar para que, já em 2020, seja oficializada a prova das 100 Milhas de Curitiba. A intenção é aproveitar o percurso feito por ele em fevereiro, acrescentando mais alguns trechos para que cheguem aos 160 quilômetros. “Vamos incluir Curitiba, que ficou fora do meu percurso, mas é o centro da ideia”, ressalta. Para isso, ele pretende levar a proposta às prefeituras dos municípios envolvidos e buscar apoio junto a empresas. “A ideia inicial é que seja uma prova sem fins lucrativos e sem custo para os atletas.”

De acordo com ele, existem poucas provas dessa magnitude no Brasil. Em 2017, por exemplo, foram realizadas oito competições com trajetos de 160 quilômetros ou mais. Nos Estados Unidos, para efeito de comparação, foram 129 provas. “É algo que no Brasil ainda está crescendo. Temos várias provas longas, de maratona, mas acima de 100 milhas são pouquíssimas. E Curitiba pode se tornar uma referência nesse sentido.”

Projeto 100 Milhas

Como parte do Projeto #Condrati100Milhas, César Condrati também está arrecadando roupas, calçados e alimentos não perecíveis para doação a entidades assistenciais. As informações para doação e sobre o projeto estão no blog condrati.blogspot.com. Ele ainda tem aberto um financiamento coletivo para ajudar nos custos da viagem para os EUA, no endereço www.vakinha.com.br/vaquinha/projeto-condrati100milhas. O projeto tem como apoiadores Equipiazza Assessoria Esportiva, Naventura Eventos Esportivos, Academia Studio Corpo Livre, fisioterapeuta Ana Paula Janz, nutricionista Mel Pinesso, 42K Suplementos Alimentares e Piu José Eventos.

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