João Guenther Maschke.| Foto: Arquivo pessoal
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João Guenther Maschke, filho de Irma e Hans Maschke, era um paulistano de nascimento, curitibano por adoção e alemão de comportamento. Tinha um irmão. Foi criado no casarão da esquina da Comendador Araújo com Buenos Aires onde era frequente a presença do governador Bento Munhoz da Rocha. Ali também Assis Chateaubriand foi recepcionado e artistas se hospedaram. A mãe, anfitriã de mão cheia, era tão nobre quanto o brasão da família que ele mantinha na parede da sala da casa onde passou boa parte da vida, no bairro Seminário.

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Formou-se em engenharia civil na UFPR numa turma onde podia se ver ao lado Cecílio do Rego Almeida e Alfred Willer. O pai tinha um destino traçado para ele: cuidar da indústria, fundada pelo avô materno, Theodoro Schaitza, que fabricava, entre outras coisas, as escovas Ultra. Foi para isso que fez estágio em empresas nos Estados Unidos e Alemanha, onde passou um ano e encontrou a eterna companheira, Ingrid, com quem ficou casado meio século até a morte dela. O encontro deles foi inusitado. Ela, carioca, estava de férias visitando parentes na Alemanha. Um dia viu passar pela rua um fusquinha verde. Chamou a atenção uma bandeirinha do Brasil pendurada do lado de fora. Ela tentou se aproximar quando o carro parou no sinaleiro, mas não chegou a tempo. Um mês depois se conheceram em uma cervejaria. Foi quando ela descobriu que João era o dono do fusquinha.

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Provavelmente João sabia que ser capitão de indústria não era sua praia, mas na disciplina rígida, a missão que lhe deu o pai, era para ser cumprida. Anos mais tarde ele diria que fez tudo o que fez, admitindo erros, por causa do "nome da família". Assim, a falência da empresa veio na esteira da dilapidação do patrimônio para tentar salvá-la e também para honrar os compromissos com todos os funcionários. João Maschke era um humanista na essência, alguém que dificilmente levantava a voz e, dentro do que aprendeu em casa, afetuoso com os três filhos – Silvio, Sonia e Henrique – e com os cinco netos.

Após o fechamento da fábrica, passou a ficar em casa cumprindo uma rotina sagrada de horário para o café da manhã, almoço, lanche da tarde e da noite. Era um chocólatra de marca maior. A família agradecia aos deuses não ser ele um diabético, pois completava a dieta até com açúcar no pão. O apelido de "Formigão" era perfeito.

Enquanto ainda dirigia a empresa, fez curso de pilotagem, tinha brevê e sempre se correspondia com os outros integrantes do grupo Velhas Águias.

João ficou em casa e, enquanto pode, tentou ser uma espécie de professor Pardal de invenções que ele se orgulhava em fazer. Um aquecedor solar feito com garrafas pet, um canudo ecológico feito de emendas de macarrão tipo “pene”, formas para jogos de dominó e damas que seriam feitos de chocolate, um píer para a casa na chácara na represa Vossoroca. Nada deu certo, mas ele não desistia.

A chácara era seu refúgio e fonte de inspiração. Foi ali que teve a ideia de criar abelhas e cultivar cogumelos. Um dia resolveu trazer algumas caixas com as colmeias para a casa em Curitiba. O fumacê e a roupa de astronauta não impediram a revolta das abelhas, que se espalharam pela vizinhança.

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O que não desistiu a tempo foi do vício de fumar que o fez perder meio pulmão por conta de um câncer e foi a razão principal da sua caminhada cada vez mais difícil até a partida. Era forte. Com 80 anos frequentava academia de ginástica com o genro. Dirigiu seu carro até mais tarde do que isso, mesmo contra recomendação médica. Não dispensava a taça de vinho tinto de cada dia.

As palavras cruzadas e o sudoku da Gazeta eram suas principais distrações. Dizia que precisava estimular o cérebro para não perder a memória tão privilegiada. A internet se transformou em sua companheira e se comunicava com muita gente. No dia em que partiu, ainda teve tempo de informar que o celular estava 100 bateria. Foi assim mesmo que escreveu.

Faleceu de complicações respiratórias aos 87 anos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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