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Wanderlei Karam entendia que o ensino não precisava estar restrito à teoria e à sala de aula.
Wanderlei Karam entendia que o ensino não precisava estar restrito à teoria e à sala de aula.| Foto: Arquivo pessoal

Quando entrou pela primeira vez em uma sala de aula como professor de Ciências e Biologia, Wanderlei Margotti Karam percebeu que havia chegado ao lugar onde sempre quis estar. Comparada à carreira de grande parte dos docentes do Ensino Fundamental e Médio, pode-se dizer que a dele começou tarde. Já tinha 30 anos, uma graduação em Zootecnia pela PUC-PR e mestrado em Ciências Veterinárias pela UFPR, além da formação para atuar como professor, quando começou a lecionar.

A sede por compartilhar conhecimento e por ver outros fazendo bom uso dele, o dom transparente de criar e orientar atividades, percebido desde as brincadeiras de criança com os irmãos mais novos, tudo isso fez sentido no momento em que adotou giz e lousa como ferramentas de trabalho. Porém, não se atinha apenas a elas, gostava de abrir as portas da sala e de fazer da natureza, do pátio e dos espaços abertos onde a mente das crianças e adolescentes floresce com mais naturalidade, seu espaço de aprendizagem.

Prova disso são os grupos e projetos idealizados por ele e desenvolvidos de forma duradoura em conjunto com os estudantes. No Colégio Estadual Luiz Sebastião Baldo, em Colombo, onde Wanderlei era também diretor, há um grupo de atividades socioambientais, um projeto para compostagem, horta, observação de experimentos de solos, minhocário e pomar, e outro para guardar água da chuva, aquário ecológico, irrigação e análise do Rio Palmital. Já no Colégio Fênix em Curitiba, ele fundou um grupo de estudos sobre sustentabilidade e na Faculdade de Pinhais, uma horta comunitária.

No início, tinha que ir de sala em sala pedir para que os alunos participassem, já que as atividades aconteciam no contraturno. Mas tão logo viam como eram capazes de realizar mudanças no ambiente com as próprias mãos, quase faltava lugar para tanta participação. “Ele apostava muito nos alunos, orientava e dava independência. Mesmo depois de formados no colégio, muitos continuavam nos projetos”, conta a irmã e professora, Ana Luiza Karam. As iniciativas, mesmo quando focadas em estudantes mais velhos, atraíam os mais novos, como o minhocário, e engajavam a comunidade. Quando criou em um colégio a coleta e transformação do óleo usado em sabão, teve que destinar o material a outras ações de reciclagem porque a soda cáustica que tinha não dava conta de tanta doação de óleo, por exemplo.

Gostava de estar em instituições públicas e particulares para entender as diferentes realidades, e batalhava para que os estudantes trabalhassem suas percepções e pensamento sobre a sociedade. Graças ao seu incentivo a projetar a voz deles, o Grêmio Estudantil do Baldo virou referência para outras escolas de Colombo e ficou conhecido fora dos muros do colégio. Fã de esportes, torcedor do Coritiba e jogador de futebol e basquete na juventude, foi treinador do time do Baldo, com o qual ganhou medalhas em jogos interescolares.

A personalidade brincalhona o fazia falar para todos que gostaria de ser humorista ou ter seu próprio show de stand up comedy. Essa mistura de bom humor e abertura para ajudar quem precisasse o fizeram ser lembrado para além das salas de aula. Filho de professor universitário e um dos responsáveis pela escolha da carreira de duas irmãs na docência, traduziu o amor pela educação em ações que continuam reverberando mesmo após seu falecimento, aos 47 anos, vítima de Covid-19. Wanderlei Karam deixa uma filha.

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