Entro na sala do tanatopraxista Clayton Marchioro, 51 anos, e sento numa dessas cadeiras pretas de escritório. Em cima da mesa, laptop, garrafa térmica e cuia de chimarrão. “Já começamos a conversar. Estou terminando de pagar algumas contas”, diz com uma voz meio despojada.
O Cetap (Centro de Tanatopraxia Avançada do Paraná) fica na Alameda General Raul Munhoz, 62, no bairro São Francisco. É uma viela de paralelepípedos curta e estreita. A fachada da casa é de pedra e alvenaria, sobreposta por uma tinta bege. A entrada é acolhedora – arbustos ladeiam o caminho até a porta. Não há banner ou placa que identifiquem o local. Quem caminha pela rua nem sequer desconfia de que ali funciona um quartel general aberto 24 horas que resguarda corpos e os prepara para a acolhida final. “É por aqui que entram os defuntos que vêm da funerária”, avisa Clayton, apontando para um portão de ferro.
Mal termino de formular a primeira pergunta sobre a origem da tanatopraxia e ele já emenda uma resposta didática (meio mórbida e não menos esclarecedora). “O conceito da tanatopraxia surgiu nos Estados Unidos em 1846. O professor de uma universidade injetou um veneno no sistema circulatório para que o corpo se mantivesse conservado e os alunos pudessem ter melhores condições de estudar a anatomia”. No Brasil, a técnica chegou somente em 1995.
Marchioro atua na área há mais de 20 anos e dá cursos de tanatopraxia e necromaquiagem em todo o país. Como se eu fosse um de seus alunos, explica-me em detalhes como é feito o procedimento. “Normalmente o profissional faz uma pequena incisão na região inguinal [perto da virilha] e, a partir de uma bomba injetora–que contém um produto à base de formol–, o líquido é bombeado, espalhando-se pelo corpo, limpando-o, e matando as bactérias”, ensina. “Isso faz com que todo o sangue sujo e contaminado seja expelido.”
De jaleco branco e calça jeans, o tanatopraxista é enfático ao dizer que o procedimento deveria ser obrigatório. Reforça que a técnica não é somente utilizada como ferramenta social; ela também tem uma função ambiental importante. Clayton me pede para imaginar um corpo contaminado por alguma doença, que não passou pela tanatopraxia e que foi enterrado. Depois me pede para imaginar um dia chuvoso e a chuva atingindo o cadáver em decomposição. Imagino tudo isso. E, logo depois, arremata: “Sem o procedimento, o necrochorume (resíduo natural expelido do corpo no processo de decomposição) infectado poderia se alastrar e atingir o lençol freático ou algum aquífero e contaminar várias pessoas”.
Concluído o processo de limpeza residual do cadáver, é hora de torná-lo apresentável para o velório. O processo de embelezamento do defunto chama-se necromaquiagem. O procedimento é semelhante ao da maquiagem usual e os produtos são os mesmos: pó, batom e corretivo.
Depois de receber uma aula de como limpar um cadáver por dentro, desço dois lances de escadas e acompanho Clayton até a sala em que o procedimento é realizado. Azulejos brancos nas paredes, o local tem por volta de cinquenta metros quadrados e cheira a formol. Dois corpos deitados sobre mesas metálicas recebem os cuidados de três mulheres vestidas com aventais brancos, máscaras, botas de borracha e luvas. Pergunto para o meu guia por que a parte de trás do crânio do homem à minha direita está mal costurada. “Lá no IML (Instituto Médico Legal) eles fazem de qualquer jeito. Aqui a gente faz o acabamento certinho.”
Lista de falecimentos
Ailton Celso Mafra, 69 anos. Profissão: garçom. Filiação: Orlando Celso Mafra e Otília Ramos Mafra. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical.
Amilton José Bertao, 72 anos. Profissão: sapateiro. Filiação: Afonso José Bertao e Diomira Moreschi Bertao. Sepultamento ontem.
Andrey Fontana, 42 anos. Profissão: servente. Filiação: Genuino Fontana e Maria Pereira Fontana. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical.
Antônio Baggio, 87 anos. Profissão: carpinteiro. Filiação: Francisco Baggio e Amália Esperancete Baggio. Sepultamento ontem.
Bruno Guilherme Martins Moreira, 39 anos. Profissão: autônomo. Filiação: José Manoel Gonçalves Moreira e Maria Salete Farias Martins Valente Moreira.
Carlito Aparecido Crescencio, 58 anos. Profissão: eletricista. Filiação: Antônio Crescencio e Aurora Sales Crescencio. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical.
Carlos Alberto Rezende de Carvalho, 59 anos. Profissão: contador. Filiação: José Sebastião de Carvalho e Jovina Roque de Rezende. Cerimônia hoje, no Crematório Vaticano.
Cecília Fushae Inoue, 88 anos. Profissão: do lar. Filiação: Jitsum Ueno e Otsuyo Ueno. Sepultamento ontem.
Cyl Mara Munhoz, 59 anos. Profissão: professora. Filiação: Luiz Sanchez Munhoz e Alayr Munhoz. Sepultamento hoje, no Cemitério Jardim da Saudade I.
Ednir Amaral, 81 anos. Profissão: servente. Filiação: Raul Amaral e Regina Amaral. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal Boqueirão.
Eroni Maria Pauletti de Oliveira, 56 anos. Profissão: do lar. Filiação: Antônio Pauletti e Nair Melo Pauletti. Sepultamento hoje, no Cemitério São Roque, em Piraquara.
Estefanea Leschinheski, 95 anos. Profissão: do lar. Filiação: Adão Lescheneski e Marta Leschinheski. Sepultamento hoje, no Cemitério Guarituba, em Piraquara.
Eunice Curial Oliva, 92 anos. Profissão: do lar. Filiação: Cesário Curial e Lydia de Castro Curial. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.
Gertrudes dos Santos de Assunção, 81 anos. Profissão: do lar. Filiação: Francisco Lopes de Araújo e Filomena Geremias dos Santos. Sepultamento ontem.
Helena Santos, 91 anos. Profissão: do lar. Filiação: Stanislau Levandoski e Stanislava Levandoski. Sepultamento ontem.
Horácio Borba Cordeiro, 60 anos. Filiação: Lodovico Borba Cordeiro e Mercedes Chiquin Cordeiro. Sepultamento hoje, em local a definir.
Isabelle Victória Miguel de Araújo, 1 ano. Filiação: Renato Lima de Araújo e Luciane Miguel. Sepultamento ontem.
Jacira Cardoso de Souza, 69 anos. Profissão: telefonista. Filiação: Tomé Ângelo Cardoso e Elisa Felipe da Silva. Sepultamento ontem.
João José de Lima, 76 anos. Filiação: Mário Adriano de Lima e Júlia Francisca de Jesus. Sepultamento hoje, no Cemitério Vaticano.
João Martins de Carvalho Filho, 79 anos. Profissão: comerciante. Filiação: João Martins de Carvalho e Marcilia Miranda de Carvalho. Sepultamento ontem.
José Messias Campos, 70 anos. Profissão: militar. Filiação: Messias Olímpio de Campos e Maria Manuela de Jesus. Sepultamento ontem.
Judith Souza de Almeida, 86 anos. Profissão: cozinheira. Filiação: Alexandrina Souza de Almeida. Sepultamento hoje, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais.
Juraci Soares, 66 anos. Profissão: do lar. Filiação: José Correia da Silva e Tarcilia Lorena dos Santos. Sepultamento hoje, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais.
Lídia Jorge Olichevis, 82 anos. Filiação: José Salomão Jorge e Barbara Jorge. Sepultamento ontem.
Lucas Busto Ramos, 1 dia. Filiação: Roberto Paiva Ramos e Nadir Busto Ramos. Sepultamento ontem.
Márcio de Jesus Pereira de Melo, 27 anos. Profissão: lavrador. Filiação: Izaide Pereira Demelo e Izulina Maria de Jesus Pires de Melo. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal de Mandirituba.
Marcos Guilherme de Souza, 19 anos. Profissão: auxiliar de serviços gerais. Filiação: Veldenir José de Souza e Marizete Ribeiro. Sepultamento hoje, no Cemitério Universal Necrópole Ecumênica Vertical.
Maria José Trindade, 90 anos. Profissão: do lar. Filiação: Joaquina Maria do Espírito Santo. Sepultamento hoje, em local a definir.
Maria Juvelina de Oliveira Estacheski, 77 anos. Profissão: auxiliar de serviços gerais. Filiação: Germano Crispim de Oliveira e Juvelina Libania B de Oliveira. Sepultamento hoje, no Cemitério Paroquial Campo Comprido.
Miguel Serckumecka, 57 anos. Profissão: autônomo. Filiação: Demétrio Serckumecka e Maria Semxexem Serckumecka. Sepultamento ontem.
Nelson Rogério Schffer Batista, 60 anos. Profissão: comerciante. Filiação: Alipio Kurtz Batista e Tereza Maria Scheffer Batista. Sepultamento ontem.
Ney Frederico Bilik Filho, 50 anos. Profissão: funcionário público estadual. Filiação: Ney Frederico Bilik e Leony Cecília Bilik. Sepultamento ontem.
Nilson Lobato Teixeira, 57 anos. Profissão: metalúrgico. Filiação: Arcelio Santos Teixeira e Geny Lobato Teixeira. Sepultamento ontem.
Noel Batista de Mello, 91 anos. Profissão: pintor. Filiação: Manoel Silveira de Mello e Mazilia Batista de Mello. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal Santa Cândida.
Oladi Camillo, 61 anos. Profissão: motorista. Filiação: Antônio Camillo e Maria Luíza F Camillo. Sepultamento ontem.
Pedro Alexandre Bagatin, 48 anos . Profissão: técnico em mecânico. Filiação: Pedro Bagatin Netto e Elzira Peiter Bagatin. Sepultamento hoje, no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.
Rosalina Correia Dias, 85 anos. Profissão: do lar. Filiação: Arvelino Brasilino de Miranda e Guilhermina Maria Soares. Sepultamento hoje, no Cemitério Parque Senhor do Bonfim, em São José dos Pinhais, saindo de residência.
Rosângela Valêncio Santos, 46 anos. Profissão: do lar. Filiação: Baptista Valêncio e Maria Favero Valêncio. Sepultamento ontem.
Sezinir José Ribeiro Andrade, 77 anos. Profissão: economista. Filiação: Sezinando Andrade e Nair Ribeiro Andrade. Sepultamento ontem.
Sílvio Alexandre de Souza, 70 anos. Profissão: carpinteiro. Filiação: Manoel Alexandre de Souza e Orandina de Souza. Sepultamento ontem.
Terezinha Dalmazo Liviz, 75 anos. Filiação: Jorge Aures Liviz e Judith Dalmazo Liviz. Sepultamento hoje, no Cemitério Pedro Fuss, em São José dos Pinhais.
Thadeu Wosniak, 90 anos. Profissão: chefe. Filiação: Miguel Wosniak e Catharina Baron. Sepultamento hoje, em local a definir.
Valda da Rocha, 84 anos. Filiação: Alfredo Perico e Olivia Perico. Sepultamento hoje, no Cemitério Paroquial Colônia Orleans.
Vanderlina Marques Ramos, 85 anos. Profissão: do lar. Filiação: Davenir Marques e Vicentina Marques. Sepultamento hoje, no Cemitério Jardim da Saudade I.