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| Foto: Letícia Akemi/Gazeta do Povo

A falta do remédio Ritalina em Curitiba obriga pais a fazerem uma caça pelo medicamento por telefone nas farmácias para não correrem o risco de tentar a compra direto no balcão e perder a viagem. Mais do que isso, a falta da medicação usada no controle do Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) ou Transtorno Hipercinético pode afetar o desempenho escolar e a sociabilização das crianças em tratamento. Nem mesmo o remédio similar, chamado Concerta, tem sido encontrado sem reserva prévia.

Um agravante da situação é que o desespero pela medicação motiva os pais a praticarem a compra de um genérico que chegou recentemente ao mercado, trocando a receita na farmácia sem consultar o médico. Algumas farmácias, inclusive, oferecem a opção pelo genérico para os pais que ligam, com a mesma receita da Ritalina ou do seu princípio ativo – cloridrato de metilfenidato. Mas o que se recomenda nesse caso é que o médico seja consultado.

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O filho de 12 anos da manicure Rozenilda Rodrigues, 40 anos, ficou quase dois meses sem a medicação, até que ela conseguiu uma caixa de Concerta na tarde de terça-feira (1.º). Ela conta que na escola o desempenho do menino caiu quase 80% sem o remédio. “Liguei para muitas farmácias e nem com reserva eu conseguia. Estava muito preocupada porque quero o bem-estar do meu filho. Não sei como será quando a caixa que eu consegui terminar”, preocupa-se Rozenilda.

No caso do filho dela, o médico neuropediatra do filho não autorizou na receita o uso do genérico na consulta feita há alguns meses. Para tentar a compra desse outro remédio, ela teria que revisitar o médico. “Já tínhamos feito a troca da receita da Ritalina para o Concentra. Não achei que os dois estariam em falta e não quero testar o genérico sem falar com o médico”, reclama.

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Falta de Ritalina

A reportagem ligou para três farmácias, de três grandes redes em Curitiba, e apenas uma delas não ofereceu o genérico por telefone. Em todas só havia uma ou duas caixas de Ritalina ou de Concentra, todas já reservadas.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Ritalina está em falta por questões logísticas, o que é confirmado pela Novartis, fabricante do remédio. Como somente um laboratório produz a Ritalina, a reposição na capital não tem dado conta da demanda e as farmácias têm feito vendas sob reserva.

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Nem mesmo o similar Concerta tem sido encontrado. Segundo o Conselho Regional de Farmácia do Paraná (CRF), a notificação do fabricante é de junho de 2018. Ainda conforme o CRF, como é uma descontinuação temporária, entende-se que a empresa não tem intenção de interromper definitivamente a distribuição do produto. O desabastecimento de Ritalina também ocorre em outras cidades do país.

A Novartis esclarece que ao detectar essa situação de desabastecimento temporário, imediatamente notificou a Anvisa de forma preventiva, em junho de 2018. A partir de então, buscou alternativas, como fazer o abastecimento por transporte aéreo, por exemplo, para retomar o abastecimento no mercado brasileiro – centros de distribuição, farmácias e secretarias de saúde do país – o que começou a ocorrer a partir de 24 de julho. Entretanto a procura do produto em níveis muito acima da média dificulta o atendimento completo da demanda.

A explicação do laboratório é de que o produto é controlado com retenção de receita, segue rígidos processos de exportação e importação, que incluem a existência de cotas pré-estabelecidas pelo órgão regulador. Os prazos de validade de apenas 12 meses para Ritalina e 15 meses para Ritalina LA (a Ritalina as formas LA e Comum, distintas na liberação do componente) dificultam a formação de estoque de longo prazo porque possuem prazo de validade curto.

A Novartis também informa que o processo de produção, logística e distribuição de Ritalina é complexo. A falta temporária de produtos de uso crônico gera um aumento de demanda por parte do paciente que, preocupado faz estoques preventivos, dificultando ao atendimento rápido da demanda aumentada. A empresa diz estar empenhada para regularizar a situação, mas não deu prazo para isso.

Genéricos

De acordo com o CRF, o farmacêutico pode fazer a intercambialidade da medicação, ou seja, a troca de Ritalina pelo seu medicamento genérico, desde que na Notificação de Receita A (amarela) esteja escrito o nome comercial da medicação ou, ainda, o nome genérico metilfenidato ou cloridrato de metilfenidato. Para isso, o farmacêutico deve indicar a substituição efetuada na prescrição, datar, assinar e colocar seu nome e número de inscrição no CRF. Só não é possível fazer essa troca quando o médico escreve, de próprio punho, que não autoriza a troca do medicamento, não sendo permitido manifestar-se de forma impressa.

Mesmo assim, a médica neuropediatra e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ana Chrystina Crippa, orienta que os pais devem buscar o médico para trocas de remédio, ainda mais nesses casos. “Os remédios que entram no mercado vão sendo conhecidos pelos médicos aos poucos. As dosagens, o modo de ministrar de cada um são diferentes, por isso o paciente deve ter acompanhamento. Por exemplo, a liberação do componente na Ritalina, Ritalina LA e Concerta ocorre de forma distinta”, aponta.

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