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Faculdade de Tecnologia Machado de Assis fecha em Curitiba. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Faculdade de Tecnologia Machado de Assis fecha em Curitiba. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná| Foto:

Desde o começo do ano letivo, estudantes da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis, popularmente conhecida como FAMA, de Curitiba, não sabem como ficará a continuidade dos estudos. A faculdade fechou os cursos presenciais, encaminhou todos os alunos ao Centro Universitário UniBrasil e deixou para os próprios estudantes a missão de resolver os problemas com a nova instituição ou outras em que vierem a se matricular.

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Uma das universitárias afetadas, que pediu para não ser identificada por medo de que isso a prejudique de alguma maneira, afirmou que os alunos só souberam do problema no dia em que voltariam a estudar. “Ninguém nos comunicou antes, até mesmo para que pudéssemos nos preparar. Deixaram chegar o primeiro dia de aula e não só nos trouxeram um baita problema, como também fizeram com que não pudéssemos começar a estudar no período certo”.

A jovem, que está no último ano de Pedagogia, começou os estudos em 2015. “Quando começamos, a faculdade já tinha alguns problemas, mas nunca foi algo tão grave, dava para levar. Neste ano, quando foi para começar as aulas, nos reuniram e disseram que tinham transferido todo mundo para o UniBrasil. Aí começaram os problemas”, detalhou.

Com a explicação de que não poderiam mais continuar com as atividades, a faculdade informou aos alunos que todos deveriam seguir com os estudos na nova instituição. “Mas aí começamos a ver muitos problemas, o primeiro deles, por exemplo, o valor da mensalidade”. Não se sabe o motivo de a FAMA ter optado por transferir os alunos para o UniBrasil.

Ao chegar para ver sua situação no UniBrasil, a jovem soube que, pela troca de instituição, obviamente o preço mudaria também. “Mas quando passaram para a gente que haveria a mudança, disseram que o valor que pagávamos na FAMA seria mantido. Acontece que [o] UniBrasil confirmou que manteria o valor até o fim do primeiro semestre, depois as mensalidades seriam ajustadas”.

No caso da universitária ouvida pela reportagem da Tribuna, assim como com outros alunos, os boletos aumentaram de preço ainda no primeiro semestre. “Eu paguei até fevereiro para a FAMA, mas estou com boletos [do] UniBrasil ainda sem pagar, porque todas as cobranças que vieram para mim estão bem acima do que pagava antes. Estou guardando o dinheiro das mensalidades, mas ainda não sabemos como isso vai ficar”. Conforme a estudante, a decisão do UniBrasil, após o fim do primeiro semestre, seria a de adaptar os valores cobrados pela FAMA. “Iriam avaliar uma forma de não cobrar o mesmo preço [do] UniBrasil, já que os valores de lá são bem maiores que os da FAMA, mas teria aumento sim”.

Histórico com falhas

Além da questão dos valores das mensalidades, os alunos enfrentaram também a questão do histórico escolar, que em alguns casos nem existia e, em muitos deles, o documento estava incompleto. “No meu caso, praticamente metade dele não existia. Eu só consegui ajeitar a situação porque eu controlava todas as minhas notas e informações, tinha tudo, então facilitou. Mas tem muita gente que teve problema porque o histórico veio com notas erradas, não tinha nota ou simplesmente não existia”.

Como estava no último período, na fase em que os estudantes produzem o trabalho de conclusão de curso, o TCC, a jovem ainda conseguiu negociar com o UniBrasil e sua situação não ficou tão complicada. “Mas não sabemos como vai ficar a questão do diploma, por exemplo. A FAMA disse que seria pela UniBrasil, mas na UniBrasil diz que é pela FAMA”.

A estudante disse que sentiu ainda mais medo quando viu alunos antigos ainda não pegaram seus diplomas. “Fui à FAMA para resolver a situação do histórico e encontrei alguns alunos, de cursos de três anos atrás, que ainda não tinham conseguido o diploma. Não culpo [o] UniBrasil, porque como vão pegar um aluno que estudou quase nada lá e dar pegar um diploma da instituição?”.

Sem destino certo

Aluno da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis não sabe como dará continuidade aos estudos. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná
Aluno da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis não sabe como dará continuidade aos estudos. Foto: Felipe Rosa/Tribuna do Paraná

No caso de João Victor de Souza Gonçalves, de 19 anos, outro estudante entrevistado pela Tribuna, a situação foi ainda pior: cursando Letras, o jovem não conseguiu continuar estudando na UniBrasil porque a instituição não tem essa graduação. “Primeiro disseram que iriam montar uma plataforma com a mesma grade curricular que tínhamos na FAMA, mas tivemos apenas duas aulas. Na segunda aula, comunicaram que o curso não poderia continuar lá, pela demanda ser baixa, já que eram apenas sete alunos”.

Com a decisão do UniBrasil, alguns estudantes conseguiram mudar para outras instituições, outros desistiram de vez. Gonçalves continuou no UniBrasil neste semestre, mas em outro curso. “No meu caso, [o] UniBrasil me ofereceu cursar, neste semestre, uma matéria isolada na turma de Pedagogia. Depois que esse semestre acabar, eu vou ter que mudar para outra faculdade, que ainda não sei o que vai ser”.

Na FAMA, Gonçalves tinha bolsa de 100% e isso foi mantido no UniBrasil. “Mas não sei como vai ser essa situação, se eu conseguir mudar de faculdade, se essa nova instituição vai manter a bolsa ou se vão bater com a porta na minha cara. Já liguei para várias faculdades, para ver as possibilidades que eu tinha, até agora só uma foi receptiva, mas ainda assim é incerto”.

Explicações

Dois dias após a publicação da reportagem sobre o fechamento dos cursos presenciais da Faculdade Machado de Assis (FAMA), e sua sede principal no bairro Santa Cândida, em Curitiba, representantes da instituição entraram em contato com a Tribuna com o retorno de posicionamento solicitado antes da publicação do texto. Em nota assinada pela diretoria da instituição, o texto afirma que “a faculdade não fechou e não fechará”, pois se trata de uma instituição com excelentes notas no Ministério da Educação (MEC). O que aconteceu, segundo a nota, foi a transferência do setor administrativo para outro local, no mesmo bairro, e que agora a FAMA vai atuar apenas na modalidade de Ensino à Distância (EAD).

A empresa reclamou também da “falta de alunos” e “da falência do Pronatec, por quem éramos contratados, também tivemos que realizar a adequação da FAMA por falta de apoio do governo com o corte cruel e silencioso do FIES”.

A faculdade também se colocou à disposição dos alunos, pois, segundo a nota oficial, possui “um sistema de gestão online robusto e sempre estivemos ativos na internet, além disso, possuímos um número 0800 a disposição dos alunos ampliando assim, o contato direto com os estudantes”. A FAMA garante que todo o histórico dos estudantes fica guardado (físico ou digitalizado) por décadas.

Já os estudantes afirmam que, para eles, pelo menos duas explicações foram dadas pela FAMA, uma que está no site da instituição e outra que foi dita durante a reunião comunicando o encerramento das aulas presenciais. “Nessa reunião disseram que não faliram, mas que, na verdade, o problema era com os proprietários do imóvel, que não queriam mais eles lá”, contou o estudante de Letras.

Segundo o jovem, os representantes da FAMA disseram que se uniriam a outra instituição, que fica no bairro Santa Cândida. “Mas lá nessa faculdade iriam cuidar apenas da parte administrativa”. “Falaram para a gente que perderam o prédio, mas a FAMA está aberta com curso EAD (ensino a distância)”, afirmou a estudante de Pedagogia.

No site oficial da Faculdade de Tecnologia Machado de Assis, o comunicado diz que o motivo de transferir os alunos se deu pela “falta de matrículas em janeiro, inadimplência alta de alunos, ausência do programa FIES e diversas intempéries no mercado”, que tornaram “economicamente inviável manter o funcionamento da FAMA presencial”.

E o UniBrasil?

Em nota, o UniBrasil informou que, “ao receber pedidos de transferências externas e de matrículas isoladas, não tem responsabilidade por fatos relativos às instituições de origem, com as quais os alunos transferidos e novos (disciplinas isoladas) possuíam ou possuem vínculo”. Sendo assim, conforme o centro universitário, “também não pode ser imputada responsabilidade por condutas de outras instituições e, por razões éticas, o UniBrasil não avalia, nem tece considerações sobre as ações de outras instituições”.

Sobre as mensalidades, o UniBrasil salientou que cada instituição tem sua política própria de valor de mensalidade e define o valor cobrado para seus cursos e igualmente define os abatimentos aplicáveis, com a respectiva previsão nos contratos assinados pelos alunos. "É importante frisar que o UniBrasil cumpre rigorosamente o pactuado nos contratos celebrados com seus alunos, tanto no que se refere a valor de mensalidade, quanto a eventuais abatimentos incidentes no respectivo caso. Valores definidos por outra instituição, por conseguinte, não vinculam a atuação do UniBrasil."

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