• Carregando...
Fernando Xavier ainda é um aspirante a detetive, mas já sonha em ser investigador profissional | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Fernando Xavier ainda é um aspirante a detetive, mas já sonha em ser investigador profissional| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Se o detetive Hercule Poirot, de Agatha Christie, estivesse dando autógrafos por aí, Fernando de Barros Ronda Xavier seria um dos primeiros da fila, com bloquinho, caneta e tudo. Fascinado pelo universo da investigação, o brasiliense de 26 anos sempre viu no personagem uma figura inspiradora e há pouco encontrou o incentivo que precisava para seguir os passos do seu herói da ficção. Xavier começou a cursar a graduação em Investigação Profissional com habilitação para Detetive Particular, a primeira do Brasil, lançada no início do ano passado e oferecida a distância em todo o país.

Com a criação do curso superior, que é tecnológico e tem duração de dois anos, Fernando, já graduado em Fotografia, ficou empolgado e quis investir num sonho antigo. Agora, é um dos mais de 40 alunos já matriculados no curso em Curitiba, ofertado pelo Uninter Centro Universitário, criado menos de um ano depois da regulamentação da função do detetive particular pelo governo federal.

A lei 13.432/17, que vigora desde abril de 2017, diz que este profissional pode coletar dados de natureza não criminal para solucionar questões de interesse privado. Mas ele está liberado para investigar crimes como os policiais? Não por conta própria. Segundo o texto, é possível dar apoio à polícia, desde que o delegado responsável ache conveniente.

É por isso que Fernando não quer restringir seu trabalho à investigação particular. Sua ideia é aprender muita teoria enquanto aprimora o faro investigativo, porque planeja prestar concurso público e trabalhar como investigador do Estado. “O atual cenário da criminalidade no Brasil me fez querer ingressar nesta carreira”, diz.

A grade conta com disciplinas como Criminologia, Investigação de Riscos e Fraudes Corporativas, Produção e Tratamento de Informações Sigilosas, Técnicas de Entrevista e Interrogatório e Gestão Estratégica da Investigação. A propósito, a prática chega com força só após o segundo ano, quando os alunos terão acesso a uma espécie de “kit investigação”, com equipamentos fundamentais a todo profissional da área, a exemplo das câmeras e gravadores.

O idealizador da primeira graduação para detetive do Brasil é Jorge Bernardi, vice-reitor da Uninter. Ele se inspirou em cursos ingleses de formatos semelhantes depois da regulamentação da categoria, que já tem até um grupo de representação nacional, a Andip (Associação Nacional dos Detetives e Investigadores Privados do Brasil), criada em 2013.

O corpo docente é composto por policiais aposentados, especialistas dos segmentos de tecnologia e direito, entre outras. “Acredito que a atenção a esta área tende a crescer cada vez mais”, diz Bernardi.

Trilhas profissionais

Cristiane Alves Domingues é detetive desde criancinha. Aos 12 anos, começou a ajudar a mãe, que tinha uma empresa na área. A curitibana saía muito a pé com o irmão para ajudar a investigar casos extraconjugais. Quando cresceu, depois de passar por várias profissões e até abrir uma pizzaria, resolveu voltar para a agência e não deixou mais o trabalho. Hoje, aos 40 anos, tem dez de formada pela Central Única de Detetives. Ela conta que sempre que alguém pergunta o que ela faz, responde baixinho que é detetive. “As pessoas se surpreendem, dizem ‘fale mais alto’ e ficam curiosas”.

Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

É fácil entender a discrição. Cristiane não pode ser reconhecida seguindo pessoas ou entrando e saindo várias vezes do mesmo lugar, porque, além de correr o risco de pôr toda a investigação a perder, também pode sofrer represálias. Mesmo discreta, é comum, por exemplo, que ela seja denunciada por vizinhos de investigados que estranham sua presença. Quando a polícia é chamada ou a pessoa seguida desconfia de algo, as coisas ficam bem difíceis.

Apesar do glamour dos detetives dos livros e dos filmes que solucionam crimes e são verdadeiros braços direitos da polícia, problemas familiares, como traição conjugal ou sumiço de filhos, sempre foram a demanda mais comum nas agências, diz Cristiane. A rotina chega a ser exaustiva, envolve uma densa pesquisa, domínio de tecnologias de rastreio e muita paciência. O mais difícil é ficar sem comer e dormir fazendo campana na porta dos lugares onde é preciso esperar os investigados.

E vale a pena? Para Cristiane, sim. O trabalho é cobrado em pacotes de diárias. Cinco dias de busca custam por volta de R$ 2,5 mil. Além disso, a adrenalina e a sensação de dever cumprido são pontos que ela valoriza. “É ótimo, por exemplo, flagrar uma traição, fazer as fotos, encontrar a verdade. Mas ao mesmo tempo é triste. Uma das coisas mais tristes do nosso dia a dia”, conta.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]