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Mais de cinquenta vagões trafegam pelos trilhos no jardim de uma casa em Almirante Tamandaré. | Marco Charneski/Tribuna do Parana
Mais de cinquenta vagões trafegam pelos trilhos no jardim de uma casa em Almirante Tamandaré.| Foto: Marco Charneski/Tribuna do Parana

Quando ouvia lá longe o apito do trem, o piá André Puttkamer saía correndo à toda para a cozinha da casa da mãe. Da janela do cômodo, esperava a máquina passar. Quando ela aparecia, era encanto puro ver o desfile pela ferrovia que margeia Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba.

Com tamanha paixão, queria ter o próprio trem, mesmo que em miniatura. As condições financeiras da família, porém, o fizeram ser criativo. Com raios de bicicleta e alguns dormentes de madeira que caçava pelas redondezas, construiu sua própria ferrovia. Mas faltavam os trens. Isso ele resolveu com latinhas de talco. Grudava uma atrás da outra e com as próprias mãos fazia as locomotivas vencerem a inércia.

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Nem mesmo ele conseguiria imaginar que muitos anos mais tarde aquela brincadeira se tornaria algo sério. No quintal da casa de madeira, ele mostra com empolgação o que construiu em dois anos e meio: um jardim de 24 metros quadrados com direito a lago e peixes, vegetação sob medida, uma pedra de uma tonelada, pequenas casas, e uma ferrovia forjada sobre pontes e curvas precisas. Acima disso tudo, locomotivas e vagões passeiam calmamente.

“Eu estava no portão de casa sentado com a minha esposa Jenifer e a ideia era construir um jardim. Começamos pelo cantinho e foi aumentando, aumentando. Depois escavei o lago, coloquei a lona e enchi de água. Comecei a assentar a primeira barra de trilho e aí não parou mais”, lembra Puttkamer.

Foi um período intenso para o operador de guindaste de 36 anos. A construção da ferrovia lhe custou dias e noites. Chegou a pular muitas refeições e horas de sono. Mas do resultado, mesmo que ainda longe do que imagina, ele se orgulha. Não à toa que ao olhar para o projeto pessoal, sorri como uma criança.

André Puttkamer não poupa tempo com a manutenção dos trilhos e das composições.Marco Charneski/Tribuna do Parana

Dedicação plena

De personalidade inquieta, curioso pela ciência e com a cabeça cheia de ideias, ele tem em seu trem de jardim um porto de tranquilidade. Ali ele deixa o mundo de lado e se concentra totalmente, o que não consegue fazer com outras atividades, inclusive no trabalho, onde fechou um acordo com a empresa que o registrou para receber por produção. Ele não gosta de tédio, da mesmice. Trabalha apenas quando sente a necessidade.

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Isso dá mais tempo para se dedicar ao trem de jardim, um hobby que remonta ao século 19, mas que se disseminou pelo mundo a partir dos anos 1930, também conhecido como garden trains. Mesmo assim é raro ver, especialmente no quintal de casa. Tanto que Puttkamer já cansou de receber visitas de outras cidades, curiosos em ver o que vem construindo no jardim. Na época de aulas, estudantes que passam pela rua sobem no muro para apreciar o movimento do trem.

André Puttkamer já gastou dois anos e meio na construção da ferrovia particular.Marco Charneski/Tribuna do Parana

Pelos trilhos do jardim rodam mais de 50 vagões. A composição fica ao gosto do dono, mas as locomotivas e vagões que transportam carga são as preferidas, réplicas daqueles que atravessam Curitiba e região todos os dias. Ele até tem os carros de passageiros, mas em geral estão parados junto com a locomotiva de carvão. Eles só tomam o trilho a pedidos, de preferência empurrando uma miniatura do DeLorean para reproduzir uma cena clássica do filme De Volta Para o Futuro.

O cuidado dele com seu trem de jardim é constante. É quase o mesmo esmero que dedica aos dois filhos e à esposa. Junto ao trem não faltam ferramentas. É tesoura, estilete, pincel, alicates, cola, um pouco de tudo. “A manutenção é uma parte crucial. Tudo precisa estar limpo para não acumular sujeira, poeira, oxidação. Fica tudo ao ar livre, então preciso tomar todos os cuidados”, explica.

“Ninguém segura o progresso”

Em breve ele vai usar ferramentas mais pesadas para ampliar o jardim. Azar da sala, que vai abaixo. Uma parte dela, aliás, já foi tomada pelo pátio de manobras. O empreendimento vai avançar por pelo menos cinco metros de casa. “Ninguém segura o progresso”, brinca Puttkamer, que agradece todos os dias pela compreensão da esposa Jenifer. “Encontrei a mulher da minha vida, porque para aceitar derrubar a casa, não vou achar igual”, comemora.

As composições de transporte de carga são as preferidas do operador de guindaste.Marco Charneski/Tribuna do Parana

Essa brincadeira de adulto também pesa no bolso. Cada vagão custa, em média, R$ 50. As locomotivas ultrapassam os R$ 300. Sem contar as dezenas de metros de trilho e toda a parte elétrica necessária para fazer o trem se locomover. O próximo investimento é um controle de velocidade e direção mais potente para substituir o dispositivo atual, que tem até um miniventilador acoplado para dar conta de tantos vagões.

Depois de casa derrubada e jardim ampliado, Puttkamer já tem bem planejado o próximo passo. “Eu penso numa chácara com um lago, uma ponte enorme passando por cima. Um traçado bem definido, uma paisagem com a grama bem verdinha, a ferrovia no fundo, uma casinha de chalé e, quem sabe, umas vaquinhas lá no fundo”, imagina.

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