Gruta do Monge: patrimônio histórico e religioso no Paraná.| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Patrimônio histórico e arqueológico do Paraná, o Parque Estadual do Monge, no município da Lapa, é um passeio impressionante que fica a apenas 80 km do Centro de Curitiba. A beleza natural do parque – em especial da famosa Gruta do Monge - e o valor cultural e religioso de sua história tornam imperdível a visita à unidade de conservação estadual.

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O parque, porém, não tem infraestrutura à altura de sua importância, sofre com uma sequência de erros de gestão nas últimas duas décadas e enfrenta um impasse em relação a seu uso futuro.

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“Costumo dizer que o nosso é o único parque semiaberto do Brasil”, disse Márcio Mattar Assad, coordenador de comunicação e eventos do município da Lapa.

| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

A observação faz sentido quando se visita o espaço. O parque é gerido pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) - antes do portal de entrada há um escritório da entidade. A estrutura do portão para dentro, no entanto, é mínima. Existe apenas uma placa sobre o processo de formação geológica dos arenitos que formam o território no 2º planalto paranaense há milhões de anos.

Não há sinalização da rota para chegar à Gruta do Monge ou na fonte de água ,a qual os devotos do Monge atribuem qualidades terapêuticas.  Não há placas com textos explicativos sobre a história do parque.

As construções que serviriam de lanchonetes ou postos turísticos estão abandonadas e os banheiros deteriorados. Também não há guias ou prospectos turísticos.

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Assad explica que os problemas começaram quando surgiu a ideia de revitalizar o parque, ainda na década de 1990, e chegaram ao limite quando obras as foram contratadas a uma empreiteira no final da década passada.

“O projeto foi feito sem nenhuma preocupação de qualidade. Houve todo tipo de erro, uma violência ambiental muito grande na retirada das madeiras exóticas. As construções nunca funcionaram e as obras - que deveriam durar menos de um ano - nunca foram concluídas”, disse Assad.

Após o descumprimento dos prazos pela empreiteira contratada, o governo do estado conseguiu o cancelamento judicial da licitação, orçada em mais de R$ 2 milhões.

Reabertura informal

Há seis anos, a prefeitura da Lapa decidiu reabrir informalmente o parque para visitação.

Atualmente o fluxo de turistas é muito pequeno em comparação ao auge do movimento de visitação na década de 1980, quando era comum 50 ônibus estacionarem no parque durante o fim de semana.

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| Foto: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Mesmo com a falta de estrutura, é possível desfrutar dos mirantes de onde se avistam o centro da Lapa e o interior do município de um lado, e Curitiba e a Serra do Mar de outro.

Uma escada leva ao início da trilha da gruta onde muitos fiéis deixem seus ex-votos em agradecimento a graças que teriam recebido do monge João Maria.

Fotos: Jonathan Campos / Gazeta do Povo

Uma trilha, cuja maior parte é uma passarela de metal, leva à Gruta propriamente dita: uma série de cavernas de arenitos que o religioso João Maria usava para descansar e meditar.

Um local de beleza impressionante onde pode apreciar várias espécies de fauna e flora nativa.

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Quem foi o monge que dá nome ao parque?

O monge João Maria, na verdade, era um frade beneditino italiano chamado Giovanni D’Agostini, que peregrinou pelo Brasil em meados do século 19.

Segundo o professor de história da Universidade Federal de Santa Catarina, Paulo Pinheiro Machado, na cidade da Lapa (PR), o monge provavelmente ficou abrigado na gruta no ano de 1847.

Assim como já acontecera nos locais por onde tinha passado, o carisma do Monge reuniu em torno de si uma pequena multidão de lapeanos e moradores de cidades próximas que recorriam ao "monte santo" para casar, batizar rebentos recém-nascidos, curar doenças ou simplesmente pedir uma bênção.

D’Agostini foi embora do país da mesma forma misteriosa com que chegou. "O monge terminou seus dias nos Estados Unidos, em 1869. O túmulo dele ainda existe, no estado do Novo México", disse Machado em entrevista à Gazeta.

A lenda e a devoção ao monge foi tão grande no Paraná que nos anos seguintes ao seu desaparecimento, outros dois líderes religiosos usaram seu nome e também tiveram seguidores.

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O descaso com o parque esfriou o turismo religioso na Lapa e prejudicou uma das vocações do município, que é uma espécie de museu a céu aberto da história do Paraná.

Futuro do Parque do Monge

No momento, contudo, o futuro do Parque do Monge se divide em dois caminhos possíveis: a privatização ou a municipalização.

No mês de setembro, a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo anunciou um novo modelo de gestão para os 64 parques estaduais e demais unidades de conservação do Paraná.

O governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) sancionou o projeto de lei que autoriza o governo do Paraná a conceder a exploração de uso, total ou parcial, de áreas comuns dos parques. O primeiro parque a passar pelo edital do processo de concessão é o Parque Estadual de Vila Velha. Durante a cerimônia de apresentação da política pública, o governador citou o Parque Estadual do Monge como provável segundo colocado na fila de privatizações.

De acordo com o projeto de lei, seriam concedidas as áreas de venda de ingressos; controle e cobrança de estacionamento; transporte interno; alimentação; gestão do Centro de Visitantes e de Loja de Conveniência; monitoramento do uso público nas trilhas e nos atrativos; e segurança patrimonial.

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Segundo Assad, o município vê com bons olhos a privatização desde que os critérios legais sejam seguidos e que se respeite também a história cultural do espaço.

“Uma terceirização com obrigações de fazer e não fazer que leve em conta a história deste lugar sagrado pode ser uma boa solução desde que o interessado entenda a real vocação do parque”, disse.

Ele disse, porém, que caso não haja empresas interessadas na concessão, a prefeitura da Lapa já tem pronto um projeto de municipalização do parque.

“O município tem interesse em absorver a gestão do parque. São anos de desrespeito e prejuízo. Uma gestão municipal vai saber olhar com o coração a questão para devolver este patrimônio aos lapeanos”, disse.