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Negócios e família: as razões de quem ainda encara um avião em meio à pandemia
| Foto: Albari Rosa/Arquivo/Gazeta do Povo

O Aeroporto Internacional Afonso Pena, em São José dos Pinhais, que no início de março – antes do registro dos primeiros casos da Covid-19 no Paraná - chegou a ter 195 pousos e decolagens programados para um dia, registrou na primeira segunda-feira de maio (4) um total de 11 voos comerciais.

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Segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), que administra o terminal, a média em maio tem sido ainda menor do que a registrada no dia 4: apenas sete voos chegam da capital ou partem dela a cada dia, uma movimentação que representa pouco mais de 5% do que o que ocorria antes do coronavírus chegar ao Brasil.

Os trechos operados atualmente chegam apenas de São Paulo, vindos de Campinas ou Guarulhos, e de volta a esses aeroportos. De lá é que é possível seguir para outros destinos.

Apesar da drástica redução nas operações, o principal terminal do Paraná continua funcionando, e tem, inclusive, atendido a demanda de outros aeroportos próximos que diminuíram ainda mais os trabalhos. Negócios inadiáveis em locais distantes levam à procura por serviços aéreos, mas as urgências da vida pessoal parecem ser ainda as principais razões que levam à escolha por uma viagem de avião.

A autônoma Adma Aranha mora em Joinville, mas precisou pousar em Curitiba para então seguir viagem, de carro, para casa. Em Brasília há cerca de um mês, para resolver assuntos pessoais, ela chegou à capital paranaense depois de uma conexão em Campinas, no estado de São Paulo.

O voo dela era o único programado para chegar naquela tarde em Curitiba e, segundo a autônoma, veio com todos os assentos ocupados. “O avião estava cheio, mas pelo menos todos estavam com máscaras”, conta. Adma diz que ficou apreensiva em viajar em meio à pandemia. Tanto que, ao pousar, ela usou o banheiro do aeroporto para trocar toda a roupa antes de cumprimentar o filho e o ex-marido, que vieram buscá-la. “Todo cuidado é pouco nesse momento, mas não tinha como vir de Brasília de outra forma”.

Com a oferta muito menor por parte das companhias, conseguir uma passagem por preços acessíveis não é tarefa fácil. A pediatra Rita Lamellas, que aguardava a chegada do filho Matheus, de 19 anos, conta que pagou cerca de R$ 1.500 no trecho de Brasília a Curitiba, com conexão em Campinas.

“Quase caí pra trás na hora de pagar a conta, mas não vejo meu filho desde janeiro e decidi arcar com o prejuízo. A saudade falou mais alto”, conta Rita. O rapaz, que estuda em Brasília, teve as aulas suspensas por conta da pandemia e, por isso, deverá passar pelo menos 15 dias com a família em Curitiba.

Além do preço mais salgado, a disponibilidade de assentos também é outro complicador: Rita conta que no início das pesquisas para encontrar a passagem do filho, só encontrou voos com mais de 20 horas de espera em Campinas antes de embarcar para a capital paranaense. “Eu quase desisti da viagem. Mesmo dando todas as orientações para que ele se protegesse, não ia deixar meu filho tanto tempo exposto ao vírus. A sorte é que uns dias depois refiz a pesquisa e apareceu essa nova opção, que levava poucas horas até chegar aqui”, explica.

A compra com muita antecedência parece não estar sendo a melhor opção atualmente. O empresário Rodrigo Cesar, que também é de Joinville, viajou de carro para Curitiba para buscar a namorada, que mora em São Paulo. Para o casal, que adquiriu a passagem no mesmo dia pela manhã, a exposição ao vírus por poucas horas nos aeroportos e aeronaves compensa o trajeto que seria muito demorado se fosse feito de carro.

“Sempre moramos em cidades diferentes, então monitoramos com frequência as melhores opções para viajar. Eu vou muito para lá a negócios, mas era vez dela vir. Quase optamos pela viagem de carro, mas em cima da hora conseguimos encontrar uma opção que pareceu mais vantajosa do que as horas na estrada, então optamos pelo que é mais prático”, afirma o empresário.

Cancelamentos e remarcação de passagens

Os dados mais recentes da Infraero compilados por mês são os referentes a março. À época, os casos de Covid-19 no Brasil e no Paraná ainda começavam a aparecer, e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) não determinou nenhuma redução obrigatória no número de voos até o dia 28 de março.

Os dados de março demonstram que o Afonso Pena contabilizou 318.373 passageiros. Se comparado ao mesmo período de 2019, quando foi registrada a movimentação de 548.653 pessoas, a redução é 41,97%. Já a movimentação de aeronaves teve queda de 27,86% na comparação entre março de 2019 e 2020: foram 3.941 pousos e decolagens neste ano e 5.463 no ano passado.

Mesmo sem uma determinação para o cancelamento de voos até o dia 28, com medo do contágio, muitos passageiros desistiram de viagens marcadas. No dia 20 de março, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado entre a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) e Ministério Público Federal (MPF), permitiu que os consumidores que tivessem adquirido bilhetes até aquela data, pudessem cancelar ou remarcar as viagens sem custos. As medidas valem para as principais companhias que operam no território nacional: Latam, Gol, Azul e Passaredo.

Segundo o acordo, o passageiro que tiver adquirido passagem até a data de assinatura do TAC e possuir bilhete de voo operado entre 1º de março e 30 de junho de 2020 poderá remarcar a sua viagem nacional ou internacional por uma única vez, sem qualquer custo, respeitada a mesma origem e destino.

Os passageiros também podem cancelar os trechos. Pelo acordo, as passagens adquiridas até a data de assinatura do TAC para voo nacional ou internacional entre 1º de março e 30 de junho de 2020 poderão ser canceladas pelo passageiro sem custo adicional. O valor pago será mantido como crédito válido pelo período de um ano, a contar da data do voo.

O empresário Vinícius Remor, que vive na ponte aérea entre Curitiba e Los Angeles, nos Estados Unidos, é uma das pessoas que decidiu postergar a viagem. Ele estava em Curitiba com a família e voltaria aos EUA no dia 12 de março, um dia após a Organização Mundial da Saúde declarar a pandemia de coronavírus.

O bilhete foi cancelado pela companhia aérea, e remarcado para o dia 20 de março. Com as notícias do avanço da doença no Brasil e nos EUA, o empresário preferiu entrar em contato com a empresa aérea e adiar a viagem para abril. “Ainda não é a época ideal pra viajar, mas chegou num ponto que não posso mais adiar os negócios por lá”, afirma o empresário.

O trecho de Curitiba a Campinas seria seguido de mais de cinco horas de espera pelo voo até os Estados Unidos e, por isso, Vinícius se preparou. “Além da máscara que estou usando, tenho outras quatro na mochila, para ir trocando. Também trouxe álcool em gel e vou tentar me cuidar. O que preocupa mais é o tempo no aeroporto, porque sei que as aeronaves estão sendo higienizadas e acho que os filtros de ar do avião são mais confiáveis do que o ar condicionado dos aeroportos”, diz.

As lojas do aeroporto Afonso Pena estão fechadas em decorrência da pandemia, sendo que, além da companhia aérea que opera voos naquele horário, somente serviços públicos e essenciais permanecem funcionando no local. As polícias civil e federal, autoridades de vigilância sanitária e da Receita Federal continuam circulando, todos de máscara. Quiosques de informação e aluguel de carros, por exemplo, continuam abertos. O número de táxis disponíveis é muito menor do que em dias normais.

Em nota, a Infraero afirma que o Afonso Pena segue operando na prestação de serviço aeroportuário, conforme as normas do setor, e considerando a importância do segmento para o transporte, por exemplo, de órgãos para transplante, equipes médicas, além da movimentação de mercadorias e equipamentos médicos e voos de aviação geral.

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