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Resgate de boi em Brumadinho levou cerca de 24 horas na quarta-feira (30) | ONG Força Animal/
Resgate de boi em Brumadinho levou cerca de 24 horas na quarta-feira (30)| Foto: ONG Força Animal/

Animais atropelados, cães e gatos vítimas de armas de fogo ou de maus-tratos em canis clandestinos. Lidar com essas e outras situações gravíssimas é parte da rotina dos integrantes da ONG de Curitiba Força Animal, mas, mesmo com essa bagagem, a equipe jamais esperaria trabalhar em um contexto tão grave quanto o que demandou os voluntários na última semana: o soterramento de centenas de animais na tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais. Foram cinco os voluntários da ONG que se deslocaram à região, há quase uma semana, para dar o seu melhor no resgate do que está estimado em cerca de 500 bois, além de dezenas de cães, gatos, passarinhos e outros animais.

Liderados por Danielly Salvi, presidente da ONG, o grupo de curitibanos chegou ao local um dia após o rompimento da barragem I da Mina Córrego do Feijão, dispostos até mesmo a passar a noite no carro, caso não conseguissem algum local para dormir. “Colocamos nossas coisas no carro, pegamos a maior parte do estoque de medicamentos e pastas alimentícias da ONG, fizemos uma vaquinha para arrecadar o dinheiro da gasolina, não pensamos duas vezes e fomos”, narra Danielly. Até então, o grupo formado em suma por médicos veterinários não sabia exatamente o que iria encontrar, mas foram se comunicando com o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) da região, além de protetores animais locais que já os conheciam — um dos quais abriu sua casa para que os voluntários pudessem dormir.

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Foi após passar algum tempo analisando a área da tragédia que os cinco se deram conta de que, para os animais, a situação era ainda pior do que na tragédia de Mariana, onde, em 2016, a barragem do Fundão se rompeu, causando também uma avalanche de lama. “Eu trabalhei com resgates de animais em Mariana também. Mas lá, a lama se espalhou e em alguns trechos tinha altura máxima de um metro. Aqui, há extensões onde a lama tem cerca de 30 metros de profundidade”, lamenta a presidente, explicando que nesses pontos nem mesmo os bombeiros conseguem atuar.

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A partir da percepção da dimensão do desastre, o grupo demorou até conseguir de fato começar a remover os animais sobreviventes. O motivo era a necessidade de mapeamento da região, que teve de ser feito em parceria com a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros. Assim eles saberiam exatamente em que áreas procurar, já que, dentre o que ficou submerso, há desde fazendas de criação de gado até partes residenciais. Assim, a equipe conseguiu ir a campo de fato apenas na última quarta-feira (30).

Para efetuar os resgates, o Corpo de Bombeiros precisa estar presente, caso contrário também não seria possível. Uma operação para retirar um boi da lama, por exemplo, pode levar dezenas de horas — como ocorreu na quarta-feira, quando a retirada de um bovino levou 24 horas. Segundo ela, todos os esforços fazem lembrar uma operação de guerra, pois é necessário cordas, pás para cavar a lama, pontos em que a equipe possa se apoiar, entre outros.

Fora as dificuldades estruturais, há toda a dificuldade psicológica de lidar de perto com a vida e a morte. “ É muito pesado. Mas ver o quanto as pessoas têm esperança de encontrar seus familiares e animais de estimação é o que nos move. Ajudamos os animais porque é o que gostaríamos que alguém fizesse por nós”. Também não é fácil, garante ela, ver o desespero nos olhos dos animais que estão sendo salvos: “Dá para ver que eles estão vivos por um fio, e que se agarram na nossa presença para continuar resistindo”.

Em meio aos salvamentos, também existem algumas vezes em que a única solução é fazer a eutanásia. “Optamos por sacrificar o animal apenas quando o estado de saúde dele já é muito debilitado, e as chances de sobreviver são mínimas”, conta Danielly. Segundo ela, há muitas situações assim, pois a força da lama foi tão intensa que chegou a arrancar os membros dos animais, que sob o calor de cerca de 35ºC, estão em sua maioria muito desidratados e já desenvolvem bicheiras nos locais dos amputamentos.

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Os cinco integrantes de Curitiba pretendem permanecer ao menos mais 10 dias na região. Para isso, eles todos têm R$ 2,5 mil em caixa, que deve ser usado para gasolina, alimentação e qualquer outra despesa. O valor é exatamente a metade do que conseguiram arrecadar antes de viajar. Nesse período, estarão deixando de lado os respectivos trabalhos como veterinários em clínicas da capital.

Apesar da presença da tristeza que assola, o que mais marca a todos, é a solidariedade dos moradores de Brumadinho com todos que trabalham nos resgates. “É incrível ver como as pessoas conseguem ser solícitas diante dessa situação tão triste. Nos dão comida, conversam conosco a todo momento com gentileza”, conta Danielly.

Recuperação e adoção

Desde o início dos trabalhos, os voluntários, os bombeiros e a Defesa Civil conseguiram resgatar 57 animais, segundo registros até o fim do dia de quinta-feira (31). Destes, são 27 cachorros, um gato, dois bovinos, 14 pássaros, um cágado, dois patos, dois galos e oito galinhas. Em breve, os veterinários afirmam que será feito um banco de imagens para tentar localizar os donos de todos eles.

A população também procura os voluntários para buscar seus animais de estimação que se perderam em meio à tragédia. Até o fim da tarde desta sexta-feira (1), nenhum dono havia encontrado seu animal, mas mesmo que isso tivesse acontecido, até os bichos saudáveis ainda precisam ficar sob observação, em quarentena para evitar possíveis contaminações. Todo esse cuidado está sendo feito em uma fazenda da região, para onde os animais são levados após receberem os primeiros socorros. Na propriedade, foi improvisado um hospital veterinário.

Mesmo com a iminência da necessidade de adoção de vários dos animais que chegam após o resgate, isso não poderá ser feito por quem mora em Curitiba, por exemplo. Não será possível, aliás, tirá-los da região em nenhuma hipótese. O motivo é a possibilidade de contaminação que a mudança de área pode provocar, especialmente porque a região de Brumadinho costuma registrar surtos de Leishmaniose entre os bichos, que é uma doença que não está presente nos animais de outros estados, explica a presidente da ONG.

Como ajudar

Para que os cinco voluntários pudessem atuar em Brumadinho, boa parte dos materiais e recursos usados na sede da ONG em Curitiba foram utilizados. Com isso, os cerca de 300 animais que vivem na fazenda da organização estão abastecidos para apenas mais uma semana. “Nós trouxemos boa parte do estoque para Minas, então precisamos muito de doações. Quem contribuir estará ajudando Brumadinho também, permitindo que a gente passe mais tempo por aqui”, esclarece Danielly. A presidente explica que a ONG não recebe ajuda governamental, e que todo o trabalho desenvolvido é 100% voluntário.

São aceitos todos os tipos de contribuição, seja com rações ou dinheiro, que pode ser depositado na conta da Ong, ou com trabalho voluntário, que pode ser agendado por meio dos contatos da organização. Todos os gastos da Força Animal são descritos em prestações de contas no site do grupo.

Ong Grupo Força Animal

Site: www.grupoforcaanimal.wix.com/grupoforcaanimal

Página no Facebook: www.facebook.com/grupoforcaanimal/

Contas para depósito:

Itaú | AG 0273 | CC 93204-6 | CPF 047733259-50 | NOME Danielly Christina Savi

Caixa Econômica | AG 0375 | OP 013 | CC 001300247 | CPF 047733259-50 | NOME Danielly Christina Savi

Banco do Brasil | AG 1432-X | CC 26881-X | NOME Débora E Venâncio

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