• Carregando...
 | Marcos Santos/USP Imagens
| Foto: Marcos Santos/USP Imagens

A esperança de que a economia brasileira poderia “entrar nos eixos” em 2016 ficou para trás. A sucessão de más notícias no segundo semestre – como os dois rebaixamentos da nota brasileira, o aumento do desemprego e a inflação em dois dígitos – disseminou ainda mais um pessimismo que atinge analistas de mercado, empresários e consumidores.

A trajetória das projeções de economistas reunidas ao longo do ano pelo Banco Central em seus relatórios semanais ilustra bem a deterioração das expectativas para 2016. Em janeiro, os analistas ouvidos pelo órgão monetário chegavam a prever um crescimento do PIB de 1,50% no ano que vem, assim como uma inflação de 5,60%, ainda dentro do teto da meta. No último boletim, do dia 18 de dezembro, as previsões eram bem diferentes: retração no PIB de 2,80% e inflação beirando os 7% (veja infográfico).

A percepção de analistas ouvidos pela Gazeta é de que 2016 será um “ano perdido” e que possíveis ajustes e correções só devem ser sentidos a partir de 2017. “É muito difícil reverter todo esse pessimismo. Há um mercado muito reativo, com empresários com baixa disposição para investimento e consumidores sentindo o impacto do aumento do desemprego. Para 2016 não há reversão desse processo. Mesmo em 2017 e 2018 não esperamos uma grande melhoria de cenário, mas, ao menos, uma estabilização”, afirma o economista da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto.

Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV) Marcel Grillo Balassiano, a crise política, com a possibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff, torna o cenário econômico para o ano que vem ainda mais nebuloso. “Na melhor das hipóteses, 2017 pode ter alguma melhora, mas nem isso podemos afirmar, porque o quadro é de muita incerteza”, resume.

Veja quais serão as principais “heranças” na economia para 2016 e como devem se comportar os principais indicadores que norteiam as políticas do governo e a rotina dos brasileiros.

Evolução do PIB

Os índices exatos variam, mas a certeza é uma só: assim como em 2015, o Brasil vai voltar a amargar uma retração no Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2016. No seu último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado no dia 23 de dezembro, o Banco Central reviu suas estimativas e apontou que a economia brasileira deve encolher 1,9%, enquanto economistas ouvidas pelo Banco falam em 2,8%. O pesquisador do Ibre-FGV Marcel Grillo Balassiano lembra que a última vez que o país registrou dois anos seguidos de retração no PIB foi no início da década de 1930 – o que dá a dimensão da crise atual na história do país. “Estamos prevendo uma queda de 3,6% no PIB em 2015 e 3% em 2016. Como em 2014 o PIB cresceu só 0,1%, são três anos de estagnação e crescimento negativo. Se 2015 foi difícil, 2016 será a mesma coisa”, reforça Balassiano.

Desemprego

Depois de atingir 8,9% no terceiro trimestre, a taxa de desemprego medida pela Pnad Contínua, do IBGE, deve seguir subindo e chegar aos dois dígitos no início de 2016 – há quem diga que o número pode ser atingido ainda em 2015, no levantamento do 4º trimestre. O aumento do desemprego causa um efeito dominó, que afeta desde os trabalhadores até as contas públicas do governo. Estudo da FGV mostra que a queda contínua da arrecadação do governo federal – que chegou a 17% em novembro, na comparação com o mesmo mês de 2014 – tem entre seus maiores motivadores o corte de vagas formais de trabalho, que afeta, por exemplo, as receitas com a contribuição previdenciária. Por outro lado, destaca o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o aumento do desemprego acaba aliviando um pouco a inflação, principalmente do setor de serviços, já que os salários tendem a baixar.

Contas públicas

Os analistas ouvidos pela Gazeta do Povo concordam que o descontrole das contas do governo, com a dívida pública em crescimento constante e as tentativas de ajuste fiscal mais expressivas batendo na trave, é o “calcanhar de Aquiles” da atual administração para 2016. Assim que assumiu, o novo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, fez questão de reforçar a investidores que o aperto fiscal continuará sendo o foco da política econômica, mas o mercado ainda não se convenceu. Para o economista da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto, um novo e terceiro rebaixamento da nota de crédito do país, dessa vez pela Moody’s, deve vir “muito em breve”. “Tudo parte desse problema fiscal que é gravíssimo e para o qual não conseguimos vislumbrar nenhum tipo de equacionamento. Caímos num impasse, em uma situação em que não se aceita mais aumento de impostos mas em que também não há corte de gastos”, diz.

Inflação

Às vésperas do fim do ano, o Banco Central ajustou para cima no Relatório Trimestral de Inflação suas expectativas para o IPCA de 2016, para 6,2%, contra 5,3% anteriormente, se alinhando às estimativas do mercado, que giram em torno de 6,9%. A taxa vai terminar este ano acima de 10%, mas deve desacelerar ao longo do ano que vem e chegar a 4,8%, próximo ao centro da meta, só em 2017 – cenário reconhecido pelo BC e que fortalece a possibilidade de um novo aumento de juros já no início de 2016. Desde julho, a taxa Selic segue em 14,25% ao ano, maior patamar em nove anos. “Entendemos que ao longo de 2016 será conseguido uma redução da inflação, mas ainda assim com o IPCA estourando o teto da meta, em 7%. O que torna necessário, então, mais aumento de juros”, avalia o o economista da Tendências Consultoria Integrada Silvio Campos Neto.

Confiança

Em um ambiente de crise política, deterioração das contas públicas e com a economia andando para trás, um dos maiores desafios do governo federal no ano que vem será retomar a confiança de consumidores e empresários, para que, de um lado, as empresas sigam investindo e mantenham empregos, e do outro, as famílias tirem um pouco o pé do freio do consumo. Será difícil. Pesquisa da Fiep com o Sebrae divulgada em dezembro apontou que os industriais paranaenses estão com a expectativa “extremamente baixa” para 2016 – o indicador favorável, de apenas 32,89%, ficou abaixo dos 50% pela primeira vez na história da pesquisa. “Não resta dúvida que a situação é muito delicada e demorará ainda a melhorar. O fator determinante, e o que faz com a dificuldade seja ainda maior, é a confiança que já não existe mais. Sem confiança, não existe investimento, não existe contratação, não existe consumo”, destaca o sócio-fundador da Toro Investimentos, André Chede.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]